Viagens

Fábio Inácio quer caminhar mais de 8.500 quilómetros pelos 5 continentes em 8 meses

O primeiro português a completar o Pacific Crest Trail embarcou num novo desafio. Desta vez, quer duplicar a distância.
Durante 8 meses.

Após completar o Pacific Crest Trail (PCT) em 2019, um percurso pedestre de 4.270 quilómetros que atravessa os Estados Unidos, Fábio Inácio, um dos primeiros portugueses a concluir este mítico trilho, decidiu desafiar-se novamente. 

A experiência no PCT, que o levou a caminhar por 108 dias em paisagens desertas e com pouca comida, fê-lo prometer não voltar a fazer algo semelhante. No entanto, essa promessa durou pouco: “Lembro-me que quando estava a fazer a parte do deserto foi tudo muito agressivo. Passei fome, desidratação e um cansaço enorme. Disse que nunca mais ia fazer isto na vida, mas bastou-me terminar o percurso para mudar de ideias”, confessa Fábio, natural de Torres Vedras.

Nos anos seguintes, Fábio continuou a trabalhar como líder de viagens, guiando outros aventureiros por diversos cantos do mundo. Porém, sentia falta de um desafio maior. “Decidi fazer 8.600 quilómetros e pensei que era giro fazer um trilho por continente ao longo de oito meses. Escolhi países que queria voltar ou conhecer pela primeira vez”, explica o viajante de 39 anos. O sonho de se aventurar pelo mundo surgiu logo após o PCT, mas foi adiado até agora.

A 21 de outubro, sem fazer grandes planeamentos, como já é habitual, partiu para o primeiro país da aventura: o Nepal. O objetivo é chegar ao campo base do Evereste, mas não vai fazê-lo da maneira mais comum. Geralmente os alpinistas voam para Lukla para dar início à caminhada, mas Fábio achou que seria ainda mais desafiante fazê-lo desde Catmandu, a capital.

O início da aventura

A ideia era arrancar a 25 de outubro, mas as coisas não correram como esperava. Só conseguiu caminhar 650 metros, apesar de ter sentido que andou “590 quilómetros com cinco mil metros de elevação”.

“Acordei com diarreia, vómitos e dores no corpo. Depois descobri que tinha apanhado dengue e tive que ficar 10 dias em Catmandu”, recorda. Após este pequeno susto inicial, o português começou oficialmente a sua jornada e está neste momento a caminho do campo base do Evereste. 

Como está a caminhar desde Lukla acaba por passar por aldeias que não estão tão habituadas a ver turistas. Mesmo com as barreiras linguísticas, conseguem sempre arranjar maneira de comunicarem entre si. Apesar de no início olharem com desconfiança, assim que Fábio junta as mãos as peito, quase como a dizer que vem em paz, as pessoas “largam um sorriso gigante e tentam por conversa”.

Fábio Inácio tem 39 anos.

“No outro dia estava junto a um rio e um miúdo, que sabia falar inglês, vem falar comigo e convida-me para conhecer a sua casa. Contou-me que o pai se tinha suicidado. Depois chegou um senhor da igreja e o avô dele, que meteram a mão sobre mim para me dar sorte para a caminhada”, recorda o viajante.

Nesta primeira fase da aventura deverá andar cerca de 400 ou 500 quilómetros e a ideia é voar para a Nova Zelândia em dezembro. Aí, terá de enfrentar o Te Araroa, um trilho de três mil quilómetros ao longo das duas principais ilhas do país, de Cape Reinga a Bluff. A ideia é caminhar cerca de 40 quilómetros por dia ao longo de três meses.

Quanto aos próximos planos, ainda há alguma incerteza. Fábio continua na dúvida se vai para a Patagónia chilena durante cerca de um mês ou se vai diretamente para os EUA, onde irá fazer o Appalachian Trail, que são 3.500 quilómetros. Caso faça este “pequeno” desvio, confessa que ainda não sabe bem qual o caminho que irá fazer, uma vez que não existe nenhum trilho específico na Patagónia.

De qualquer forma, em abril deverá chegar aos EUA para completar o trilho entre o Monte Springer, na Geórgia, e o Monte Katahdin, no Maine, atravessando 14 estados. Depois, seguirá para Marrocos, onde irá caminhar alguns dias na cordilheiras do Atlas. 

O último destino é Portugal e, aí, irá fazer os quilómetros que faltarem para chegar aos 8.600. Tudo pode mudar, mas o objetivo é percorrer esses quilómetros até julho, passando pelos cinco continentes. O objetivo, admite, é conseguir celebrar os 40 anos em Portugal, a meados de julho.

 
 
 
 
 
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As noites são geralmente passadas a acampar e, apesar de “não pensar muito em medos e receios”, sabe que há locais em que é necessário ter mais cuidados. “Agora no Nepal ia ficar a dormir na selva e as pessoas disseram-me que era uma zona com muitos tigres, então decidi não arriscar”, conta.

Outra grande particularidade desta viagem é que terá também cariz solidário. Após ter pesquisado várias instituições, Fábio decidiu apoiar o trabalho da Rewilding Portugal, uma associação que promove a renaturalização do Grande Vale do Côa para tornar o País um lugar mais selvagem.

“Adoro a natureza e passo todo o tempo que posso a caminhar ou a praticar desporto no mar. Uma das coisas mais bonitas é a vida animal e assim que descobri a Rewilding fiquei viciado no trabalho que fazem em reintroduzir espécies pelos mais variados sítio. As pessoas cada vez mais destroem a natureza e ela precisa de todo o nosso apoio”, confessa.

Para contribuir criou uma campanha GoFundMe e o objetivo é atingir os 8.600€ — 1€ por quilómetro. Apesar de ter apoio do Clube Académico Penafirme, a maioria da viagem é financiada pelo próprio (cerca de 12.000€), algo que consegue com os livros de fotografia que estão à venda no seu site oficial, Walking Around. Agora adicionou ainda um pacote em que os interessados pagam 10€ e têm acesso a um grupo de WhatsApp privado, aonde conta tudo o que acontece na viagem.

Outra forma de acompanhar as aventuras de Fábio Inácio é através das redes sociais, onde partilha reels e tem um podcast diário onde relata as peripécias que lhe acontecem.

Como tudo começou 

A paixão de Fábio pelas viagens começou aos 14 anos, quando se iniciou no bodyboard. “Via muitos filmes da Austrália, Indonésia e Havai e sentia-me à vontade para viajar. Mas havia um impedimento: sempre aprendi que viajar era para pessoas com muito dinheiro, que há coisas bem mais importantes”, explica.

Até que, no verão de 2010, um grande amigo, Francisco, convidou-o para ir com ele e outros três bodyboarders até à Indonésia. “Queria que eu fosse fotografar, coisa que começara a fazer três ou quatro anos antes de forma muito amadora. Aceitei e feliz da vida lá fui eu”, conta-nos. Estiveram um mês na ilha de Sumatra e as ondas não estavam muito boas, pelo que passaram a maior parte do tempo a explorar e a conviver com os locais, o que deixou Fábio completamente apaixonado. Deu-se o clique: “ainda lá, disse para mim mesmo que queria viver e fotografar o mundo”.

Após essa viagem, Fábio dedicou-se à fotografia e fez dois interrails pela Europa, viajando sozinho para testar a sua independência. “Quando voltei do segundo no fim de 2012 decidi que era altura de ir dar a volta ao mundo”. Para realizar este sonho, Fábio trabalhou arduamente durante um ano, no setor da restauração e economizando o máximo possível. “Em 2013 não saí uma única vez para festas e jantares, foi casa-trabalho e trabalho-casa com uma folga semanal e muitas horas extra. No fim do ano despedi-me e a 14 de fevereiro de 2014 voei para a Turquia”, conta.

A aventura deveria ter 18 meses e acabou por durar 20. Durante o segundo mês, abandonou os planos que tinha feito e preferiu viajar de forma livre. Quando gostava do local onde estava ficava vários dias, quando não gostava ia embora no próprio dia.

Durante esta viagem, Fábio encontrou o emprego perfeito para o seu estilo de vida: líder de viagens na agência The Wanderlust. Começou na Índia e atualmente guia tours no Irão, Vietname e Nepal.

 
 
 
 
 
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