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O viajante americano que viveu uma aventura igual à de DiCaprio em “A Praia”

Anos antes da estreia do filme, Costas Christ encontrou uma praia secreta e desenhou o local num mapa. Acabou destruído pelos turistas.
A praia paradisíaca que encontrou em 1979

Um viajante americano aventura-se pelo sudoeste asiático, descobre uma inexplorada praia paradisíaca e partilha a sua localização num mapa. O local acaba por sofrer com as consequências da curiosidade dos visitantes. Poderia muito bem ser um brevíssimo resumo do enredo de “A Praia”, o filme de 2000 com Leonardo DiCaprio, mas é na verdade a descrição da aventura que Costas Christ, um norte-americano, viveu na década de 80.

“Quando vi o filme, fiquei embasbacado com a forma como a história se assemelha à minha própria história como jovem viajante na Tailândia”, recorda ao “The Daily Mail”. “Igualzinho à forma como a personagem de Leonardo DiCaprio se sente progressivamente desiludida com os trilhos turísticos habituais e procura escapar e encontrar algo novo.”

Christ tinha 20 anos quando, em 1979, se lançou numa viagem pela Tailândia e, ansioso por encontrar os melhores locais que os turistas desconhecem, acabou por dar por si a viajar à boleia de um local. O barco atracou numa pequena ilha quase deserta, hoje bem conhecida dos turistas, Ko Pha-ngan.

O tailandês que o deixou na ilha avisou-o de que só regressaria ao fim de algumas semanas, o que significava que Christ teria que sobreviver sozinho. Assim fez.

“Ao fim de várias horas a caminhar pela costa, encontrei umas tendas de pesca e acabei por encontrar a praia de Hat Rin”, diz sobre a descoberta daquela que é hoje um muito cobiçado destino turístico. “Achei que tinha descoberto o paraíso.”

Acabaria por ser acolhido por um casal tailandês, que lhe deu algum espaço para dormir na sua tenda. “Era o primeiro turista ocidental que eles conheciam.”

Christ na praia ainda deserta

Feliz por ter encontrado um sítio que poucos conheciam, desenhou um mapa para que pudesse voltar à praia. De regresso à civilização, reencontrou-se com uma jovem que conhecera em Banguecoque. Ela estava agora solteira, os dois envolveram-se — e Christ decidiu levá-la à praia secreta.

A relação acabaria por terminar pouco tempo depois. A jovem desapareceu e levou consigo o mapa. Christ faz todas estas revelações no documentário de 2021 “The Last Tourist”, onde liga o seu mapa à avalanche de turismo que invadiu a ilha e a praia, hoje famosa pelas festas de lua cheia.

Segundo o americano, a chegada dos turistas levou a que as pequenas tendas dos pescadores fossem transformadas em bares. Foram construídas estradas alcatroadas e os visitantes acorreram aos milhares. Atualmente a ilha tem perto de 10 mil habitantes fixos, sem contar com os turistas que continuam a inundar o local.

O norte-americano só percebeu a dimensão do problema uma década depois, graças a uma reportagem do “The New York Times” em 1993, que revelava imagens da praia recheada de milhares de turistas a participarem na Festa da Lua Cheia.

“Estava tudo descontrolado. Pilhas de lixo, construções sem regras. Partiu-me o coração”, confessa. “Pensar que desde que cheguei lá em 1979 e, num período de 14 anos, o local foi completamente destruído.”

Christ é agora ativista e trabalha para tentar colocar um travão ao turismo descontrolado. “Temos que corrigir o tipo de turismo que fazemos, porque se não o fizermos, vamos ver o mesmo acontecer pelo mundo fora. O objetivo não é acabar com o turismo — é fazer com que seja feito da forma correta.”

“Acredito que o turismo pode ser uma forma importante de compreendermos o mundo e viver experiências naturais e culturais, inspirar as pessoas para protegerem o planeta para as gerações vindouras, mas para que isso aconteça, temos de mudar a forma como o modelo funciona.”

As Festas da Lua Cheia ocupam agora todo o areal

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