Em outros anos que não este estranho e surreal 2020, esta seria a altura em que, em revistas de lifestyle e viagens de todo o mundo — NiT incluída — se multiplicavam propostas irresistíveis para cumprir um objetivo certo na bucket list de muitos: ir à Lapónia, na Finlândia, para conhecer a terra do Pai Natal; viver a época mais mágica do ano, no lugar do mundo onde ela é mais especial.
Milhares de pessoas rumavam, todos os anos, à terra das renas, do gelo e das luzes do norte, onde tudo é branco, da neve, e vermelho, do Natal. Por pacotes de cerca de dois mil euros, vinha a promessa de fazerem atividades como conhecer a casa do Pai Natal e o próprio velhote de barbas brancas, visitar uma quinta de huskies e andar de trenó, além de pescar num lago gelado. Ou fazer um safari em motas de neve, experimentar ski e ainda observar as incríveis auroras boreais.
Este ano, veio a pandemia e tudo mudou: a quadra aproxima-se e a subida de contágios não melhora, há já médicos a apelar para que simplesmente se cancelem todas as atividades de Natal e o turismo internacional continua fortemente condicionado por restrições, quarentenas, testes obrigatórios e o próprio receio das pessoas.
Segundo a “CNN“, mesmo assim na Lapónia não é altura de mandar a toalha ao chão, e ainda se tenta salvar o Natal. Com novidades e regras, muitas: os duendes usam máscaras cirúrgicas, por exemplo. O Pai Natal recebe pedidos atrás de uma proteção de vidro ou acrílico; a distância social é a regra e cumprida escrupulosamente nos habitualmente acolhedores e quentes espaços.
É que, apesar de haver uma segunda vaga do coronavírus na Europa, as novas regras da Finlândia, explica o canal, apontam para que não seja mais preciso fazer quarentena ao visitar o País, se lá for por três dias, ou seja, 72 horas; e foi a esperança de que muitos precisavam.
Quer isto dizer que, a partir de 23 de novembro, os turistas da área Schengen de 26 países da UE e da Europa terão permissão para visitar o país em lazer, desde que façam um teste à Covid-19 72 horas antes e tenham prova de que é negativo — e desde que planeiem apenas ficar por três dias. Estadias mais longas exigirão, aí sim, auto-isolamento e um segundo teste.
Estas são as regras para países de origem com mais de 25 casos da doença por 100 mil pessoas, já que os outros não têm restrições de entrada desde setembro. Paradoxalmente, na página dos Negócios Estrangeiros do país nórdico continuam a desaconselhar-se viagens não essenciais. O país estava, na semana passada, na lista dos que apresentam melhores resultados epidemiológicos: uma taxa de notificação de 14 dias inferior a 50 casos por 100.000 habitantes, mas a situação pode mudar a qualquer momento.
“O Natal definitivamente não foi cancelado”, diz, no entanto, o CEO da Visit Rovaniemi, Sanna Kärkkäinen. É a casa oficial do Pai Natal, bem acima do Círculo Polar Ártico, na Lapónia finlandesa. “Este ano será diferente dos anos anteriores, mas tenho a certeza de que os viajantes que vierem aqui, se irão certamente divertir”, disse ao canal americano.
Há uma semana, o gabinete de turismo do Visit Lapland tinha colocado uma foto no seu Instagram com três renas de ar meio desolado e a legenda: “fiquem bem e saudáveis; vemo-nos um dia”. Tudo indicava que 2020 era dado como perdido.
Mas Sanna Kärkkäinen diz que muitas empresas da região continuam a trabalhar incansavelmente, e assim têm feito desde o verão, a prepararem-se para as férias de Natal, garantindo que se sigam os protocolos de saúde e segurança à risca.
“Juntamente com o distrito hospitalar da Lapónia, criamos um modelo de viagem seguro para Covid. É uma grande rede de fornecedores e destinos turísticos aqui na Lapónia e todos estão envolvidos”, frisou o mesmo responsável. “Estamos muito empenhados em operar desta forma e, claro, esse é um dos nossos sinais aos turistas de que estamos a fazer de tudo para tornar o turismo seguro e protegido.”
As regras incluem o uso de máscara, as proteções de vidro e plástico, a redução de grupos, a aposta nas atividades ao ar livre. Mas o grande desafio para os operadores é, explicam, o tal período de permanência no país livre de quarentena: “Setenta e duas horas é uma estadia bastante curta para a Lapónia”, diz uma responsável. Isto implica tentar encaixar, em tão pouco tempo, todas as ofertas e experiências possíveis, incluindo as visitas às auroras boreais.
Mais prevenidas contra as constantes mudanças nas restrições — e contra o crescente receio de muitos em viajar em plena segunda vaga — algumas operadoras decidiram que uma mudança para uma abordagem virtual seria o melhor caminho.
O especialista em férias festivas do Reino Unido, Santa’s Lapland, está a promover videochamadas Pai Natal, Live from Lapland por cerca de 100€, para uma família com até quatro filhos. As chamadas duram dez minutos e são apresentadas por um elfo que leva a família para um passeio pela cabana do Pai Natal, antes de conhecer o velhote de barbas brancas.
Também esta terça-feira, 10 de novembro, e apesar dos esforços dos operadores locais, a gigante TUI anunciou que cancelou todas as férias e programas de inverno na Lapónia por causa da Covid-19, citando a “contínua incerteza em torno das viagens”.
“Visitar o Pai Natal é uma experiência verdadeiramente mágica, única na vida, e temos trabalhado arduamente nos últimos meses para garantir que possamos manter a magia viva e garantir às famílias férias seguras e agradáveis”, diz a operadora em comunicado.
“No entanto, com o ambiente de viagens em rápida evolução e as restrições em vigor, decidimos que, nesta ocasião, não seríamos capazes de cumprir essa promessa e queríamos eliminar a incerteza para as famílias. Saúde, segurança e o prazer dos clientes e colegas continua a ser nossa prioridade número um”, acrescentou.
O cancelamento da maior operadora da Europa será certamente um golpe duro para os operadores locais; mesmo com regras e esforços, tudo indica que, provavelmente, nem o centro mundial da magia de Natal conseguirá salvar a época de 2020.