Se há adjetivo que descreve o casal Sofia Mesquita e Mário Ribeiro é, sem dúvida, descomplicados. Aliás, foi precisamente o nome que deram à página de Instagram que criaram quando decidiram concretizar o sonho de viajar pelo mundo. Com dois filhos de quatro e dois anos (Maria Rita e Simão), esta família minimalista aprendeu a viajar sempre com muito pouco. Acreditam que quanto menos levarem, melhor. Nas últimas viagens, por exemplo, levaram apenas duas mochilas pequenas, de 30 litros — e não precisam mais do que isso. Agora, querem ajudar outras famílias a descomplicar e a viajar sem medos.
Sofia Mesquita e Mário Ribeiro têm ambos 37 anos e conheceram-se há sete anos numa famosa aplicação de encontros, o Tinder. Ela é de Coimbra, ele de Sintra, e seis meses após trocarem as primeiras mensagens começaram uma relação à distância. Sofia foi viver e trabalhar para o Luxemburgo, na área do marketing digital, mas sabia que não era ali que queria viver para sempre. Por outro lado, Mário, que tinha uma loja de reparação de telemóveis, também já andava a pensar sair da casa dos pais — decidiram comprar uma casa na Ericeira.
“As pessoas diziam-nos que éramos malucos, porque foi tudo muito rápido. Passados seis meses engravidei e viemos os dois viver para a Ericeira”, começa por contar à NiT Sofia. Compraram uma casa que estava abandonada, remodelaram-na, mas queriam mesmo era viajar pelo mundo. “Era um sonho que tínhamos.”
Por questões familiares, tiveram de adiar o sonho. Como não podiam viajar pelo mundo, trouxeram o mundo até eles. Há cinco anos, decidiram abrir um negócio juntos, uma guest house chamada Like a Local. Viviam no andar de cima e recebiam hóspedes no primeiro andar. “A intenção era receber pessoas de todos os cantos do mundo para terem uma experiência com uma família local. Era o que gostávamos de fazer”, conta.
Nos primeiros anos, ainda conseguiram viajar só os dois para a Indonésia e outros países da Europa, muitas vezes em autocaravana. Depois da Covid-19 e do nascimento dos dois filhos, as viagens começaram a ser cada vez mais regulares. E provam que viajar com miúdos não é um bicho de sete cabeças.
Quando o segundo filho nasceu, Mário decidiu deixar a loja e começar a trabalhar na mesma área a partir de casa. Já Sofia, manteve-se na área do marketing digital. Depois de vários anos em empregos por conta de outrem, conseguiram criar os próprios negócios. A mudança de rumo em termos profissionais também lhes permitiu viajar mais — podiam trabalhar à distância.
Ainda não tinha feito um ano e Simão já tinha andado de avião. Chegou a fazer muitas sestas nas Maldivas — e nunca mais parou de viajar. Há cerca de seis meses, decidiram criar uma página no Instagram, muito incentivados por amigos e familiares. “Não tinha muito tempo para criar conteúdos, mas decidi avançar para ver se fazia realmente sentido. Queremos motivar e incentivar as famílias, para tentar que deixem os medos e receios de lado”, explica.
Para o casal, o segredo é mesmo descomplicar. Quando lhes perguntámos qual era a maior dificuldade de viajar com dois miúdos pequenos, a resposta foi simples e direta: “Não há muitas”. Mas não significa que não existam.
“A maior dificuldade é mesmo manter uma rotina de viagem e fazermos tudo com os horários deles”, revela. Por outro lado, um dos maiores desafios de viajar constantemente com os filhos são as saudades que sentem dos momentos a dois. “Fazemos viagens de 20 dias e, no fim, mesmo estando juntos diariamente, temos saudades um do outro.”
Uma das únicas regras que mantêm em todas as viagens, é a rotina do sono à noite. Dormem sempre cerca de 11 horas e o “resto adapta-se aos sítios”.
“Muitas preocupações das dos pais, na verdade, são coisas muito simples. Não é preciso estar com muitos pormenores.” Quanto à alimentação, também são bastante descomplicados: “Há comida em todo o mundo”, frisa.
Tudo depende, claro, de família para a família. Neste caso, os miúdos fazem mais birras quando estão em casa, em Portugal, do que quando estão em qualquer lado do mundo. Levar algumas coisas que estão habituados a ter em casa, por exemplo, é uma forma de os acalmar e confortar.
Já viajaram para países como Luxemburgo, Dinamarca, Indonésia, Tailândia, México, Colômbia e Singapura e já dormiram “em 500 casas diferentes”. Dependendo do destino, escolhem o meio de transporte que mais se adequar. Na Ásia costumam andar os quatro numa mota, no México alugaram um carro e no Panamá e Colômbia andaram sempre de transportes públicos.
Apesar de ainda serem muito pequenos, já começam a perceber o que é viajar. “A Maria Rita mostra muito interesse em saber o nome dos países. O Simão sabe perfeitamente o que é um avião. Depois, o contacto com outras pessoas e comidas é uma aprendizagem para eles. Provavelmente não se vão lembrar, mas nós vamos, e é isso que importa”, diz.
Em todas as viagens que fazem a quatro, procuram fugir das tours organizadas e dão preferência às experiências mais espontâneas. Os miúdos gostam de praia e piscina, mas também adoram animais — e já conhecem muitos. “Tivemos uma experiência muito gira na Ásia, quando apareceram dois elefantes à beira da estrada. Eram selvagens, que passaram ali porque estava na hora de tomarem banho. Os locais chamaram-nos para irmos ver e foi incrível”, recorda Sofia.
No Brasil, flutuam no rio Sucuri, que apresenta uma das águas mais cristalinas de todo o mundo. O local é tão protegido que nem é permitido colocar protetor solar. “Deixaram-nos numa zona do rio onde andámos um quilómetro a flutuar e não podíamos colocar os pés no chão. É uma paz imensa e foi incrível ver os pequeninos a fazerem isso connosco”, sublinha.
Quanto à bagagem, quanto menos, melhor. Levam apenas duas mochilas de costas para quatro pessoas —e nem vão a abarrotar. “Fomos aprendendo com o tempo e percebemos que podemos lavar roupa em qualquer sítio do mundo. Levamos quatro ou cinco outfits para cada um, medicamentos, e optamos por chinelos em vez de ténis, dependendo do destino”, explica.
Outra questão que inquieta muitos pais, é a gestão financeira. Afinal, viajar com miúdos não é propriamente barato —, mas também não tem de ser necessariamente dispendioso. Além de minimalistas, esta família procura viajar sempre em low cost. Recentemente, descobriram a Home Exchange, uma plataforma que permite “trocar” casas em todo o mundo, com uma anuidade de 150 €.
“É um conceito muito giro, porque é diferente de outros sites do género. Aqui não há trocas recíprocas, funciona tudo com pontos, que recebemos logo após a inscrição” explica. Os membros recebem “GuestPoints” quando recebem hóspedes na sua casa. Depois, podem usá-los para ficar em alojamentos em qualquer parte do mundo. “Com estes pontos, conseguimos nove noites gratuitas no Panamá, poupamos 900 € e ficámos em apartamentos de luxo com piscina, tudo a custo zero.”
“Costumo dizer que viajar com os filhos é incrível. Quem tem mais receio, deve planear as coisas com antecedência, pesquisar bem os sítios e estarem preparados para imprevistos, porque acontecem sempre. O segredo é tentar manter a rotina e, acima de tudo, descomplicar”, aconselha Sofia.
A seguir, carregue na galeria para ver algumas fotografias das viagens desta família descomplicada.