Viagens

Luana perdeu o medo e viajou sozinha durante 6 meses. Nem tudo foi um “mar de rosas”

A viajante de 23 anos ganhou coragem e concretizou o sonho de uma vida. Cometeu alguns erros, mas aprendeu com eles.
Tem 23 anos.

Se Luana Silva tivesse seguido a recomendação de quem lhe dizia para “não viajar sozinha porque seria muito perigoso”, nunca teria percebido o quanto aprecia a própria companhia. E também não teria conhecido uma série de pessoas incríveis — como o estranho que fez 40 quilómetros na direção oposta à sua só porque a viu pedir boleia na estrada. Felizmente, a jovem de Santiago do Cacém não deu ouvidos aos receios alheios, colocou os medos de lado e seguiu o seu instinto.

“Não devemos deixar de fazer o que queremos, só temos de perceber os perigos associados e confiar na nossa intuição” confessa à NiT a viajante de 23 anos, que partiu com uma mochila às costas para uma aventura de seis meses pela Europa. Sempre foi uma apaixonada por história e por outras culturas, embora nunca tenha feito grandes viagens quando era mais nova. Ainda assim, “tinha o sonho de conhecer o mundo”. Recorda-se que tinha pouco mais de 10 anos quando viu dois filmes que a marcaram para sempre: “O Lado Selvagem” e “Comer, Amar, Orar”.

“Lembro-me de os ver e comecei logo a ter esta vontade e curiosidade em conhecer sítios diferentes, não só para ir viajar, mas para me conhecer melhor. Queria viver essa experiência”, conta. Porém, ainda esperou uns quantos anos até conseguir comprar um bilhete de avião só de ida. 

Após ter concluído a licenciatura em História, em Lisboa, permaneceu na capital para trabalhar durante um ano e juntar dinheiro para realizar uma “aventura grande”. Enquanto o fazia, aproveitava para conhecer o máximo de Portugal, com escapadinhas de norte a sul do País. Em miúda acampava muito, pelo que sempre teve uma preferência por “destinos de natureza”.

Entretanto, chegou o dia de partir para uma viagem de seis meses. Em outubro do ano passado, voou para Itália, o primeiro país dos mais de 10 que conheceria. “Foi a primeira vez que saí assim da minha zona de conforto, mas como era algo que queria há tanto tempo, estava muito entusiasmada, apesar de ter feito vários erros que podiam ter sido evitados”, confessa.

 

Olhando agora para trás, confessa que poderia ter tido outros cuidados, como partilhar mais vezes a localização com os amigos e família quando decidia, de repente, mudar de planos. “Quando se viaja sozinho, é muito importante partilhar onde estamos e estarmos informadas sobre os locais para onde vamos. Claro que aqui na Europa não há grandes diferenças culturais, mas percebi que há países mais conservadores que outros”, adianta. 

Quando chegou à Hungria, não esperava encontrar um país com pessoas mais fechadas do que no sul da Europa, por exemplo. Afinal, “não tinha lido muito sobre o País” e, se o tivesse feito, “poderia ter evitado algumas situações que foram desconfortáveis, sendo mulher”. 

“Se fazemos algo comum para nós, algumas dessas coisas podem não ser muito bem vistas, como certas roupas que usamos, ou até mesmo o facto de deixar o homem entrar primeiro nos transportes públicos”, conta. Se, por um lado, sentiu que as pessoas eram mais conservadores nos países do leste, foi no sul da Europa que se sentiu mais insegura.

“Passei um mês e meio na Itália, um país onde ainda existe muito essa mania de dizer piropos, assobiar ou até mesmo tocar-nos, como me aconteceu em Nápoles”, recorda. Nunca se vai esquecer, também, da primeira semana que passou na ilha de Corfu, na Grécia. Estava numa rua mais afastada do centro e foi abordada por um homem numa mota, que lhe dirigiu uns piropos. “Perguntou-me se queria ir com ele e começou a seguir-me, e a apitar atrás de mim. Fiquei muito assustada, tentei ignorar,  depois comecei a gritar e a falar uma língua inventada, para ele pensar que era maluca, e acabou por me deixar em paz”, desabafa.

As viagens a solo são sempre “muito romantizadas” nas redes sociais, mas, para Luana, é importante mostrar que nem sempre é um mar de rosas. Sim, é possível que se apaixonem por um estranho como nos filmes e vivam um amor durante uma semana — como lhe aconteceu —, mas também é preciso aprender a dizer adeus às pessoas incríveis que conheceram para continuar esta jornada pelo mundo. 

“Sempre fui muito apegada, mas neste tipo de viagens estão sempre a entrar e a sair da nossa vida. Foi, por isso, uma aprendizagem que tinha de fazer internamente”, diz. Outra questão que pouco se fala é a solidão que se sente, principalmente nos momentos mais frágeis. “Houve uma altura em que fiquei doente e estava ali sozinha, sem ninguém para me ajudar. Às vezes é complicado lidar, mas são coisas que, no meu caso, sempre se resolveram.”

Na República Checa, por exemplo, esteve lá duas semanas sem conhecer praticamente ninguém e sentia “falta de comunicação e de estar com outras pessoas”. “Um dos maiores medos e ansiedades era ficar muito tempo sozinha e desprotegida. Pensava muitas vezes que podia ser assaltada, apesar de ter algumas estratégias, como colocar a bolsa à frente, tentar não andar muito à noite”, exemplifica.

 

Por outro lado, aprendeu também que o mundo, afinal, “não é assim tão triste e condenado” como pensava. Ao longo dos seis meses, viu “generosidade em todo o lado” e foi surpreendida vezes sem conta.

Um dos momentos que mais a marcou aconteceu quando estava a tentar ir para Positano. Estava com duas raparigas que conheceu no hostel, com cartazes na estrada a pedir boleia, mas nunca parava. “Entretanto chegou um senhor que parou e levou-nos. Em conversa com ele, percebemos que ele queria ir para o lado oposto, mas como nos viu ali decidiu levar-nos e fazer uma boa ação. Foram 40 minutos de carro, mas no final agradeceu-nos porque o fizemos voltar a uma zona que já via há muitos anos”, recorda a jovem.

Quanto às estadias, escolhia geralmente pernoitar em hostéis por ser opção mais em conta. Ao início optava por ficar em quartos femininos, mas depois aventurou-se pelos mistos e “gostava ainda mais” — mas nunca em nenhum com mais de oito camas. No final da viagem, após seis meses e 12 países, gastou 4.250€.

Luana aprendeu com os pequenos erros e outras tantas escolhas acertadas que fez durante a jornada. Foi isso que a incentivou a partilhar nas redes sociais, quando regressou em março deste ano, tudo o que aprendeu como viajante a solo — tanto o lado bom como o mau. O mais importante é conseguir incentivar outras pessoas a fazer o mesmo, caso tenham esse sonho. 

“Todos temos ansiedade e medos que são completamente normais e justificáveis, mas é importante identificar se é mesmo um medo nosso, ou de alguém que sempre nos disse que era perigoso”, reforça. Para a jovem, o mais importante é “confiar sempre na intuição”. 

Quanto a dicas de segurança, a viajante aconselha a saber de cor o nome de outro hostel na cidade, para nunca dizer onde está hospedada. “Dizer que temos namorado também pode ajudar em algumas situações, ou ter um anel no dedo e dizer que é de noivado. Se perguntarem se estamos sozinhas, a resposta é sempre não, tal como acontece em Portugal”, diz.

A seguir, carregue na galeria para ver algumas fotografias desta aventura pela Europa.

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