Viagens

Embarcaram num iate verde para os Açores. Foram encontrados no “cemitério do Atlântico”

A missão “odisseia ecológica” terminou de forma trágica. Os corpos de Sarah Packwood e Brett Clibbery foram descobertos a 12 de julho.
O casal.

Sarah Packwood, de 54 anos, e Brett Clibbery, de 70, tinham um sonho: atravessar o Oceano Atlântico sem utilizar combustíveis fósseis, num iate alimentado por uma bateria de carro elétrico e seis painéis solares. A missão, apelidada pelo casal de “odisseia verde”, terminou de forma trágica.

Os corpos de Sarah e Brett foram encontrados num bote salva-vidas no passado dia 12 de julho, cerca de seis semanas após terem sido vistos pela última vez. O casal, que partiu da Nova Escócia, no Canadá, rumo aos Açores foi dado como desaparecido, a 18 de junho. 

As autoridades acreditam que terão abandonado o seu “iate verde” e morreram antes de darem à costa na ilha Sable, conhecida como “o cemitério do Atlântico”, a leste da Nova Escócia, avança a “BBC”. O casal estava a caminho do arquipélago português, numa viagem que estava prevista durar 21 dias.

“Capitão Brett e Sarah arrancaram para a segunda etapa da odisseia verde a bordo do Theros, de 13 metros. Alimentado pelo vento e pelo sul. Rumo a leste, para os Açores”, escreveu o casal na última publicação do Facebook.

A Real Polícia Montada do Canadá está a investigar o caso e acredita que a embarcação possa ter sido atingida por um navio de carga que não se terá apercebido do acontecimento. A guarda costeira canadiana e os aviões militares ainda não encontraram os destroços nem sinais do barco.

O filho de Brett Clibbery, confirmou a morte do casal nas redes sociais, afirmando que os últimos dias foram “muito difíceis”. “Não há nada que preencha o vazio deixado pelas suas mortes, até agora inexplicável”, lê-se na publicação de James. “A vida não será a mesma sem a sua sabedoria, e a sua mulher estava rapidamente a tornar-se num farol de conhecimento e bondade. Sinta falta dos seus sorrisos. Sinto falta das suas vozes. Serão relembrados para sempre”, continuou.

Mais de 350 naufrágios foram registados na ilha Sable, que é desabitada desde 1583, segundo o Museu Marítimo do Atlântico. Cercada por correntes complicadas, a ilha fica perto de uma importante rota marítima, num caminho comum de tempestades.

Sarah e Brett conheceram-se por acaso numa paragem de autocarro em Londres, em maio de 2015. Clibbery estava na capital inglesa para doar um rim à sua irmã e a história do casal chegou a ser divulgada num artigo do “The Guardian”, onde contam como se uniram pela paixão comum pelas viagens.

Tudo aconteceu porque o homem, confuso por ver centenas de pessoas a agitar bandeiras de Trafalgar Square, perguntou a um estranho o que tinha acontecido. Essa pessoa era Sarah, que lhe tirou todas as dúvidas: celebravam o nascimento da princesa Charlotte.

A pergunta deu início a uma conversa que se prolongou durante a viagem de autocarro, em direção a Battersea. Foi aí que descobriram a paixão em comum pelas viagens e não foram capazes de se despedir sem trocarem contactos.

Durante as semanas seguintes, encontraram-se todos os dias, faziam caminhadas e almoçavam juntos. “Era tão fácil conversar com ela”, confessou ao “The Guardian” Quando se conheceram, o engenheiro reformado contou a Packwood sobre o seu barco, Theros, e a sua paixão por velejar. “Era algo que sempre quis fazer, mas para o qual nunca tive tempo”, disse a mulher na altura.

Após a operação de transplante, contudo, Brett regressou ao Canadá, mas continuaram a conversar por e-mail e chamadas telefónicas. Em 2016, convidou Sarah para visitá-lo e Salt Spring Island, perto de Vancouver, onde o barco estava atracado.

“Foi ele que me levou na minha primeira viagem de iate e eu adorei”, confessou a mulher. O Theros também serviu de cenário para o pedido de casamento — e para a própria cerimónia, que aconteceu em 2016. Um ano depois, em abril de 2017, realizaram uma cerimónia celta em Stonehenge, no Reino Unido, que disseram ser “muito tradicional”. “Amarram as nossas mãos enquanto bebíamos hidromel e pediram-nos para saltar numa vassoura, o que simboliza a entrada na vida de casados”, recordaram.

Dois anos depois, a britânica mudou-se para o Canadá e aventuraram-se numa série de viagens a bordo do iate. Antes de embarcarem na missão de atravessar o Atlântico, já tinham navegado pela costa oeste do Canadá e dos EUA. Depois, cruzaram o canal do Panamá em direção às Caraíbas e regressaram a Nova Escócia. Em junho de 2019, fizeram uma viagem de barco através do Atlântico que foi interrompida por fortes tempestades.

Num vídeo partilhado no seu canal de YouTube, Theros Adventures, a dupla batizou a viagem de “odisseia verde” e explicou como iria funcionar: iam viajar com velas, painéis solares, baterias e um motor elétrico reaproveitado de um carro. “Estamos a fazer tudo o que podemos para mostrar que é possível viajar sem queimar combustíveis fósseis”, explicou Clibbery. Já a mulher, que trabalhou no Ruanda, com a ONU, após o genocídio de 1994, afirmou que seria a “maior aventura das suas vidas até agora”.

Carregue na galeria para ver algumas fotografias partilhadas pelo casal nas redes sociais.

ÚLTIMOS ARTIGOS DA NiT

AGENDA NiT