Viagens

O casal português que vendeu tudo para viajar pelo sudeste asiático com os 2 filhos

Compraram um bilhete só de ida para Bali em setembro e não tencionam regressar tão cedo.
Não têm data de regresso.

Venderam a casa e o carro, desfizeram-se de praticamente tudo o que tinham, colocaram os bens essenciais numa mochila e compraram um bilhete só de ida para Bali, na Indonésia. Esta é a história da família portuguesa que deixou tudo para trás e partiu com os dois filhos à descoberta do sudeste asiático. É na página do Instagram “Four in Bali” (Quatro em Bali) que vão partilhando as aventuras e desventuras de dois adultos e dois miúdos desde que se despediram de Portugal em setembro de 2022.

Filipa Abreu, de 39 anos, e Djalmo Gomes, de 41 anos, são de Lisboa e estão juntos há mais de 20 anos. Casaram em 2012 e passaram a lua-de-mel num destino de sonho para (quase) todos os casais: Bali. Ficaram completamente rendidos à beleza natural daquele país e, quando regressaram a casa e à “vida normal”, só pensavam na aventura seguinte.

Já viajaram para mais de 30 países e só a pandemia da Covid-19 os conseguiu parar — mas não por muito tempo. Em setembro de 2022, decidiram fazer uma loucura: um périplo pelo sudeste asiático com os dois filhos, André, de cinco anos, e Daniel, de dois. 

“Desde que visitámos a Tailândia e a Indonésia que queríamos voltar. E também queríamos deixar a nossa zona de conforto e partir sem data de regresso. A conjectura da vida permitiu que fosse este o momento ideal. O André, o nosso filho mais velho, ainda não está no ensino obrigatório e a nossa situação profissional também permitiu”, conta à NiT o casal.

Apesar de terem vendido tudo, “uma consequência” para conseguirem “financiar a viagem, desmaterializar e descobrir outras formas de viver”, não largaram os empregos que tinham em Portugal. Filipa é médica homeopata e continua a dar consultas online, um trabalho que tem sido desafiante por estarem regularmente em sítios remotos e nem sempre com ligação à internet. Já Djalmo é empreendedor, mas os projetos que estavam em andamento quando saiu do País ainda estão “um pouco parados”, mas já começaram a surgir outros.

Quando se despediram de Portugal, o principal objetivo era viverem em Bali, tanto que já tinham hotéis e casas marcados para os primeiros dois meses: iam conhecer melhor a cidade, visitar as escolas e procurar o melhor sítio para se instalarem por mais tempo. Contudo, os planos mudaram.

Assim que chegámos, percebemos que as coisas estão bastante mais caras do que estávamos à espera, sobretudo o alojamento. É muito difícil encontrar casas a preços razoáveis, existe muita procura e pouca oferta”, revelam.

Face a este constrangimento, decidiram que iriam aproveitar para conhecer outros locais. Após dois meses em Bali, partiram para a Malásia e ficaram por lá cerca de três semanas. Percorreram Kuala Lumpur, Penang e Langkawi. Depois, seguiram viagem para a Tailândia, onde conheceram mais de 10 locais diferentes em 45 dias, desde os mais concorridos, como Phuket, aos menos conhecidos, como Koh Jum. Há cerca de um mês, regressaram à Indonésia, desta vez para conhecerem melhor a ilha de Lombok.

“Não temos roteiro, nem sentimos obrigação disso. Temos tempo para aproveitar os locais com calma, perceber as suas culturas, a maneira como as pessoas vivem e, por vezes, até integramos a comunidade. Esta forma de viajar tem vantagens muito significativas”, confessam.

Como já tinham estado na Ásia, o regresso não foi um choque e a adaptação tem sido fácil, mas há sempre alguns desafios pelo meio. Afinal, viajar com dois miúdos pode ser uma tarefa complicada: é preciso ter um ritmo diferente. “Por vezes, não podes andar rápido, tens que estar condicionado aos limites de duas crianças. Outras vezes, é preciso parar para que todos possamos descansar. Chegar aos locais é sempre um desafio, as viagens são bastante longas”, diz o casal. 

Antes de partirem para esta aventura no sudeste asiático, começaram logo a envolver e incluir o filho mais velho na preparação da viagem. Liam em conjunto sobre a Indonésia e começou a fazer trabalhos para a escola sobre a cidade onde ia morar. Quanto à mudança de um continente para o outro, os pais confessam que há dias mais exigentes que outros. 

“Para o Daniel, que ainda é pequeno, está tudo bem. Dorme em qualquer lado, não temos nenhuma restrição alimentar e, por isso ,é fácil. Já com o André, tudo é mais exigente. Precisa de novidade constante, é mais seletivo com as atividades e isso exige mais de nós. Por vezes, estamos todos exaustos”, confessa.

Um dos momentos mais complicados, por exemplo, aconteceu no final do mês de dezembro, quando o cansaço tomou conta dos quatro. Depois de um mês e meio a percorrerem o sul da Tailândia, a mudarem de hotel de dois em dois dias e a fazerem viagens de 12 horas, ficaram todos doentes. “O André perguntou, pela primeira vez, o porquê de termos tomado esta decisão. E ainda demonstrou saudades da família e dos amigos. Aprendemos da pior forma os nossos limites e, no futuro, não vamos cometer esse erro novamente”, explicam.

A verdade é que os miúdos deixaram de ter a rotina normal da idade deles, como irem à escola das 9 às 17 horas, irem ao parque, brincar emcom outros meninos ou visitarem os familiares ao fim de semana. “Viajamos com pouca bagagem, então não há mais do que uma pequena mochila onde podem levar poucos brinquedos. A maior parte são coisas que eles vão encontrando, como paus, pequenos objetos ou brinquedos que encontramos quando fazemos sessões de limpeza de lixo na praia”.

No meio da mudança constante do dia a dia, o casal tenta manter, pelo menos, os horários de comer e dormir. O resto acaba por ser bastante flexível.

A comida tem sido um dos maiores desafios de viajar com os filhos pequenos. Afinal, nem sempre é fácil fugir do picante. Às vezes, chegam a pedir dois ou três pratos diferentes até acertarem naquele que os miúdos vão comer. A parte positiva é que vão experimentando sempre comidas diferentes, mas continuam a preferir alugar apartamentos com cozinha — e não só.

Se enquanto casal ficávamos em qualquer lado que tivesse uma cama, com os miúdos não pode ser assim. Temos que escolher locais com boas condições de higiene, quase sempre com ar condicionado e água quente. E quanto procuras um alojamento na Ásia com tudo isto, vai ficar sempre mais caro, mas aqui não facilitamos”, sublinha.

Embora as viagens que fazem os quatro sejam maioritariamente focadas na natureza, a segurança e o bem estar estão sempre em primeiro lugar. “Por vezes, existem limitações, como não puderes subir a um vulcão ou não fazer aquele passeio de barco mais arriscado.”

Por outro lado, tem sido uma aprendizagem diária e colecionam momentos que nunca vão ser esquecidos. “Quando percorres tantos países, cidades e ilhas em tão pouco tempo, existem sempre momentos muito especiais”, como quando conheceram Nusa Penida, um local que surpreendeu “pela sua beleza natural, por ser muito selvagem e pelas suas praias lindíssimas muito pouco visitadas”. Já na Tailândia, nunca se vão esquecer do dia em que estiveram sozinhos numa praia cheia de coqueiros na ilha Koh Jum, ou quando mergulharam no mar azul de Koh Lipe.

Até ao momento, não têm data definida para regressar a Portugal e não pensam no assunto. “Ainda existe um longo caminho a percorrer e muitos sítios que queremos ir. Temos o objetivo de encontrarmos um sítio onde nos sentimos em casa e ficar por um tempo mais prolongado”, revela o casal, que pode ir acompanhando todos os dias no Instagram.

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