Viagens
Thor está a conhecer o mundo em navios de contentores
O dinamarquês de 37 anos está a viajar há três anos, já visitou 124 países mas só pretende terminar em 2019. Aviões nem pensar — os navios comerciais são o único meio de transporte.
Thor é reconhecido como um dos maiores deuses da mitologia nórdica e pagã, representa os trovões, as tempestades, a força e as batalhas. Por coincidência, Thor é também o nome deste dinamarquês que anda há mais de três anos a travar uma dura batalha: visitar todos os países do mundo sem apanhar um único avião. E como é que este homem já conseguiu visitar 124 países (está neste momento em Djibouti) com menos de 20€ no bolso por dia? Em navios comerciais, daqueles que levam contentores de mercadorias.
A curiosidade pelas viagens sempre existiu, tal como Torbjørn Pedersen – é este o nome completo de Thor – conta à NiT. Nasceu na Dinamarca em 1978, viveu no Canadá e nos Estados Unidos da América mas regressou à Dinamarca aos sete anos. Durante o serviço militar, teve de viajar para África e depois de voltar a casa começou a trabalhar em logística e exportação de mercadorias.
“Graças a esta carreira já visitei muitos sítios interessantes” conta à NiT. “Vivi dois anos na Líbia, um ano no Bangladesh, passei algum tempo no Cazaquistão, no Azerbaijão e também no círculo Ártico. Antes deste projeto já tinha visitado 54 países.”
A vontade de explorar e conhecer novos destinos sempre existiu, desde criança que Thor adorava subir a árvores, explorar florestas e conhecer novas pessoas. No entanto, e apesar de sempre ter viajado graças à sua carreira, nunca tinha pensado em embarcar – literalmente – numa aventura como esta. Foi graças a uma sugestão do pai que decidiu começar o projeto “Once Upon a Saga”.
“Recebi um email do meu pai que tinha um artigo sobre um jovem que já tinha viajado muito. Isto inspirou-me e rapidamente percebi que não havia ninguém que tivesse visitado todos os países do mundo sem apanhar um único avião. Um amigo convenceu-me que esta era uma oportunidade única para fazer história, viver uma aventura e inspirar pessoas pelo mundo inteiro.”
Thor vem de uma família numerosa, tem quatro irmãos, os pais e uma madrasta. O pai de Thor, que trabalha em vendas, é quem mais o apoia na concretização deste sonho. A mãe, que é guia turística para idosos, é também uma das suas maiores fãs, já que cada vez que entra no Facebook faz “likes” em todas as fotos do filho num espaço de cinco minutos.
O projeto começou a 10 de outubro de 2013 depois de 10 meses a planear toda a viagem. Às 10h10 da manhã desse dia, Thor embarcou no primeiro navio. Há mais de três anos que não volta à Dinamarca, mas isso não é algo que o desanime, pelo contrário — até já pediu a noiva em casamento durante a viagem. O casal conheceu-se há quatro anos, no casamento de amigos em comum. A noiva de Thor é médica, e a última vez que estiveram juntos foi em dezembro, quando foi feito o pedido de casamento com um anel com pedra de tanzanite, um mineral descoberto na Tanzânia.
“Conheci a minha noiva num casamento de amigos há quatro anos. Pedi-a em casamento no topo do Monte do Quénia, quando ela veio ter comigo em dezembro de 2016.”
Até agora, e já passaram três anos e 124 países, Thor tem conseguido cumprir os seus objetivos. Ainda não apanhou um único avião e tem estado a viajar sempre em navios comerciais, que fazem o transporte de contentores de mercadorias pelo mundo inteiro. Tem viajado como embaixador da Cruz Vermelha Dinamarquesa, o que facilita a entrada em muitos países e a possibilidade de viajar gratuitamente em muitos destes navios. À NiT conta que as condições dos navios são boas — melhores até do que estava à espera.
“Tenho sempre uma cabine e às vezes até são muito luxuosas, com chuveiro, casa de banho e até sala de estar. Costumo jantar com o capitão do navio e com os outros oficiais e a comida é muito boa, normalmente. Basicamente: durmo numa cama todas as noites.”
Thor já conheceu grande parte do mundo nesta sua viagem, e vive com apenas 19€ por dia. Com este valor tem de suportar os custos de alimentação, viagens, vistos de entrada em cada país entre outras despesas extras que possam existir. O projeto “Once Upon a Saga” foi financiado até abril de 2016 pela Ross Offshore, uma empresa de consultoria ligada à indústria do óleo e do gás natural. Neste momento, todos os custos da viagem estão a ser suportados por Thor.
“Quantas coisas é que ainda não foram feitas no mundo inteiro? Assim que cheguei a esta conclusão não havia mais nada a fazer: tinha de pegar nas minhas coisas, sair de casa e começar a viagem”
Apesar da dificuldade desta viagem – Thor já esteve 17 dias seguidos no mar, entre as Ilhas Seicheles e a Mauritânia –, tem sido ao mesmo tempo uma experiência bastante gratificante. O dinamarquês passa grande parte dos seus dias nos navios a trabalhar, ver o mar ou a conviver com a tripulação, que costuma até organizar festas bastante animadas.
“Janto sempre com a tripulação e se eles não estiverem muito ocupados por vezes até fazemos coisas juntos. Se houver Filipinos a bordo, há sempre karaoke, de certeza. Nesses casos, os navios são ainda mais animados do que o habitual.”
Depois de ter conhecido mais de metade do mundo, seria de esperar que este homem já não se surpreendesse. Mas, tal como conta à NiT, há sempre algo novo para descobrir. Thor decidiu fazer esta viagem precisamente por saber que era uma oportunidade única, que não podia ser desperdiçada.
“Quantas coisas é que ainda não foram feitas no mundo inteiro? Assim que cheguei a esta conclusão – que isto era provavelmente algo que eu poderia fazer – não havia mais nada a fazer: tinha de pegar nas minhas coisas, sair de casa e começar a viagem.”
A missão de Thor ainda não terminou – faltam 71 países dos 195 reconhecidas pelas Nações Unidas – mas o objetivo final é regressar a casa, à Dinamarca. No entanto, se não houvesse essa possibilidade, Thor conta à NiT que o país onde não se importava de viver seria a Islândia.
“A Islândia é incrível por tantas razões. Mas o que me puxa mesmo é a atitude de ‘tudo é possível’ daquele povo. É como se nada fosse impossível de realizar na Islândia e há sempre um grande apoio por parte da população.”
Esta aventura deve acabar até 2019, e Thor espera conseguir cumprir o seu objetivo tal como tem feito até agora. Carregue na imagem para conhecer algumas das aventuras deste viajante destemido.
