Mey Delgado estava no aeroporto de Barcelona quando soube que o voo para Lisboa estava atrasado 20 minutos. A venezuelana, que vive em Lisboa desde 2017, embarcou esta segunda-feira, 28 de abril, num avião da TAP em direção à capital portuguesa. Quando descolou da cidade espanhola pelas 11h40, não estava à espera de viver uma situação digna de um filme. Assim que aterrou em Lisboa, pelas 13 horas, ligou o telemóvel e foi inundada por mensagens de familiares e amigos.
“Ainda não sabíamos do apagão. Só quando liguei a rede é que começaram a chegar-me várias mensagens a perguntar se em Portugal havia luz e se tinha chegado bem”, começa por contar à NiT a fisioterapeuta de 32 anos. “Quando o avião aterrou em Lisboa, começou a dar voltas ao aeroporto e foi-nos dito que não podíamos sair devido a um corte elétrico. Pediram-nos para manter a calma porque íamos ficar até três horas lá dentro.”
Cerca de dez minutos depois, aconteceu o pior: Mey deixou de ter rede no telemóvel. À medida que o tempo passava, vários passageiros começaram a sentir-se mal. “Comecei a ficar nervosa e com muita ansiedade. Algumas pessoas ficaram calmas, outras já estavam muito nervosas, a perguntar o que estava a acontecer”, recorda. “Depois, toda a gente percebeu que não era um problema só em Portugal.”
A venezuelana, que viajava sozinha, sofre de claustrofobia e com o passar do tempo, sentiu que estava prestes a ter um ataque de pânico. “Tentei ler um pouco, mas quando fiquei sem serviço e sem saber o que estava a acontecer, fiquei nervosa e pedi a uma das pessoas que estava ao meu lado se me podia ir buscar água.”
Mey partilha que os assistentes de bordo tentaram acalmar os passageiros e foram-lhes oferecidas garrafas de água, mas não comida. Cerca de duas horas e 45 minutos depois, desembarcaram no Terminal 2, onde apanharam um autocarro até ao Terminal 1. “Durante este percurso, já conseguíamos ver que havia muito trânsito na rua. Num dos semáforos perto do aeroporto, houve um acidente com dois carros”.
A fisioterapeuta recorda que viu dezenas de pessoas a caminharem na rua, a carregarem as malas. Por sorte, só viajava com a bagagem de mão e não teve de enfrentar as longas filas para tentar recuperar os seus pertences.
“Tinha mesmo muita gente no aeroporto, e quando saímos, havia polícias a guiar-nos até à saída”, partilha. “Todas as lojas estavam fechadas, vi muitas pessoas deitadas no chão à espera”, conta, acrescentando que tentou várias vezes apanhar um táxi, mas era sempre rejeitada pelos condutores que ali estavam. “Não tínhamos Internet para apanhar Uber, não havia autocarro, nem metro, nem nada”.
Sem possibilidade de apanhar transportes para casa, a venezuelana decidiu ir a pé até à residência, em Santa Apolónia. Ao fim de duas horas de caminhada, conseguiu chegar em segurança e, exausta, acabou por adormecer. Acordou horas depois com os festejos dos vizinhos a celebrar o regresso da eletricidade.
Mey mudou-se da Venezuela para Portugal em 2017, devido à crise que desencadeou no país sul-americano, provocada pela desvalorização do petróleo no mercado internacional e pela corrupção política. Muitos residentes e estrangeiros abandonaram a região para procurar um novo lar e a fisioterapeuta foi um deles. “Lá, estava habituada a este tipo de situações. Mas a pior parte foi mesmo ficar presa no avião.”