Seis jovens portugueses, três carros antigos e 120 quilos de material solidário para distribuir por aldeias do deserto marroquino. O grupo, conhecido como “Duna & Dudes” — uma vez que só há uma mulher no meio dos homens — já tem tudo pronto para percorrer 2.400 quilómetros durante oito dias nas estradas de Marrocos.
A viagem faz parte do desafio da UniRaid, que há 14 anos propõe um “desafio impossível em terras marroquinas”, com uma missão solidária por trás. “Não é um rali nem uma corrida de velocidade, é uma viagem de aventura em que todos os participantes devem completar seis etapas, navegando com roadbook e ultrapassado todo o tipo de obstáculos, desafios e provas”, explicam no site. Pelo meio, os participantes têm a missão de entregar 40 quilos de material solidário às escolas.
Quando Beatriz Mota Pinto, de 29 anos, ouviu falar deste desafio pela primeira vez, em junho do ano passado, sentiu logo “uma vontade enorme de fazer parte desta aventura única”. Quem lhe contou tudo sobre a experiência foi o amigo, João Simões (30 anos), um comercial de automóveis que já tinha feito uma expedição em Marrocos, em 2019, para entregar roupa e brinquedos a crianças.
“Foi ele que lançou o desafio para o ar, a mim e a mais uns amigos de infância, e começou logo a nascer aquele bichinho de querermos fazer parte”, conta à NiT a estudante de arquitetura. À Beatriz e ao João, juntaram-se António Monteiro (33 anos), um jovem agricultor entusiasta de carros e mecânica, que também já fez três expedições a Marrocos, Pedro Soares (33 anos) um programador apaixonado por automóveis, João Marufo (32 anos), um engenheiro recém-chegado da Alemanha, e Ricardo Costa (29 anos), especialista em mecânica.
Não foi preciso muito para serem convencidos a embarcar na jornada solidário. Em setembro do ano passado, já decididos, inscreveram-se no desafio da UniRaid e, a partir daí, foi trabalhar todos os dias.
“Começámos logo a arranjar os carros, porque o objetivo é ir com automóveis com mais de 15 anos. Por isso, há toda uma panóplia de questões técnicas para tratar para garantir que conseguimos chegar ao final das oito etapas”, sublinha. Apesar da organização estar em constante contacto com os participantes, estes confessam que a parte da mecânica é “a mais desafiante”.
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“Por outro lado, tem uma vertente didática, aprendemos coisas novas constantemente, desde as ligações elétricas às direções assistidas. Temos a sorte de ter o Ricardo connosco, que é mecânico, e ajuda-nos em tudo”, reforça.
Apesar de serem seis, a organização só permite duas pessoas por equipa, pelo que estarão divididos em três duplas, cada uma com o seu automóvel. Afinal, os bancos da parte de trás são retirados para terem espaço para colocar todo o material solidário, bem como pneus extra e todos os equipamentos e ferramentas necessárias.
Beatriz Pinto vai fazer dupla com Ricardo Costa, com quem tem estado a transformar um Volkswagen Polo 2002, que já lhe pertencia, num “veículo aventureiro e solidário”. João Simões e António Monteiro vão conduzir um Opel Corsa de 1997, enquanto Pedro Soares e João Marufo vão concluir as oito etapas com um Ford Fiesta 2000.
Estes dois últimos veículos foram adquiridos pelos próprios para o desafio e exigiram mais trabalho de mecânica. O Opel, por exemplo, apesar de ter o motor bem, estava sem direção assistida. “Foram semanas a trabalhar nele, tivemos que desmontar tudo. Sem dúvida, foi o que nos deu mais dores de cabeça”, revela.
Agora, já com praticamente tudo pronto, só lhes falta mesmo colocar autocolantes nos automóveis para não passarem despercebidos durante a viagem, que começa no dia 8 de fevereiro e termina a dia 15. Cada carro tem que levar, pelo menos, 40 quilos de materiais solidários, que vão ser entregues ao longo da jornada nas comunidades locais.
Para conseguiram cobrir os custos de preparação e revisão mecânica dos carros e de aquisição de peças sobressalentes para eventuais avarias, assim como garantirem toda a logística e material necessário para a participação na viagem, os jovens criaram, em dezembro, um crowfunding.
“Seja financeiramente ou através da doação de bens e materiais, como roupas, brinquedos e material escolar, todo o apoio que conseguirmos obter é importante para transformar o nosso sonho em realidade e termos a oportunidade de levar o nosso contributo às comunidades do deserto marroquino”, refere.
As duplas vão cruzar 2.400 quilómetros por Marrocos, em estradas de montanha, pistas, areia e dunas, sendo o ponto de partida Tânger. Quando atravessaram o Atlas, entregarão os bens e material solidário, continuando depois para sul, em direção às dunas de Erg Chebbi, e percorrendo as antigas rotas Paris-Dakar, até chegarem a Marraquexe, local onde terminará a UniRaid 2025.
Se os carros sobreviverem a todos os obstáculos, é neles que voltarão para Portugal. “O maior receio é mesmo saber como os carros se vão comportar. Estamos desde setembro a trabalhar neles. Todos os sábados encontramo-nos na oficina, mas é impossível saber se vão aguentar as estradas marroquina”, confessa.
Apesar de tudo, vão encarar os eventuais ostáculos com “determinação e espírito de equipa”. “Com esta participação, queremos também inspirar outros jovens a usarem a sua paixão por desafios para fazerem a diferença, levando ajuda e esperança às comunidades mais carenciadas”, diz.
A inscrição para participar nesta aventura tem o custo de 1.890€ por equipa (costuma ser um valor mais baixo numa primeira fase) e inclui os acampamentos, assistência mecânica 24 horas e ferry.
