Viagens

Jaipur: “a cidade rosa” na Índia que parece ter sido desenhada por Wes Anderson

Palácios pitorescos, fachadas em tons pastel, simetria hipnotizante. Se visitar apenas uma cidade indiana, que seja esta.

Numa tentativa de impressionar o Príncipe de Gales antes da sua visita a Jaipur em 1876, o rei mandou pintar de rosa toda a cidade. Uma decisão que transformou por completo a cidade indiana na região do Rajastão. Claro que esta é apenas uma das muitas explicações para justificar as cores pastel e a simetria que fariam o cineasta Wes Anderson saltitar como um miúdo na noite de Natal.

Jaipur, a cerca de uma hora de voo de Nova Deli, ganhou assim o nome de Pink City, a Cidade Cor de Rosa. Alberto Eduardo — o filho mais velho da rainha Vitória e do príncipe Alberto — deveria visitar aquela localidade, onde os edifícios apresentavam tons pouco memoráveis: eram brancos ou de um amarelo pálido.

Para deslumbrar o seu homólogo real, o marajá de Jaipur, Sawai Ram Singh II, decidiu avançar com um ambicioso projeto de remodelação. Ordenou que todos os edifícios da cidade fossem pintados com o mesmo tom rosa — cor que simboliza a hospitalidade do povo indiano. A pedido da sua consorte favorita, o marajá foi ainda mais longe e promulgou uma lei (em 1877) que tornava ilegal pintar os edifícios da cidade velha de qualquer cor que não fosse o tal rosa Jaipur — o segredo da cor está no pigmento trazido de Kanota, a cerca de 16 quilómetros de distância. Vale a pena recordar que a legislação então decretada continua em vigor.

Quanto ao grandioso plano do rei para impressionar os seus convidados, parece ter sido bem-sucedido. E, embora a história da visita do príncipe seja a mais famosa, existem outras teorias notáveis. O autor e historiador Giles Tillotson sugere que Jaipur já era rosa muito antes do século XIX, numa tentativa de imitar os edifícios de Deli e Agra, muitos dos quais construídos com arenito rosado.

Tillotson recorda ainda o episódio em que a cidade quase abandonou por completo o tom rosado. “Numa ocasião, em 1868, o marajá Ram Singh II sugeriu imprudentemente que as cores poderiam variar, com diferentes bairros da cidade a serem pintados de tonalidades diferentes; mas em 1870, este teste foi reconhecido como um terrível erro e o rosa foi recuperado.”

Jaipur recebeu outro lifting em 2000, antes da visita do então presidente dos EUA, Bill Clinton. Aquando desta renovação, as autoridades exigiram também que as placas das lojas fossem todas iguais: com caracteres em hindi pretos sobre fundos brancos.

Quem já passou por lá não uma, mas duas vezes, foi o casal de professores portugueses que está a dar a volta ao mundo. Carla Mota e Rui Pinto, que já falaram à NiT sobre a sua aventura, aterraram em Jaipur em duas ocasiões, uma em 2007 e outra em 2017.

São, então, as pessoas certas para apontarem o caminho aos mais inexperientes. Mas neste caso, não há grandes segredos ou atalhos. “O roteiro mais turístico e mais tradicional é o que vale a pena. Há os bazares, os mercados e os palácios — definitivamente, não devem deixar de visitar estes últimos”, explica Carla Mota, que optou por não ficar num dos luxuosos hotéis da região.

O casal já visitou a cidade por duas vezes.

“Ficámos no mesmo sítio em ambas as viagens, um hostel que tinha um rooftop com uma vista fantástica sobre a cidade e a cidade velha. Achámos que era tão giro que voltámos”, conta. Sobre Jaipur em si, só deixam elogios e sublinham que contrariamente ao resto da Índia, há nela e nas outras cidades do Rajastão uma magia única.

“Surpreendeu-nos a forma colorida como as mulheres se vestem. Os saris são sempre de cores fortes, isso transmite muita alegria e positividade. A cidade é lindíssima e fabulosa para fazer compras”, explica. “Contudo, não considero que Jaipur seja muito diferente de outras cidades do Rajastão, são todas semelhantes, mas únicas. É uma região com uma cultura e características muito próprias, bem diferentes do norte ou até do sul da Índia.”

Um paraíso para fotógrafos — repleto de palácios

A cidade é uma das maravilhas arquitetónicas da Índia e é casa de alguns dos palácios reais mais ornamentados do país e do mundo. São estruturas elaboradas, erguidas há centenas de anos, sendo que a maioria foi construída no século XVIII por ordem de Sawai Raja Jai Singh II.

Rodeada por uma muralha e vários fortes defensivos, foi concebida como um centro comercial no estado do Rajastão e foi sempre considerada avançada para a sua época devido à utilização de um plano de cidade em grelha. Para os fotógrafos, é também uma pequena grande maravilha, sobretudo devido às suas características únicas.

Desde logo, os tons rosa, pastéis, pequenas variações de cores pouco usuais, de rosas bem vivos a castanhos a avermelhados. Um palácio rosa ganhou fama especialmente nas redes sociais e tornou-se, segundo os parâmetros hodiernos, “muito instagramável”: o histórico Hawa Mahal.

O edifício é uma extensão do City Palace e as suas janelas permitiam às mulheres da realeza observar o que acontecia na rua, sem arriscarem ser vistas em público. As janelas são às centenas; quem as contou, registou 953. O Hawa Mahal é também conhecido como Palácio dos Ventos. Concluído em 1799, é hoje Património Mundial da UNESCO.

Os edifícios da cidade foram criados num estilo arquitetónico rajasthani, que combina a construção complexa das técnicas de construção Hindu Rajput com a simetria marcante do design Mughal. Os edifícios foram projetados para serem extremamente simétricos, o que, aliado à cor, cria uma espécie de paraíso para fotógrafos amadores e profissionais.

Jaipur é também uma cidade onde não faltam hotéis de luxo, muitos deles nestes palácios históricos repaginados como hotéis de cinco estrelas — que oferecem aos visitantes aquilo que poderia ter sido a vida quotidiana na era dos Marajás. É, igualmente, um paraíso para quem adora ir compras.

Por lá encontram-se uma série de mercados que vendem de tudo, desde joias, roupas e têxteis até estátuas de mármore. O Johari Bazaar é um dos mercados mais conhecidos da cidade e o local para comprar joias. O Tripolia Bazaar é o destino para quem procura tapetes. E o calçado e roupa local estão no Nehru Bazaar.

A seguir, carregue na galeria para ver mais imagens da cidade cor de rosa da Índia.

ver galeria

ÚLTIMOS ARTIGOS DA NiT

AGENDA NiT