Viagens

Thor foi o primeiro a visitar 203 países sem andar de avião. A viagem durou 10 anos

A viagem do dinamarquês Torbjørn C. Pedersen começou em 2013. Pensava que ia demorar quatro anos e durou mais do dobro.
Tem 44 anos.

Os amigos chamam-lhe Thor — o deus nórdico dos trovões e das tempestades conhecido por usar um martelo como arma —, mas o seu nome é, na verdade, Torbjørn C. Pedersen. Nasceu na cidade de Odense, na Dinamarca, tem 44 anos e passou a última década a viajar. O dinamarquês visitou 203 países (os 193 reconhecidos pela ONU e mais 10 que pertencem à lista dos não oficiais) sem apanhar um único avião, tornando-se assim no primeiro viajante a conseguir tal proeza. Não precisou do famoso martelo de Thor para superar o desafio, mas, tal como o deus da mitologia nórdica, é um símbolo de força e coragem.

Filho de pais escandinavos (da Dinamarca e da Finlândia), Thor mudou-se para a América do Norte quando era ainda um miúdo e começou a viajar desde tenra idade para visitar os familiares que permaneceram na Europa. Aos sete anos, após viver no Canadá e nos EUA, regressou à Dinamarca, onde terminou a escola e o serviço militar e começou a trabalhar na área do transporte marítimo e logística no setor privado, que o levou a viajar até à Líbia, Azerbaijão, Cazaquistão e Gronelândia — e a vontade de conhecer o mundo era cada vez maior.

Tenho de dar crédito à minha mãe por este meu lado aventureiro. Ela inspirava-me com histórias interessantes, livros e levava-me em viagens para a floresta, onde me contava sobre ladrões e trolls”, começa por contar à NiT o dinamarquês. 

Quando, em 2013, leu um artigo que dizia que ninguém havia conseguido visitar todos os países sem voar, começou a pensar se seria possível fazê-lo. A ideia fascinava-o, mas tinha 34 anos, namorada, uma carreira e algo o impedia de avançar. “Estava muito velho”, pensava. Por outro lado, ficava fascinado com os relatos de aventureiros que conquistaram o que, durante muito tempo, parecia impossível (como o primeiro homem a alcançar a lua). E esta era a oportunidade para Thor escrever a sua própria história e ser, também ele, o primeiro a “fazer algo que nunca foi feito antes”.

Assim, no início de 2013, já tinha tomado a decisão: ia deixar tudo para trás para ser a primeira pessoa a dar a volta ao mundo sem apanhar um único avião. Durante cerca de 10 meses, planeou toda a viagem: procurou parceiros, planeou a rota, o orçamento, arranjou um nome para a aventura e desenhou a estratégia de marketing e de redes sociais. A viagem de Thor, intitulada “Once Upon a Saga”, arrancou a 10 de outubro 2013, às 10h10, hora em que partiu, sozinho, da Dinamarca e apanhou um comboio para a Alemanha, o primeiro de muitos destinos. Desde então que tem partilhado todas as aventuras no Instagram.

“Achei que ia demorar quatro anos, calculei que ia ficar aproximadamente sete dias em cada país. Talvez menos”, conta Thor à NiT. O périplo acabou por levar muito mais tempo do que o esperado devido a problemas com vistos, a perturbações políticas e à pandemia da Covid-19, que o manteve em Hong Kong durante dois anos, numa altura em que restavam apenas alguns países por visitar. 

Esta viagem única e ininterrupta que durou 10 anos levou o aventureiro pela Europa, Américas, África, Média Oriente, Ásia e Pacífico em todos os transportes possíveis e imaginários — todos menos o avião. Apanhou 351 autocarros, 158 comboios, 215 táxis, 128 metros, 87 táxis partilhados, 65 carrinhas (tipo candongueiros), 46 mototáxis, 33 barcos, 43 tuk tuks, 32 ferries, 28 jipes, 37 navios de mercadorias, 19 elétricos, nove camiões, quatro mototáxis partilhadas, três veleiros, dois navios de cruzeiro, uma carruagem, um carro de polícia e um iate.

Ao longo dos anos, Thor tentou “promover todos os países de forma positiva” e combater as narrativas, muitas vezes negativas, dos meios de comunicação. Outro dos objetivos era apoiar a Cruz Vermelha, “trazendo visibilidade e arrecadando fundos”.

Durante a jornada, procurou “inspirar e motivar as pessoas a nunca desistir, aconteça o que acontecer”. Le, a namorada que havia deixado na Dinamarca, visitou-o 26 vezes e acabaram por casar durante a aventura. Porém, nem tudo foi um mar de rosas. “Fiquei preso dois anos em Hong Kong durante a pandemia. Todas as nações insulares do Pacífico fecharam as fronteiras e foram dos últimos a abrir. Os navios tiveram muitas mudanças de tripulação e não estavam interessados em levar ninguém a bordo”, recorda o dinamarquês. É também de Hong Kong que guarda algumas das suas melhores recordações, como quando uma família o convidou para ficar lá quatro dias, mas acabou por ficar hospedado por cinco meses. 

Viveu algumas experiências assustadoras, uma delas quando estava a bordo de um navio no Atlântico Norte apanhado por uma forte tempestade que durou quatro dias. “Tivemos avistamentos de gelo e estávamos perto de onde o Titanic afundou”, conta Thor. 

Apesar de ter pensado em desistir várias vezes, nunca o fez — e, após ter passado, pelo menos, 24 horas em cada país, tornou-se oficialmente o primeiro aventureiro a conhecer o mundo inteiro sem voar. A 23 de maio chegou a Malé, capital das Maldivas — o último dos 203 países — a bordo de um navio.

Estou esgotadíssimo. Iniciei esta viagem porque nunca ninguém o tinha feito no passado. Trabalhava em logística e pensei que seria uma forma engraçada de pôr em prática as minhas competências. Gosto de desafios, mas posso assegurar que foi o maior desafio logístico que alguma vez aceitei”, diz.

Há 10 anos, Thor era apenas um “viajante amador”. Agora, é uma das pessoas mais viajadas da história. “Foi uma experiência memorável e algo sobre o qual vou precisar de mais tempo para refletir”, confessa o dinamarquês, que se prepara, finalmente, para regressar ao país onde nasceu — sem apanhar nenhum avião, claro.

“Estou ansioso por reencontrar os meus amigos e familiares. Também pretendo escrever um livro e quero construir uma carreira em torno de palestras. Atualmente estamos a fazer um documentário que estará pronto em 2024”, adianta Thor.

Durante a viagem, Thor tentou não gastar mais do que 20 dólares por dia (o equivalente a 18,67€), incluindo os transportes, refeições, estadias e vistos. Inicialmente, recorreu a fundos próprios e depois conseguiu obter finnciamento da Ross Offshore até abril de 2016. Daí em diante voltou depender apenas do seu dinheiro — vendeu alguns bens e fez dois empréstimos. Também organizou uma campanha de crowdfunding, que terminou em 2017, e conseguiu o suficiente para prosseguir com a aventura. Entretanto, conseguiu o apoio das empresas energéticas Ross Energy e GEOOP.

A seguir, carregue na galeria para ver algumas fotografias de Thor durante esta aventura.

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