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Humberto tem medo de alturas, mas quer subir aos 7 cumes mais altos de cada continente

O empresário de Santo Tirso tem 50 anos e nos últimos meses já subiu ao Kilimanjaro, na Tanzânia, e ao Aconcágua, na Argentina.
Já subiu a dois.

Até à data, só dois portugueses (João Garcia e Ângelo Felgueiras) se aventuraram a subir às sete montanhas mais altas de cada continente. Aos 50 anos, Humberto Martins, natural de Santo Tirso, quer ser o terceiro a conquistar tal proeza. Para isso, vai ter de conseguir enfrentar um dos seus maiores medos: a altitude.

“Por estranho que pareça, um dos meus maiores medos é a altitude e tudo o que esteja fora do meu controlo. A questão de ir para uma montanha-russa, por exemplo, é impensável. Se não controlar, tenho medo a sério”, começa por contar à NiT o empresário de Santo Tirso. Mesmo com estes receios e inseguranças, já acendeu a dois dos sete cumes mais altos do mundo: Kilimanjaro, na Tanzânia (África), com 5.895 metros de altitude; e Aconcágua, na Argentina, com 6.961 metros de altitude. 

O desafio dos “7 Cumes” surgiu no final do ano passado, mas a verdade é que desde jovem que Humberto Martins tem uma paixão por tudo o que envolve montanhismo. Lembra-se de ver séries na RTP há 40 anos sobre o tema e ficava “completamente vidrado”. Há cerca de 13 anos que faz o Caminho de Santiago, seja a pé ou de bicicleta, e confessa que são os mais extremos e difíceis que mais o atraem. 

Quando começou a trabalhar como empresário e a fazer parte da empresa Silent Portugal, que organiza várias festas e eventos, começou a precisar de escapar da agitação e do stress do dia a dia. “É um ritmo de vida completamente rápido e stressante, é preciso muita criatividade. Quando eu preciso de espaço, tento sempre ir para um monte, é onde me sinto bem e gosto de estar”, sublinha.

À medida que vai ascendendo ao topo das montanhas, vai procurando outros desafios, cada um mais exigente que o último. Já tinha tentado, por várias vezes, subir ao Mont Blanc, a montanha mais alta dos Alpes, mas a reserva acabava sempre por ser cancelada devido ao mau tempo. “Estava num stress grande e procurei na Internet montes que podia escalar nesta época e foi quando surgiu a ideia dos sete cumes, até porque já tinha o sonho de ir ao Everest. Depois vi que só dois portugueses conseguiram fazê-lo e a responsabilidade aumentou”, revela.

A subida ao Kilimanjaro

Antes de se aventurar pelos mais altos, subiu ao Toubkal, o pico mais alto de Marrocos, com 4.167 metros de altitude, para “fazer um teste e ver se o corpo se adaptava”, em setembro de 2022. “Éramos para ter feito aquilo em três dias e fizemos em 11 horas. A aclimatação ao monte foi tão boa que eu quis mais”, diz.

Um mês depois, estava de volta a África, desta vez para escalar o cume mais alto desse continente: o Kilimanjaro, na Tanzânia. A expedição teve a duração de seis dias e foi sempre acompanhado por uma equipa de apoio, que é sempre obrigatório nestas ascensões. O parceiro de viagem foi um jovem dinamarquês de 17 anos que, com a autorização especial dos pais, foi fazer o mesmo trilho que a mãe tinha feito anos antes.

Uma das partes mais desafiadoras mental e fisicamente aconteceu no último dia, quando seguiram em direção a Stella Point, na borda da cratera do antigo vulcão — foram 1.600 metros de ascensão em cinco quilómetros, com a duração de 4 horas e meia. Bem protegido pelas roupas, “entre seixos que mais parecem vindos de Marte”, lá conseguiu chegar ao Uhuru Peak, o ponto mais alto do Monte Kilimanjaro e do continente africano. O primeiro cume foi concluído com sucesso.

Aconcágua, o ponto mais alto do hemisfério Sul

Pouco depois, em janeiro, apanhou um avião para a América do Sul para subir mais uma montanha: Aconcágua, o ponto mais alto do mundo fora do continente asiático, situado na Cordilheiras dos Andes, Argentina. E esta foi uma subida muito mais intensa e desafiante — afinal, eram mais 1.000 metros de altitude do que o Kilimanjaro que fazem toda a diferença.

Se conseguiu realizar com sucesso o Kilimanjaro em apenas seis dias, o monte Aconcágua obrigou a mais dias de aclimatação e a expedição demorou 16 dias. “Este ano, devido às alterações climáticas, havia neve desde os 3500 metros, o que fez com que fosse um desafio novo, tanto para os guias como para nós. Este já foi mais complicado devido à altitude e à aclimatização, não é um monte fácil e é um sítio de risco”, explica. Devido à enorme quantidade de neve, tiveram de usar material técnico de proteção e acessórios de alpinismo usados para caminharem em segurança. Para Humberto, o mais importante para conseguir concluir a ascensão é “respeitar a montanha e sermos humildes”.

A meio da expedição, mais precisamente na etapa número nove, um dos membros da expedição na subida ao Aconcágua teve de ser levado de helicópetro por motivos de saúde, por não ter usado corretamente os óculos.

Etapa 9: Acampamento Base Plaza de Mulas (4300m)- Dia de descanso .Desnível Positivo: 0 mtsKm trekking: 0Hrs de trekking: 0Hoje foi um dia triste, com pouco para contar, para além de uma baixa na expedição.Isto demonstra o respeito que temos de ter pela montanha.Durante o dia de ontem, Aviad (Israelita), não usou corretamente os óculos, devido a isso ficará pelo menos 4 dias no hospital. As imagens da entrada no helicóptero são emocionais para o nosso grupo e por isso o ambiente está em baixo.Esperemos conseguir o Cume por ele.Amanhã de manhã cedo começamos o “ataque” ao cume. Só voltarei a ficar contactável na segunda feira, e espero trazer boas notícias.Hoje não caminhei , pois foi dia de descanso , mas nos dias anteriores caminhei bastantes metros , por isso continuem a comprar os metros que caminho , contribuindo diretamente para a CAID ! 🙏#aconcágua #aconcagua #7cumes #summit #santotirso #argentina #caid #aventura #montanhismo #denali #vinson #everest #kilimamjaro #elbrus #puncak

Posted by 7 Cumes – Humberto Martins on Thursday, January 19, 2023

“Nos últimos dias antes de subir ao cume já não conseguia comer nada. Quem foi às compras na nossa expedição foi um miúdo de 20 anos, mas adaptou a alimentação dele e grande parte eram açúcares”, recorda. Três dias antes de chegar ao ponto mais alto, tinha comido apenas duas sopas, duas salsichas vegan — e o ideal seria ingerir cerca de 4.000 a 5.000 calorias para atingir o cume. 

“A minha estratégia foi poupar ao máximo as barras energéticas para comer no acesso ao cume. Saímos às três da manhã, às 8 horas já estava de dia. O meu grupo ia a frente, mais rápido, mas fui ao meu ritmo e tive a sorte de chegar lá acima. Fiz a ascensão durante seis horas, mas esqueci-me que também tínhamos de descer.  Foram oito horas a descer em puro medo, estava sem qualquer tipo de força”, conta. 

Mesmo com pouca comida no estômago e ter chegado a um ponto crítico de esgotamento devido à hipóxia (baixo teor de oxigénio), conseguiu completar mais um dos desafios. No entanto, nem todos tiveram a mesma sorte: no dia em que chegou ao cume (estavam 30 graus negativos no topo) soube que houve uma morte, outra pessoa perdeu uma perna e outro montanhista ficou em coma. Pouco depois de ter regressado, houve mais três mortes. “Existe um grande risco de vida e as autoridades destes países exigem que paguemos um fee de entrada, que não é nada barato. Há regras e as pessoas têm de as cumprir”, sublinha.

Com estes dois cumes completos, ficam a faltar mais cinco: o Everest, na Ásia, a 8.848 metros acima do nível do mar; o Puncak Jaya (4.884 metros de altitude), na Oceânia; o Vinson (4.892 metros), na Antártida; o Elbrus (5.642 metros), na Europa; e Denali (6.194 metros), na América do Norte.

O próximo objetivo seria subir à montanha mais alta da Europa, que fica na Rússia, mas com a guerra não está a ser fácil conseguir um visto, pelo que este ano não deverá conseguir subir a nenhum desses cumes. Para compensar, vai tentar finalmente subir ao Mont Blacn para se preparar para um dos maiores desafios: o Monte Everest, que pretende ascender em 2024. A partir daí, segue-se o da América do Norte, o da Antártida e, por último, o da Oceânia. “O último é o mais baixo de todos, mas é o que exige mais técnicas, por isso tenho de me ir preparando”, diz. Se tudo correr bem, o objetivo é subir a todos os sete cumes mais altos de cada continente nos próximos cinco anos.

De seguida, carregue na galeria para ver algumas das fotografias de Humberto Martins nas suas duas ascensões.

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