Quando Fernando Vaz começou a ganhar o gosto de viajar pelo mundo, depois de um intercâmbio na Nova Zelândia em 2014. Jamais imaginou que, 10 anos depois, já teria visitado 100 países. Nunca foi propriamente um objetivo, simplesmente aconteceu.
Na altura, nunca sonhou, também, que fosse conhecer o seu ídolo de infância precisamente no centésimo, o Paraguai. Com uma camisola do Benfica vestida — como faz em praticamente todas as suas viagens —, entrou no talho de Óscar Cardozo, em San Lorenzo, a entoar o popular cântico que os adeptos do Benfica dedicavam ao jogador, que representou o clube da Luz entre 2007 e 2014.
“Tenham cuidado, ele é perigoso, ele é o Óscar Tacuara Cardozo”, cantou, ao entrar no estabelecimento que o futebolista de 41 anos abriu em março de 2023, já a pensar na vida pós-futebol. “Quando percebi que o Paraguai ia ser o país número 100, veio-me logo à ideia de celebrar a conquista na Carniceria Tacuara e honrar a lenda do Benfica, que foi um dos meus jogadores favoritos quando era mais novo”, contou à NiT o viajante de 31 anos.
O encontro não surgiu por mero acaso, até porque Cardozo, que continua a jogar no Club Libertad, nem sempre marca presença no estabelecimento, que tem uma imagem do Estádio da Luz numa das paredes.
“Um amigo meu trabalhou com o Cardozo no Benfica e foi ele que fez o contacto. Disse-lhe o dia em que ia a Assunção e ele disse que ia estar lá. E cumpriu”, recorda. A visita chegou aos ouvidos dos meios de comunicação do Paraguai, que se deslocaram até lá para registar o encontro tão especial.
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“Assim que cheguei, agradeci-lhe. Pôs-me logo à vontade, falámos sobre o Benfica, sobre Lisboa, sobre o talho dele e sobre os meus projetos. Significou muito para mim, foi um momento simbólico”, sublinha.
O encontro, que aconteceu em janeiro, foi registado em vídeo com a canção que marcou a passagem de Cardozo no Benfica. A cidade de San Lorenzo, perto de Assunção, foi apenas uma rápida paragem na viagem que andava a fazer pela América do Sul. Além do Paraguai, o jovem passou pela Colômbia, Bolívia e Argentina, sempre que possível à boleia, como tem feito desde que começou a viajar.
O desejo de explorar o mundo
A paixão pelas viagens surgiu durante a licenciatura em Gestão, na Universidade Nova de Lisboa, e teve a oportunidade de fazer um intercâmbio na Nova Zelândia, em 2014. “Foi nessa altura que nasceu o bichinho de explorar o mundo”, conta.
Pouco depois, voltou a embarcar noutra aventura. Concluído o curso, trabalhou durante quatro meses num quiosque em Lisboa para juntar dinheiro para um gap year. Com outros dois amigos, fizeram a volta ao mundo durante oito meses, quase sempre à boleia.
“Éramos jovens, queríamos poupar dinheiro e esta foi a forma que arranjámos. Ficávamos sempre em casas de pessoas que encontrávamos através do couchsurfing”, recorda.
O périplo, a que chamaram “The Longest Way to Alaska”, começou em novembro de 2015 e levou-os a países como Sri Lanka, Myanmar, Laos, Austrália e Nova Zelândia, até chegarem ao destino pretendido: o Alasca, nos EUA.
Durante essa jornada viveu um dos momentos mais marcantes da aventura: o dia em que viu, ao vivo e a cores, o autocarro do filme “Into the Wild”, que foi removido do local em 2020.

“Estava à boleia no norte do Canadá, numa zona muito remota, e conheci um rapaz com quem passei quatro dias. Ele meteu um anúncio na rádio local da vila a dizer que havia pessoas a precisar de boleia para o Alasca”, recorda.
A transmissão foi ouvida por uma rapariga, chamada Molly, que lhes ligou a dizer que estava disponível para os levar. “Depois ligou a pedir desculpa porque tinha recebido uma proposta de emprego e não ia conseguir. Sugeriu emprestar-me o carro para conduzir até lá, mas não tinha carta internacional, então ela desistiu dos planos e levou-nos na mesma”, conta Fernando.
Graças a Molly, que conhecia o trajeto, conseguiram encontrar o famoso autocarro verde, que estava abandonadano no Parque Nacional e Reserva de Denali, um sítio remoto e sem rede. Entretanto, o veículo foi retirado do local porque demasiadas pessoas colocavam a própria vida em risco para poderem ver ao vivo o autocarro dos anos 40 onde o aventureiro Christopher McCandles morreu à fome em 1992, história que serviu de base para o livro e filme.
Quando regressou da volta ao mundo, Fernando Vaz fez um curso de piloto de aviação civil, tudo isto enquanto ia viajando, sempre à boleia. Com a Covid-19, contudo, a carreira na aviação ficou interrompida e aventurou-se numa nova área. “Em 2022 comprei um tuk tuk e tornei-me operador turístico em Lisboa”, conta.
Atualmente continua a mostrar a cidade onde cresceu ao turistas, mas já está a desenvolver outros projetos. Em fevereiro, vai lançar um podcast onde vai entrevistar cinco pessoas (uma por episódio) sobre os temas que mais lhe interessam: aviação, Benfica, comida portuguesa, viagens e o conflito entre Israel e a Palestina. Pode acompanhar tudo através das redes sociais.
Carregue na galeria para ver algumas das fotografias de Fernando Vaz em viagem.