Para Pedro Gil, de 46 anos, a bicicleta sempre foi o melhor meio de transporte. É com ela que consegue “visitar qualquer lugar”, ao mesmo tempo que exercita o corpo e a mente. Recusa o rótulo de ciclista. Diz que é, sim, “um cicloturista” que faz turismo apenas de bicicleta — e é isso que tem feito nos últimos anos.
Natural de Leiria, sempre foi um apaixonado por viagens. Em 2002 fez a primeira viagem sozinho e aventurou-se num interrail durante um mês, algo que repetiria mais três vezes. Desde então já passou por 75 países e tenta explorar novos destinos todos os anos. Na altura da pandemia, contudo, o fecho das fronteiras obrigou-o a ficar por Portugal — e aproveitou para conhecer melhor o País.
“Durante a Covid surgiu a ideia de explorar o interior de Portugal e achei que seria interessante fazê-lo de bicicleta. No computador parecia tudo muito mais fácil, mas foi uma verdadeira loucura e ingenuidade da minha parte pensar que seria simples”, começa por contar à NiT o leiriense, que trabalha para as Águas de Portugal.
Apesar de estar habituado a andar de bicicleta, não tinha o hábito de pedalar muitos quilómetros antes desta aventura. “Estava super mal preparado. Um dos testes que fiz foi pedalar de Leiria até à Praia da Vieira, cerca de 25 quilómetros para cada lado”, recorda o cicloturista que na viagem pedalou, em média, 60 quilómetros por dia.
O projeto “Pedalar pela Fronteira” começou em junho de 2021, quando percorreu de bicicleta os limites de Portugal continental, de Moledo a Vila Real de Santo António, sempre junto à fronteira. Os primeiros dias foram complicados, nem sempre era fácil arranjar dormida e chegou a pensar em desistir. “Já me doía as pernas e o corpo rejeitava a bicicleta, mas depois quando cheguei ao Alentejo e vi que as temperaturas iam baixar arranjei forças para continuar”, recorda.
Na viagem pelo interior do País percorreu 1.300 quilómetros ao longo de 21 anos e pernoitava onde lhe davam refúgio, tentando sempre contactar as autarquias dos locais. Fugia das estradas nacionais e, muitas vezes, passava horas a pedalar sem ver um único carro. “Apanhei cobras, raposas e veados, coisas que não estou habituado a ver. Foi enriquecedor, mesmo com todo o esforço físico. Embora já tenha dado a volta ao mundo, os momentos que passei no meio da natureza no interior foram incríveis”, confessa.
Mais do que explorar os locais emblemáticos e menos conhecidos de Portugal, o objetivo de Pedro também era dar a conhecê-los a outras pessoas. Durante a aventura, foi tirando fotografias a muitos dos locais por onde passava com o intuito de eternizá-las em pequenas aguarelas quando se chegasse a casa.
Apesar de ter tirado mestrado em Artes Plásticas, para o artista esta técnica de pintura sempre foi um desafio. “Sempre trabalhei mais com óleo e acrílico. A aguarela metia-me medo porque não é fácil e os resultados nem sempre são o que queremos. Tive com o material parado durante vários anos, nunca me atrevi a tocar neles, mas esta viagem incentivou-me a fazê-lo”, confessa.
Apesar de ter levado as aguarelas consigo, na esperança de conseguir pintar durante a viagem, o cansaço não o permitiu. A opção foi tirar fotografias aos percursos para mais tarde retratá-los a aguarela. Quando regressou a Leiria, percebeu que podia usar o trabalho artístico para financiar uma segunda aventura: uma viagem pela costa de Portugal.
Assim, em agosto de 2022, voltou à estrada com a mesma companheira: a bicicleta. Partiu novamente de Moledo, com o objetivo de chegar a Vila Real de Santo António sempre “com o mar ao pé”. “Depois de ter feito o interior achava que a costa não ia ser tão difícil. Pelo menos podia dar um banho sempre que tivesse calor”, conta. Durante 25 dias, pedalou cerca de 1.100 quilómetros — mas Pedro não quis ficar por aqui.
Em outubro de 2023 repetiu a proeza, mas fê-lo no arquipélago dos Açores. Durante 19 dias, propôs-se a percorrer as nove ilhas açorianas a pedalar. “Pensei que seria mais fácil, mas tem muitas subidas e as condições atmosféricas são muito imprevisíveis. Havia dias em que não dava mesmo para pedalar, mas depois tinha que compensar no dia seguinte”, confessa.
O objetivo continua a ser o mesmo: dar a conhecer o País e promover o uso da bicicleta. Os trabalhos estavam a correr tão bem que surgiu a ideia de fazer uma exposição com as aguarelas dos locais por onde passou. A mostra “A Pedalar pela Fronteira” já passou por cinco cidades do País e está atualmente patente no Centro de Artes de Sines.
“Pensei levar a exposição aos sítios por onde passei e entrei em contacto com vários municípios”, diz. Com entrada gratuita, a mostra pode ser visitada até 31 de agosto, de segunda a sexta-feira, entre as 10 e as 20 horas, e aos sábados e feriados, das 12 às 18 horas. Ao todo são 116 aguarelas, que retratam “praticamente todos os cantos de Portugal”, e que também podem ser compradas por preços que variam entre os 5€ e os 25€.
Já em Leiria, no Posto de Turismo, estará patente até ao final do mês a mostra “Volta ao Mundo em Aguarelas”, como seguimento do projeto iniciado em 2021.
Pedro Gil está já a pensar na próxima aventura, que terá como destino a Madeira. Ainda não há nenhuma data específica, mas a ideia é arrancar no início do próximo ano.
Carregue na galeria para ver alguns dos locais por onde Pedro passou.