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O corrimão em Braille num miradouro de Itália que descreve aos cegos como é a paisagem

Está instalado no Castelo de Santo Elmo, em Nápoles, com vista para o Monte Vesúvio.
Imagem partilhada no Instagram.

Existe há mais de quatro anos, mas chegou a todo o mundo e tornou-se viral esta semana pelos melhores motivos. Em Nápoles, no Sul da Itália, o Castelo de Santo Elmo viu nascer, em janeiro de 2017, um trabalho inclusivo de um artista local, que consiste num enorme corrimão metálico com inscrições em Braille que percorre todos os caminhos e escadarias da sua Praça das Armas.

Segundo noticiava então o “Globo“, “Follow the Shape” é o nome do trabalho do artista italiano Paolo Puddu, formado na Academia de Belas Artes napolitana. Nesta fortaleza da Idade Média por onde passam normalmente milhares de turistas todos os anos, a vista do topo da colina é de 360 graus para toda a cidade e envolvente, com o imponente Monte Vesúvio sempre por perto e no horizonte,

A iniciativa, que ganhou um concurso chamado “Uma obra para o castelo”, cujo tema era “Apenas um olhar — relações e encontros”, permite a todos os deficientes visuais que visitam o Santo Elmo que entendam toda a história e paisagem, num momento a puxar ainda à poesia e à imaginação, através da experiência de seguirem o corrimão com os seus dedos.

Nele estão então em braille breves descrições das vistas deslumbrantes do castelo, bem como citações de poetas e autores em italiano e inglês, nomeadamente frases do livro de 1919 “A Terra e o Homem”, do escritor napolitano Giuseppe De Lorenzo.

Os leitores de braille são encorajados a “seguir a forma” à medida que descobrem versos do romance.

Durante os primeiros quatro anos de vida, a importante iniciativa passou despercebida a muitos, mas eis que em agosto de 2021 uma imagem da grade do Castelo de St. Elmo se tornou viral.

Segundo noticiava a “Euronews” esta quarta-feira, 18 de agosto, tudo começou como normalmente se iniciam estas histórias: alguém que reparou no detalhe e o partilhou, e por algum motivo — o tema da inclusão, o timing, o que seja — a imagem viralizou instantaneamente no Twitter e no Instagram.

Além da descrição do corrimão, quem partilhou pedia “mais disto, por favor”, o que poderá ter ajudado à dimensão que ganhou.

Segundo explicou entretanto à agência de noticias Dimitrios Buhalis, professor da Universidade de Bournemouth, normalmente as “pessoas com deficiência têm sido discriminadas e excluídas de muitas partes da sociedade, especialmente de coisas que não são essenciais para a vida, como o lazer”.

Por isso, este autor de vários livros sobre gestão de turismo acessível acredita que os cidadãos precisam mudar sua atitude em relação à inclusão e que passos como estes ajudam. “Muitas pessoas vêm como preto ou branco, acessível ou não acessível … na realidade, nada é absolutamente acessível a todos”, acrescenta.

Todas as pequenas intervenções são privilégios necessários para as pessoas com deficiência, explica, sendo este corrimão um exemplo de uma iniciativa com uma intervenção muito baixa em termos de custos mas que na verdade “faz uma grande diferença para as pessoas que são cegas ou amblíopes”.

Especulações de utilizadores no Twitter sugerem que o artista Paolo Puddu decidiu ativamente não revelar o texto exato citado em braille para aqueles que não podem lê-lo. Um esforço, pensam alguns, para negar aqueles que já podem ver a vista deslumbrante de Nápoles com seus próprios olhos.

Tal como noticiava em 2017, aquando da inauguração do corrimão, um jornal napolitano, o próprio Castelo de Santo Elmo não é novo neste tipo de iniciativas. Juntamente com o Museu Arqueológico Nacional, Capodimonte e outros museus napolitanos, faz parte da rede “Nápoles nas suas mãos”, um projeto sem grandes financiamentos mas que tem tido “excelentes resultados”.

Nascido em dezembro de 2013, o memorando de entendimento reúne universidades, espaços de arte e associações, com o objetivo de incentivar a utilização do património cultural por pessoas com deficiência. Assim, em cada um dos locais participantes da iniciativa, são criados roteiros turísticos acessíveis.

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