O nome oficial é Queimada Grande, mas todos a conhecem como Ilha das Cobras. Dizem que é um dos locais mais perigosos (e misteriosos) do mundo e o motivo está no nome: ali, só habitam cobras venenosas.
Ao contrário da maioria das ilhas do Brasil, este pedaço de terra no meio do mar, situado a 35 quilómetros do litoral de São Paulo, é tudo menos um destino turístico. Envolta em mistério, é inacessível ao público geral por todos os perigos que representa.
Com 23 hectares, diz-se que existem 45 cobras por cada 10 mil metros quadrados. A localidade abriga a segunda maior concentração de répteis do mundo — só fica atrás da ilha chinesa de Shedao, com 20 mil — e a sua singularidade está fortemente associada à presença da jararaca-ilhoa, a espécie que domina o local, considerada uma das mais mortíferas do planeta.
Como todas as histórias peculiares, esta tem também uma lenda por trás. Diz-se que os répteis foram libertados por piratas que tinham escondido o seu tesouro na ilha e que queriam ter a certeza de que ninguém tentaria encontrá-lo, segundo a revista “National Geographic”.
@nbaeryy Parece perto mas é 30km daqui #ilhadascobras #peruibe
São apenas teorias que não passam de ficção, até porque a origem deste grande número de serpentes venenosas remonta a cerca de 11 mil anos, segundo a comunidade científica. Acredita-se que, nessa altura, a Queimada Grande (e a sua irmã de 10 hectares, a Queimada Pequena), fazia parte do continente, mas separou-se dele devido a uma subida do nível do mar, ficando isolada.
Assim passou a ser uma ilha, onde os principais habitantes já eram serpentes. Sem humanos nem predadores, o número de répteis foi aumentando cada vez mais, até ser descoberta pelo colonizador português Martim Afonso de Sousa, em 1532.
Não foi preciso muito tempo para perceber que esta não era uma ilha qualquer. A grande população de cobras chocou a tripulação, que pegou fogo à ilha com medo de que os répteis pudessem trazer má sorte.
Os incêndios tornaram-se cada vez mais frequentes e acabaram por dar origem ao nome do local. No entanto, nem isso as conseguiu afugentar e o ecossistema singular da ilha permaneceu intocado — e tornou-se um laboratório natural.
Os cientistas e investigadores, os únicos atualmente com autorização para entrar na ilha, têm desenvolvido investigações especialmente sobre a jararaca-ilhoa, não apenas devido ao seu veneno potente, como pela adaptação evolutiva que representa.
Com uma cor amarelada e uma cabeça triangular, apresenta algumas particularidades que a diferenciam de outras espécies. É, por exemplo, uma grande trepadora de árvores — e consegue alimentar-se facilmente das aves migratórias —, tem uma cauda mais longa e uma capacidade incrível de se confundir com a vegetação da ilha.

Acredita-se que o seu veneno seja cinco vezes mais potente do que as cobras continentais, com uma taxa de letalidade de cerca de 93 por cento. Felizmente, é pouco provável encontrar uma destas serpentes na rua, uma vez que só existem mesmo na Queimada Grande. Está, por esse motivo, em vias de extinção, sendo que uma das principais ameaças é a caça furtiva.
Antes de o governo do Brasil ter proibido o acesso, em 1985, muitos caçadores desembarcavam na ilha à procura destes répteis para vendê-los no mercado negro. Tal deixou de ser possível há 40 anos, com a proibição da entrada a curiosos.
Mais do que proteger os humanos das cobras venenosas, a medida garante também a segurança dos seus habitantes, especialmente da jararaca-ilhoa, em perigo crítico de extinção. Os insetos, lagartos, aranhas e aves também foram salvaguardados desde que o governo brasileiro declarou o local como Área de Relevante Interesse Ecológico.
O acesso à ilha só é possível aos investigadores que têm autorização oficial do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Outra opção é através da marinha, já que os seus membros têm de realizar manutenções ao farol que lá está instalado desde o século XIX.
Do litoral de São Paulo até à Queimada Grande, a viagem de barco demora cerca de três ou quatro horas. Nos dias em que o céu está limpo, é possível avistá-la ao longe.
