Nesta igreja, os patos de borracha são deuses. Há missa todos os domingos

Pode parecer mentira ou até mesmo uma brincadeira, mas não é. A Igreja Patólica (ou Paticano) fica no bairro de Lavapiés, em Madrid, Espanha, e, todos os domingos, organiza uma missa aberta que pretende celebrar os seus maiores deuses: os patos de borracha.

O criador deste conceito bizarro chama-se Leo Bassi, de 73 anos, que é também o padre da igreja. Antes de lançar o projeto, Bassi já se dedicava à sátira política. Em 2009, criou um dos seus mais famosos espetáculos, o “Utopia”, que percorreu várias salas em Espanha, Itália e Brasil, onde refletia sobre o “por que da esquerda política e dos sonhadores da solidariedade serem os menos ouvidos no mundo”.

“A verdade é que fui profeta, porque agora está pior e a extrema-direita está a crescer em todos os lugares”, começa por contar à NiT. “Mas, de qualquer forma, queria simbolizar a ideia de algo humilde e pequeno que juntasse as pessoas. E foi aí que pensei nos pequenos patos de borracha, que são amáveis, mas não têm poder.”

Depois de refletir sobre a ideia, Bassi começou a incluir então um pato de borracha de forma permanente no espetáculo “Utopia”. Para encerrar cada sessão, mostrava um exemplar gigante do brinquedo em palco.

“Durante uns três anos, o espetáculo teve sucesso e quando terminou, esta ideia continuou a crescer em mim”, recorda. “Somos todos pequenos patos e não temos orgulho disso. Estamos a deixar a política para pessoas egoístas, que acham que são melhores, e decidi criar algo que honrasse a ideia de sermos pequenos.”

A 28 de dezembro de 2012, decidiu fundar a Igreja Patólica, em Madrid, cidade onde vive. A data assinala o Dia dos Santos Inocentes, uma celebração católica que mistura a história da Bíblia com o humor, além de convidar os fiéis a pregar partidas e a criar piadas.

 

 

 

 

 

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A igreja tem “pelo menos mil patos”

Nascido em Nova Iorque, o ator sempre teve uma ligação especial com o mundo das artes — os pais eram artistas de circo e costumavam andar em digressão pelos Estados Unidos, antes de estabelecerem nesta zona de Espanha em 1940.

Quando cresceu, Leo treinou a arte de ser palhaço tradicional e juntou-se à família, formando o Trio Bassi. Ao longo dos anos, tornou-se cada vez mais especialista em malabarismo com os pés e decidiu seguir uma carreira a solo que o levou a viajar pelo mundo com espetáculos de rua.

Hoje, com a Igreja Patólica, organiza casamentos, batizados e até funerais. Mas tudo a brincar e sem qualquer consequência oficial, claro. À NiT, confessa que não faz ideia de quantos patos de borracha tem na igreja, mas são “pelo menos mil.”

“Os patos são uma visão política e representam a ideia de algo pequeno e sem poder, mas amável. E nós, pessoas, somos assim também”, sublinha. “Temos patos de diferentes tamanhos e estilos.”

A igreja dispõe de uma zona reservada às missas e de um santuário. Toda a decoração é feita com patos e há vários pormenores interessantes. Um deles é um “documento” na parede, em que se leem os dez mandamentos do espaço, que incluem “amar o bom humor sobre tudo e todas”, “não se leve a sério” “não cometa atos impulsivos que não sejam divertidos”, entre outros.

O Paticano recebe três missas aos sábados e domingos. A entrada, tal como acontece em igrejas normais, é gratuita, e os seis bancos de veludo em frente do altar estão quase sempre cheios. 

Durante cerca de 45 minutos, Leo Bassi faz um espetáculo extravagante que envolve uma escova de sanita e um par de ombreiras. No início de cada evento, lê também os 10 mandamentos da Igreja Patólica. Além disso, todas as semanas, traz um novo tema relacionado com as notícias mais virais dos últimos. Tem por hábito refletir sobre os acontecimentos atuais, como a igualdade, o orgulho gay, a política, entre outros. 

Um dos pontos altos é o momento em que faz um truque de magia no qual transforma água em vinho. “A única coisa útil que Jesus fez”, costuma dizer enquanto dança ao som de uma música pop animada.

Relativamente aos casamentos, Leo Bassi revela à NiT que organiza entre 10 e 20 cerimónias por semana. “É divertido, claro, mas fazemos tudo com muita sinceridade, porque é fantástico para nós abençoar o amor”, partilha. “Afinal, o que é casamento? São duas pessoas que se amam e têm orgulho de mostrar este amor às pessoas.”

Tanto para as missas como para os casamentos, a Igreja pede um donativo de 5€ para manter o projeto vivo. Mas essa doação não é obrigatória. “Também oferecemos um certificado de casamento, mas claro que não é real”, explica. “Mas em muitos casos, temos pessoas que se casam na nossa igreja e depois vão para oficializar a união noutro sítio.”

O Paticano está aberto todos os dias, com entrada é livre. No entanto, para as missas de fim de semana, é preciso fazer reservas através da página de Instagram do projeto.

Como lá chegar

A partir de Lisboa, encontra voos de ida e volta para Madrid, com preços a partir de 37€, em novembro. Se preferir sair do Porto, o valor ronda os 34€. Quando lá chegar, a forma mais rápida de ir até a Igreja Patólica é de carro, numa viagem de cerca de 27 minutos. Pode também apanhar os autocarros 8, 10 e 3, num percurso que irá durar à volta de 50 minutos. 

Carregue na galeria para ver algumas fotografias do Paticano.