Depois do dia de casamento, a lua de mel é o momento mais importante na história de um casal. Representa o início de uma nova fase e é sempre celebrada de forma especial, muitas vezes com uma viagem de alguns dias para um daqueles destinos de sonho. No caso de Fabiana Saraiva, de 33 anos, e Sandro Gomes, sete anos mais velho, prolongou-se por cerca de um ano.
Em boa verdade, os dois enfermeiros já estavam habituados a passar muito tempo longe de casa. Em 2012, emigraram porque não encontravam trabalho no nosso País. “Concorremos a uma agência de recrutamento e fomos para a Inglaterra. Conhecemo-nos no primeiro dia, quando aterrámos”, conta o casal à NiT.
Tal como acontece em muitas histórias, a faísca não foi imediata. Aliás, até havia um certo conflito entre ambos, uma vez que têm personalidades tão diferentes. “Pegava um pouco com ele”, explica Fabiana
No início do ano seguinte, Fabiana voltou para Portugal, graças a uma proposta de trabalho. Naquela altura, já eram, como se descrevem, “amigos coloridos”. Como Sandro costumava voltar ao país de origem para visitar a família e amigos, os dois juntavam-se e a relação foi-se mantendo à distância.
“Foi aí que a relação começou a crescer”, recorda. Graças precisamente à distância, perceberam que queriam ficar juntos e acabaram por regressar para o Reino Unido. “Depois de muito turbilhões vimos que era mais do que apenas uma mera atração e decidimos arriscar”. Agora, apontam 2014 como o ano oficial para o início da relação.
Após sete anos de namoro, casaram-se em setembro de 2021, depois de terem vindo para Portugal com o objetivo de passarem algum tempo com a família. Apesar do sucesso lá fora, a pandemia fez que com que se sentissem presos em Inglaterra e acharam que era mais importante estarem próximos da família. A tão aguardada lua de mel começou a 29 de setembro — e mudou por completo as suas vidas.
Conhecer vários pontos do globo era um sonho de ambos, mas estava mais presente em Sandro. “Ele via vídeos de pessoas que partiam à descoberta do mundo e mostrava-me. Eu percebi que aquele era mesmo o sonho dele e tínhamos de ir atrás dele porque a vida é curta”, conta Fabiana. A pandemia fez com que ponderassem adiar a viagem, mas caso o fizessem, corriam o risco de perder o impulso. “Durante a Covid víamos muitas pessoas a despedirem-se de familiares [no hospital]”.
Esse sentimento intenso de perda, vivido de perto, fê-los largarem o emprego e partirem na aventura. O orçamento era o resultado de vários anos de poupança — o facto de nunca terem sido muito materialistas também ajudou.
“Juntámos o máximo que podíamos, mas não deixámos de viver. Jantávamos fora às vezes, íamos de férias. E em Inglaterra o salário é melhor, se fosse em Portugal seria mais difícil”, confessa Fabiana.
Começaram por passar 11 dias na Sardenha, uma ilha italiana. Depois, foram para a Madeira mais dez dias mas sempre com um pé atrás, porque muitas fronteiras continuavam fechadas. Mais tarde, perceberam que na América do Sul e Central havia mais oportunidades de viagem. Em novembro, decidiram voar para o Perú. “Os países escolheram-nos. Nós íamos para aqueles que não pediam teste e quarentena”.
Aquela que chamam de “grande rota” começou a 19 de novembro. Com uma mochila de 40 litros às costas conheceram ainda a Colômbia, Panamá, Costa Rica, Guatemala e México. Destes destinos saíram com memórias inesquecíveis — como aquela vez em que subiram a um vulcão no Guatemala e viram baleias de perto na Costa Rica.
Porém, o momento mais especial foi no Panamá: “Passámos o Natal com uma família de lá”, começam por explicar. Naquela altura estavam a fazer couch surfing, com o objetivo de terem uma experiência mais autêntica e conhecerem realmente as pessoas que lá vivem. “Quem nos acolheu durante umas semanas convidou-nos para passarmos lá a quadra. Foi como se nos tivesse calhado o Euromilhões”.
Apesar de estarem longe de Portugal, sentiram ali um espírito de família e acabaram por ser “os convidados especiais internacionais”. “Antes da ceia agradeceram pelo facto de lá estarmos.”
Também repararam que o Natal é bastante diferente do nosso. Em vez de estarem nas próprias casas, muitos habitantes ficam nas ruas a ouvir música até de madrugada, enquanto partilham comida e bebida.
Durante a sua passagem pela América do Sul tiveram um grande aumento de seguidores no Instagram e foram conhecendo outros viajantes que os incentivaram a criar parcerias com hotéis e agências. No início de 2022, já em Portugal, decidiram apostar nessa vertente, antes de seguirem para o Sudoeste Asiático.
“Começámos a abordar hotéis em Singapura, Indonésia e noutros países para vermos melhor o nosso orçamento”, recordam.
Com as colaborações pretendiam poupar dinheiro, mas acabaram por ganhar, também, experiências inesperadas, como estadias em unidades de cinco estrelas. Durante aquela segunda parte da lua de mel tiveram a possibilidade de conhecer vários outros destinos: Singapura, Vietname, Malásia, Emirados Árabes Unidos e Abu Dhabi (embora apenas lá tenham estado um dia).
Agora, pretendem regressar ao Sudoeste Asiático. Dizem que as paisagens são deslumbrantes, as pessoas simpáticas e tudo é mais barato. Dos carimbos no passaporte, destacam Bali. Foram para lá com as expetativas em baixo, porque achavam que seria uma zona demasiado comercial. Estavam enganados.
“Não havia multidões, talvez porque tinha aberto pouco tempo depois da Covid. Os próprios balineses estavam felizes porque durante os dois anos de pandemia tiveram que ir trabalhar para os campos de arroz visto que não havia outra forma de sustentar a família”, apontam.
Neste momento, estão em Portugal, mais especificamente na Póvoa do Varzim. “Era suposto estarmos em Inglaterra mas decidimos alargar o período para tentarmos perseguir outros sonhos, como o de fazer viagens de grupo e levar pessoas connosco”, confessam. Atualmente estão a criar um site onde vão disponibilizar diferentes roteiros.
“Não queremos que acabe e, para nós, estaremos em lua de mel até voltarmos ao trabalho.” Isto será apenas em 2024 porque, segundo o que explicam, têm de trabalhar um certo número de horas de “x em x anos” para manterem a cédula ativa. Enquanto isso não acontece, têm outros objetivos de vida.
“Temos esperança de continuar a viajar e a organizar estas atividades em grupo para ganharmos também algum dinheiro.” A primeira viagem está marcada para fevereiro e tem a Tailândia como destino. Depois, o resto do ano, pretendem concretizar o sonho de conhecerem a Austrália e a Nova Zelândia.
Carregue na galeria para ver algumas das fotos da lua de mel de sonho de Fabiana e Sandro.