Um filho muda drasticamente a vida de muitos casais. As rotinas ficam diferentes, as preocupações tornam-se noutras e as coisas que antes faziam acabam por se transformar apenas numa memória. A maior parte evita viajar enquanto os filhos são pequenos, mas não foi isso que José Pedro Guerreiro, de 31 anos, e Ana Simões, de 27, fizeram.
Conheceram-se em 2011, num encontro de jovens da igreja que estava a decorrer em Marinhais, de onde Ana é natural — ele é de Santiago do Cacém. “Tivemos a sorte de ficar no mesmo grupo. A partir desse dia começámos a falar nas redes sociais e a namorar à distância”, conta o casal à NiT. Desde então que estão juntos e, há 20 meses, nasceu Matilde, com quem descobrem o País e o mundo.
Fazem-no numa carrinha que compraram em setembro de 2021. A Volkswagen Transport 4 de 1994 custou cerca de quatro mil euros, além de todo o investimento posterior que fizeram. “Sempre sonhei em ter uma carrinha e transformá-la”, conta José. O processo de alteração foi bastante caseiro. Contaram com a ajuda do seu pai, que é carpinteiro. “Ajudou com o isolamento, forro, móveis. Foi tudo feito nas folgas, fins de semana e intervalos dos trabalhos”, acrescenta. Ana é fisioterapeuta numa unidade de cuidados continuados, enquanto o namorado é técnico de planeamento no porto de Sines. A pequena Matilde também ajudou com a parte da pintura.
Para eles, a van de sonho é rústica e não totalmente perfeita. “Como é feita por nós tem muito mais valor, e não queremos grandes luxos, basta ter um pouco do que precisamos”, assumem. A família consegue dormir lá dentro sem qualquer problema, porque apostaram num colchão bastante confortável.
Na altura em que a filha fez um ano, embarcaram na primeira viagem em família dentro da carrinha. Percorreram toda a Estrada Nacional 2. “Foi desafiante porque foi a primeira vez que saímos com a Matilde numa viagem grande”, revelam. Tiveram de ter em consideração toda a logística que uma criança pequena envolve, como os banhos e a comida. Além disso, não sabiam como é que se iria comportar. Felizmente, “ela adaptou-se facilmente e portou-se muito bem”.
“No geral correu bem e foi especialmente giro porque nessa semana, que era no final de maio, apanhámos todo o tipo de temperaturas.” Não faltou chuva nem sol. Uma semana depois, quando a concluíram, sentiam que tinham passado por todas as estações do ano. “Apanhámos temperaturas a rondar os cinco graus e, no dia seguinte, imenso calor”, apontam.
Apesar de a terem concluído com sucesso, aquela pequena aventura não esteve isenta de percalços. Tal como já aconteceu a muita gente, a carrinha decidiu avariar na pior altura, quando estavam a ir de Marinhais até Fátima, durante a noite. “Parecia que era bruxedo. Andámos meses e meses e nunca aconteceu nada. Agora que íamos viajar é que a van parecia querer avariar”, brinca o José Pedro Guerreiro. Na manhã seguinte viu que se tratava apenas de um problema nas ventoinhas do radiador, que rapidamente ficou resolvido.
A bordo da Volkswagen já conheceram outros pontos do País. Percorrem a Costa Vicentina, foram ao Alqueva, estiveram alguns dias na zona Oeste, nomeadamente em Peniche, visitaram a Ericeira e a zona de Sintra. Ainda não viajaram pelo estrangeiro com ela, embora já a tenham levado a Espanha para porem gasóleo. “Quando fomos ao Alqueva estávamos perto, então aproveitámos”, brincam.
Em março planeiam ir à Serra Nevada e, em abril, vão descobrir novos recantos de Portugal. No dia 25 desse mês partirão de Santiago do Cacém, onde vivem atualmente, para Aveiro. Vão seguir para a Serra da Estrela — embora não tenham a certeza se a carrinha sobreviverá à subida — e irão rumar a Monsanto, descendo depois pelo Alto Alentejo até à barragem de Alqueva. “Vai ser muito desafiante”, afirmam. Procuram sempre conhecer sítios novos e no Google Maps têm apontados alguns destinos por onde querem passar quando tiverem dias disponíveis.
A família não viaja apenas por Portugal. Juntamente com Matilde, já conheceram diferentes pontos do globo. Em novembro de 2021 foram para o Dubai, sendo aquela a primeira grande viagem da filha. O voo demorou cerca de oito horas, durante as quais a pequena dormiu que nem um anjo. “Durante as três semanas que lá passámos também se adaptou muito bem”, recordam.
Seguiu-se Roma, em março do ano seguinte. Naquela altura a filha já tinha nove meses, e a “logística do avião já foi mais difícil porque ela se queria mexer muito. Foi difícil mantê-la no lugar”, confessam. No entanto, assim que desembarcaram, ela portou-se bastante bem e mostrou muito interesse na cidade italiana.
A viagem mais recente, e aquela que mais marcou a família, foi a de Bali, em novembro de 2022. Já tinha sido planeada há muito tempo, mas com o nascimento da filha, José e Ana viram-se forçados a adiá-la — algo que acabou por recompensar. “O mês e meio que lá passámos foi muito bom para ela e para nós.”
Quando em Bali, passaram por uns miúdos que brincavam com uns objetos que faziam um barulho quase como se fossem pistolas. Atualmente, quando os pais perguntam à Matilde “o que é que os meninos faziam?”, ela responde “pum!”. “Em Bali ela já tinha mais noção porque era mais crescida e já interagia muito com as pessoas”, explicam.
Se a bebé mostrava interesse nos habitantes, também eles ficavam fascinados com ela. As famílias tradicionais balinesas convidavam-nos a conhecerem as suas casas, jantavam juntos e, nos restaurantes, havia sempre uma funcionária que brincava com Matilde enquanto os pais comiam, para que também eles pudessem ter momentos a sós. “Ali existe muito esta tradição e cultura. Em Portugal ela não vai ao colo de muita gente, e ali ia ao de todos”, contam. Até com macacos a pequena interagiu. “É destas coisas que ela se vai lembrar quando crescer.”
Bali tornou-se num dos seus destinos favoritos, e já planeiam regressar à Indonésia, desta vez à ilha de Lombock. A bordo da Volkswagen pretendem ir passar duas semanas às Canárias e depois conhecer o resto da Península Ibérica.
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