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Lençóis Maranhenses: as suas férias de sonho ficam entre dunas e lagoas

Parece o deserto ou um cenário lunar, mas com água. Um dos parques mais incríveis do mundo fica no Brasil.
Os Lençóis Maranhenses do Brasil.

Imagine um deserto cheio de dunas de areia branca, elevadas e ondulantes, como se fosse um cenário saído de um filme. Já imaginou? Agora pense o que seria se no intervalo dessas dunas, nos vales por elas criados, existissem lagoas de água doce, enormes, aquecidas pelo sol, onde pode tomar banho e estender a toalha. Centenas delas, com água verde e azul.

Parece um sonho mas é um cenário real. E fica no Brasil, a uma viagem de avião (com escalas) de Lisboa. Os Lençóis Maranhenses sempre existiram como destino turístico, mas estão agora a ganhar atenção mundial. Em parte, devido à construção recente de novas estradas que permitem conhecer melhor a região. O aumento (e a baixa de preço) de voos para cidades próximas, como Fortaleza e São Luís, também ajudou para este boom no turismo.

Vamos começar pelo fim: para conhecer este paraíso na terra, só tem de apanhar um avião de Lisboa para São Luís, no estado do Maranhão. Consegue encontrar diversas opções de voos, com preços muito diferentes consoante as datas ou as escalas, mas há valores a rondar os 870€, ida e volta. Fortaleza também não fica muito longe, mas torna mais complicada a visita ao parque nacional — a distância é maior e o ponto de entrada diferente.

São Luís é, por isso, o aeroporto recomendado. Quando chegar lá, estará a cerca de 250 quilómetros de Barreirinhas, uma pequena cidade que se está a tornar conhecida precisamente como o ponto de partida perfeito para conhecer este incrível fenómeno natural.

A primeira estrada alcatroada entre São Luís e Barreirinhas foi criada há pouco mais de dois anos, o que explica o salto recente no turismo — que deverá continuar a crescer ao longo dos próximos anos.  

A partir de São Luís — conhecida como a cidade mais portuguesa do Brasil — encontra diversas maneiras de chegar a Barreirinhas, como táxis, transferes, carrinhas e autocarros. O melhor é marcar a viagem com a máxima antecedência possível. Não é boa ideia alugar carro, não o vai poder levar para o parque nacional dos Lençóis por motivos de segurança.

A aldeia será a sua base para explorar o fenómeno da maneira que quiser: há dezenas de possíveis percursos e rotas com partida de Barreirinhas e dezenas de empresas que oferecem tours. Estes tours têm saídas diárias e consegue marcar de véspera, ou no seu alojamento. Em muitos casos, vão mesmo buscá-lo à sua porta.

Nos Lençóis Maranhenses, os passeios costumam ser feitos em jipes ou jardineiras, carrinhas Land Rover ou Toyota de traseira aberta, com grupos de 10 a 12 pessoas. Mas também pode ir de lancha, avioneta, moto 4 e até a pé — sempre com guia.

Mesmo com caminhos novos e recentes, convém ir numa destas excursões. Alguns dos caminhos são difíceis e não é permitidos levar carros regulares. Aliás, não há sequer estradas. E tenha também em conta que, mesmo com passeios marcados, há partes com caminhadas sob um sol intenso. O ideal até é apontar para o fim do dia, com o sol a enfraquecer. Esta será uma ótima oportunidade para ver o pôr do sol nas lagoas.

Depois, dependendo dos dias que tem disponíveis, e com ajuda dos operadores locais, escolhe o seu circuito — ou vários circuitos. Os circuitos Lagoa Bonita (como o nome indica, é uma das mais bonitas), Lagoa Azul (uma das que fica com água mais tempo), Lagoa da Esperança (a única que nunca seca) são as opções mais comuns.

Pode também visitar a Lagoa das Emendadas e o Canto de Atins. Ou as praias do Caburé e os passeios pelo Rio Preguiças e Rio Formiga. A partir de setembro começa em força a temporada de kitesuf, que também leva cada vez mais pessoas à região.

Os passeios incluem normalmente paragens para tomar banho nas lagoas ou para comer. Em algumas zonas, existem vendedores de bebidas e souvenirs. Não é raro ver por lá cabras e pastores: há pequenas povoações, nómadas que moram por ali quando o tempo permite.

Embora em Barreirinhas tenha mais facilidade em conseguir alojamento de qualidade e em conta — com noites a partir de 20€, como na Pousada Rio Preguiça — , tem outras duas opções de aldeias para usar como base: Santo Amaro e Atins. Por aqui, encontra menos alojamento e menos excursões, mas as que existem são de grupos mais pequenos, capazes de criar uma experiência mais pessoal. O acesso de São Luís tanto a Santo Amaro como a Atins é feito por transfer privado.

Já só falta dizer-lhe o que vai encontrar: um parque natural, meio perdido entre a floresta amazónica e as praias do nordeste brasileiro, com 140 quilómetros de dunas de areia branca, a fazer linhas, curvas e ondulações que parecem desenhadas por um artista. E entre elas, os tais lagos, que mesmo com décadas de investigação são ainda hoje um mistério natural: água da chuva, talvez um pouco de água do mar puxada pelo vento, rios e algumas marés — ninguém parece entender muito bem este fenómeno.

Todos os anos a paisagem é diferente e muda. As dunas mudam consoante os ventos e a areia que os rios Parnaíba e o Preguiças transportam. As lagoas estão dependentes da chuva.

Outro grande mistério tem a ver com o facto de as lagoas terem peixes — possivelmente trazidos por pássaros. O que se sabe é que, durante metade do ano, de janeiro a junho, chove muito na zona dos Lençóis e os vales entre as dunas enchem-se para formar os tais lagos de água doce, alguns dos quais enormes.

Em julho, algumas lagoas estão tão cheias que se unem entre si, ou aos rios. Depois das chuvadas, a água vai evaporando ao longo dos meses seguintes. Há por isso, claramente, uma altura certa para visitar esta região: entre abril e agosto, quando as lagoas estão bem cheias. Em setembro, ainda apanha alguma água, as praias lindas e o kitesurf em alta.

O parque nacional dos Lençóis Maranhenses é um bioma costeiro marinho e foi criado há cerca de 30 anos para proteger a flora, a fauna e as belezas naturais. Com 155 mil hectares, é o maior parque de dunas do Brasil, mas a região dos Lençóis Maranhenses extravasa o parque.

Como é uma área protegida, à medida que o turismo aumenta, as autoridades estão a pensar limitar o número de visitantes a cerca de 100 por cada meio dia, antes que a situação fique fora de controlo. O novo presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, até já fala em privatizar o parque. À partida, para o proteger, mas a intenção tem sido muito criticada pelos comerciantes da zona que não querem perder o volume de negócio.

Seja como for, o melhor mesmo é marcar uma viagem a esta zona o quanto antes. À revista “National Geographic”, Carolina Alvite, ex-diretora do parque nacional, explica este fenómeno: “Parece um mundo paralelo. É como se o mar das Bahamas aparecesse como uma miragem no meio do Saara; só que ali a miragem é real.”

Carregue na galeria para ver algumas das fotos desta incrível zona natural no Brasil.

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