Para a família algarvia Silva Pereira, mundiar significa andar pelo mundo, deixando-se encantar pelos caminhos de outras paragens, culturas e paisagens. E o casal Oriana e Hélder, mais os “dois rebentos irrequietos” — o mais velho com 10 anos e a mais nova com cinco — têm uma vontade insaciável de o fazer. Se pensa que a Família Mundiar (nome pelo qual é conhecida nas redes sociais) “inventou” um verbo novo, não podia estar mais enganado: mundiar é, na verdade, um termo muito popular na Amazónia (ou seja, em português do Brasil) e significa encantar ou enfeitiçar.
A epopeia do clã começou em 2017, ano em que nasceu a mais nova, que com cinco meses já andava a conhecer outros países da Europa. Contudo, esta paixão pelas viagens surgiu há muito mais tempo — pelo menos para os pais.
Oriana Silva, professora de turismo na Escola de Hotelaria e Turismo do Algarve, cresceu a ouvir falar de África e da Índia: os pais estiveram em Angola e a mãe viveu parte da infância na Índia. Chegou a viajar para o país asiático em 2005, com a mãe e a tia, para conhecer a casa onde viveram e a escola onde estudaram. Foi nessa altura que o “bichinho das viagens” começou a crescer.
Por seu lado, Hélder é médico veterinário e, ainda antes de ser pai, já tinha feito um safari no Quénia — e mal podia esperar para repetir a experiência. O casal conheceu-se há mais de uma década e viajaram pela primeira vez juntos em 2008, para o Vietname. Dois anos depois, casaram e escolheram a Namíbia como destino de lua-de-mel.
“Antes de termos filhos viajávamos bastante, pelo menos uma vez por ano. Depois da lua-de-mel ainda passámos duas semanas na Malásia, na ilha de Bornéu, que foi quando engravidei”, começa por contar à NiT Oriana. Se, como diz o ditado, quem sai aos seus não degenera, então, é provável que os filhos de viajantes apaixonados também gostem de viajar.
O primeiro filho do casal começou a fazê-lo em 2012 e a mais nova viajou pela primeira viagem quando tinha apenas cinco meses: os quatro andaram três semanas a conhecer a Bósnia e a Croácia. Ainda antes de começarem a viajar em família, o casal decidiu criar, em 2015, o blog “Bora Lá Mundiar”, uma espécie de diário e livro de recordações.
“Sou formada em comunicação social e gosto de escrever. A ideia do blog surgiu um pouco nessa perspetiva: poder escrever e partilhar as viagens em jeito de crónica ou roteiros. Ao mesmo tempo, vai servir como legado para os nossos filhos, que vão ter ali um livro de recordações online quando crescerem”, explica.
Apesar de continuarem a mundiar a dois, “para namorar um bocadinho”, também costumam viajar os quatro — e é “bem mais desafiante com os miúdos”. “Precisamos de mais pausas, de ter mais rotina. Tem de haver sempre comida a tempo e horas, paragens para casa de banho, há uma maior preocupação em termos de saúde”, sublinha Oriana.
Com os mais novos é praticamente impossível traçar um plano e conseguir cumpri-lo, mas o mais importante é organizar experiências que os entusiasmem. É por esse motivo que, em praticamente todos os países que visitam procuram fazer coisas diferentes.
Em 2019, pegaram numa autocaravana e fizeram uma roadtrip pela Eslovénia durante 12 dias. Quando, em 2021, viajaram até à Costa Rica, nunca mais se esqueceram do dia em que desceram de slide no meio de uma floresta tropical. Ou daquele amanhecer na Jordânia, no ano passado, quando fizeram um passeio de camelo.
No verão de 2022, os Silva Pereira — mais conhecidos como Família Mundiar —, passaram 14 dias na Jordânia, o “sítio mais exótico” onde levaram os filhos até agora. Apesar da língua e cultura muito diferentes, não sentiram dificuldades em adaptar-se — e até fizeram amizades com alguns miúdos locais.
Numa manhã, em Wadi Numeira, quando algumas famílias jordanesas faziam piqueniques e os miúdos chapinhavam no pequeno curso de água do Wadi, a filha tratou de logo de entrar nas brincadeiras. “A nossa menina tinha inventado um escorrega com o irmão, mas quando as meninas jordanas a chamaram para brincar na água, foi sem medos”, recorda Oriana. Durante uns bons minutos, estiveram ali a falar “a linguagem universal das meninas”.
Outra das experiências que viveram no país do Médio Oriente foi terem ficado a dormir numa caverna, que é considerado um dos hotéis mais pequenos do mundo. Tinha uma casa de banho partilhada, vista para castelo e uma vizinhança peculiar. Foi o sítio “mais estranho” e húmido onde já dormiram, mas foi também “inesquecível”.
“Procuramos este tipo de experiências, situações diferentes do nosso dia a dia. Escolhemos destinos que tenham diversas coisas para oferecer, de preferência ligadas à natureza, à vida selvagem” — sim, porque os miúdos são loucos por animais. O mais velho quer ir a Sumatra (ilha na Indonésia) para ver os tigres. Ela, com apenas cinco anos, sonha ir à Disneyland, mas também quer ir à China conhecer os pandas. “Ambos gostam de animais e de desenhar. Querem sempre um caderno e já temos alguns registos interessantes. Basta dar-lhes papel e canetas — e divertem-se muito”, conta a mãe.
Depois de conhecerem a Jordânia e Marrocos em 2022, os planos para este ano são ligeiramente diferentes: vão viajar até à Ásia, onde planeiam ficar mais tempo, cerca de dois meses. Querem ir conhecer o Sri Lanka, a Indonésia e Singapura, países que escolheram “muito pela vida animal” que tanto agrada aos miúdos. Esperam ver elefantes no Sri Lanka, viajar de comboio, fazer um trilho na Sumatra para observar orangotangos e nadar com tartarugas. “Sabemos que são estas experiências que os vão marcar mais”, conclui a mãe.
De seguida, carregue na galeria para ver algumas fotografias das aventuras desta família de quatro pelo mundo.
