Todos os anos, o mesmo debate ressurge: devemos manter a prática da mudança de hora ou não? Donald Trump parece ter uma posição clara e está decidido a eliminar a alteração horária nos Estados Unidos, que considera “inconveniente e dispendiosa”.
O hábito de adiantar os relógios na primavera e atrasá-los no outono foi adotado durante a Segunda Guerra Mundial com o intuito de economizar energia. No entanto, o presidente dos EUA discorda dessa filosofia.
“O Partido Republicano fará todos os esforços para abolir o horário de verão, — que um pequeno grupo de eleitores, mas forte, quer manter; no entanto, não deveriam”, escreveu Trump nas redes sociais a 13 d dezembro, antes da tomada de posse que ocorreu a 20 de janeiro. “O horário de verão é inconveniente e muito caro para o nosso País”, justificou, para sustentar a medida que quer implementar.
Nos Estados Unidos, a discussão sobre este tema já se arrasta há vários anos. Muitos agricultores argumentam que a alteração bianual traz inconvenientes à sua produção. Além disso, o argumento relativo à conservação de energia parece ter perdido relevância, uma vez que estudos realizados pelo Serviço de Investigação do Congresso dos Estados Unidos demonstram que a poupança é mínima e pouco significativa.
Uma sondagem realizada pela YouGov em março de 2023 revelou que 62 por cento dos americanos desejam pôr fim à prática da mudança de hora, citando os acidentes rodoviários e problemas de saúde, como AVC e enfartes, que ocorrem nos dias em que se ajustam os relógios, como motivos para tal.
Se a proposta de Trump for aprovada, só deverá entrar em vigor no próximo ano. Assim, em 2025, os residentes nos EUA irão adiantar os relógios a 9 de março e atrasá-los a 2 de novembro. Em Portugal e no resto da Europa, a mudança de hora será repetida a 30 de março e a 26 de outubro.
Como tudo começou
Esta mudança tem feito parte das rotinas de vários países, um pouco por todo o mundo há mais de 100 anos. Segundo um estudo conduzido pela Assembleia da União Europeia em outubro de 2017, a ideia inicial partiu de um construtor britânico chamado William Willett, que em 1907 escreveu um panfleto chamado “O Desperdício da Luz do Dia”.
A prática em si só foi adotada pela Alemanha em 1916, e outros países europeus, bem como os Estados Unidos, seguiram o exemplo para poupar energia tendo em conta a crise energética que atravessavam durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918).
Atualmente, existem três fusos horários na UE: Hora da Europa Ocidental, que inclui o Reino Unido, Portugal e Irlanda; Hora da Europa Central, que inclui Espanha, Alemanha e Itália; e Hora da Europa Oriental, que inclui Grécia, Finlândia e Roménia.
Segundo os jornais espanhóis, há um debate sobre se Espanha está no fuso horário devido. Durante a Segunda Guerra Mundial, os espanhóis e outros países europeus, com exceção de Portugal e Suíça, avançaram os relógios. Mas Espanha nunca voltou ao tempo da Europa Ocidental. Assim, embora geograficamente devesse estar no mesmo fuso horário do Reino Unido e Portugal, os seus relógios estão na mesma zona dos países de leste.
A alteração da prática da mudança, coordenada pela União Europeia desde 1996, começou a ser discutida no Parlamento Europeu no início de fevereiro de 2018. Meses depois, em agosto, surgiram os resultados oficiais do tal inquérito da Comissão Europeia, onde se votava a favor do fim da mudança.
Países como a Rússia, a Turquia e a Islândia já aboliram a prática. Em Portugal, a mudança da hora foi adotada pela primeira vez a 30 de abril de 1916, em plena Primeira Guerra Mundial, com objetivo de minimizar o uso de iluminação artificial, e assim contribuir para economizar combustível para o esforço de guerra.
Os argumentos a favor e contra a mudança da hora são variados, mas muitos estudos analisam a poupança de energia com este regime. Outros dizem mesmo que a alteração pode ter efeitos na saúde ou no sistema imunológico. Argumentos mais recentes, sobretudo a favor do horário de verão permanente, são a de que mais luz ao fim do dia, durante todo o ano, se a hora de inverno não chegar, incentiva o ato de estar ao ar livre e até o comércio.