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Viagens a solo: a portuguesa que quer atravessar o Myanmar com uma bicicleta dobrável

Paula tem 27 anos, deixou o emprego, deu uma volta à Ásia e quer voltar. Sozinha. De bicicleta.

Em Bagan, Myanmar

Esta é a de Paula, de 27 anos, que trabalhava há cinco anos numa empresa de mobiliário no norte do país e decidiu despedir-se, para viajar a solo pela Ásia. E que vai agora voltar, mas numa bicicleta portuguesa.

É uma clara mudança nas viagens e que se tem vindo a notar nos últimos anos — mas sobretudo no que está a terminar. Viajar a solo acabou de ser eleita a maior tendência em 2018 no Pinterest. As novas gerações, sobretudo a dos millennials, vivem para viajar e até abdicam, se for preciso, de muitas coisas essenciais para o poderem fazer, como o demonstra um estudo recente. As plataformas de viagem reconhecem a tendência e começam a fazer rankings de destinos para viajantes a solo, e pacotes especiais.

Paula tirou primeiro uma licença sem vencimento e depois despediu-se mesmo. Queria viajar pelo mundo, naquela que esperava ser uma viagem que a fizesse mudar de vida. E fez. “Quando voltei a Portugal depois de quase quatro meses, percebi que já não via as coisas do mesmo modo e a vontade de voltar era muita. Foi aí que surgiu a ideia de voltar ao sítio que mais tinha gostado: o Myanmar”, conta à NiT.

Licenciada em Ciências da Comunicação, trabalhava no departamento de vendas e marketing da tal empresa de mobiliário, quando lhe bateu a sensação de querer algo diferente para o futuro. Viajar e conhecer o mundo sempre foi uma paixão. Mas a ideia começou a ganhar mais força quando viu um filme que — apesar de a alguns inspirar apenas a decisão de não o voltar a ver —, já inspirou milhares de pessoas em todo o mundo a viajar: “Comer, Amar, Orar“.

“Depois de achar há algum tempo que tinha de fazer algo diferente, foi num dia normal enquanto via o filme que a ideia começou a ser trabalhada. Fui pesquisando países baratos para viajar e assim cheguei ao Sudeste Asiático, que desde há muito tinha curiosidade de conhecer”.

No Myanmar.

Após muita pesquisa e de ver online todos os sítios maravilhosos que poderia descobrir nesses países, o “bichinho” estava instalado e a ideia já estava demasiado entranhada para não avançar. “Tinha muito medo até porque nunca viajei sozinha, mas esta experiência estava a chamar por mim de tal forma que não era assim tão importante”, conta.

Tirou a tal licença e visitou a Índia, Myanmar, Tailândia, Camboja e Vietname. E foi depois das experiências vividas nestes países que surgiu uma nova ideia. “Pedalar no Myanmar por entre templos foi das melhores coisas que fiz e que mais adorei fazer. A calma e beleza da paisagem fazem do Myanmar um ótimo local para o fazer. E dei por mim a dizer isto mesmo, quando contava aos meus amigos como foi a viagem e como foi o meu país favorito”.

E assim nasceu a vontade, e o projeto, de ir de bicicleta de novo para o Myanmar, mas com uma bicicleta portuguesa — de preferência elétrica. “Dei por mim a repetir muitas vezes, quando contava histórias sobre a minha viagem, que o meu sonho agora era fazer o Myanmar de bicicleta. Só após repetir isto a várias pessoas reparei que este era o meu maior objetivo. Então comecei a trabalhar nele”.

Mandalay.

Começou a contactar empresas de bicicletas elétricas pois era esse o plano inicial. A bicicleta elétrica iria permitir-lhe fazer todas as distâncias, que são grandes. Contactou a Minimalist, uma empresa de bicicletas elétricas portuguesa, que a decidiu apoiar até ambas as partes perceberem que, numa distância tão grande e sem manutenção, não ia dar.

“Puseram-me então em contacto com a Ympek que decidiu ajudar-me no projeto. A ideia inicial seria fazer toda a viagem de bicicleta, mas como o Myanmar é um país grande, as distâncias a percorrer por dia seriam dantescas, e é assim que a bicicleta dobrável surge como a melhor opção. Assim, poderei explorar cada cidade com ela, mas fazer as viagens mais longas tendo esta parceira como bagagem”. Conseguiu o apoio de uma cadeia de hotéis e está prestes a arrancar.

A bicicleta desdobrável, de origem portuguesa, que vai levar consigo.

Paula Carvalho vai sozinha e sem receio, só com medo “que a bicicleta que me deixe mal do meio do nada”, nada mais. “Já lá estive no Myanmar e sei que o medo não acontece lá. Nunca me senti insegura neste país antes, portanto tudo vai correr bem”.

E não descarta a possibilidade de alguém se juntar a ela em certos trajetos, já que, lembra, os mochileiros a viajar sozinhos gostam deste género de experiência.

O dinheiro é de poupanças de anos e Paula não quer ficar por aqui: a possibilidade de fazer o mesmo de bicicleta em outros países do Sudeste Asiático é uma hipótese em aberto.

Para já, planeia visitar Mandalay, Min Kun, Ava, Sagaing, Pindaya, Mount Popa, Bagan, Mindat, Mrauk-U, “pelo menos é este o plano inicial”.

Irei tentar ver os nossos antepassados Portugueses: os Bayingyi. Os Bayingyi descendem de Portugueses que ficaram cativos na antiga Birmânia após o rei Anaukpetlun ter derrotado Filipe de Brito em 1613, tendo alguns traços ocidentais como olhos e pele mais clara”.

E para quem não tem ainda a coragem de ir mas quer saber como é, a viagem estará a ser descrita no seu blog While You Stay Home e no Instagram com fotos diárias sobre o Myanmar e a aventura.

A dias de ir, Paula deixa o repto: “companhia é aceite de algum português que lá ande. Estarei no país cerca de um mês e embarcarei ainda em novembro numa aventura que espero que seja inesquecível e inspiradora, para que outros possam ver o que uma experiência destas nos pode dar, e que não se equipara a nenhum bem material. Quem sabe, ainda se aventurarem também a explorar o mundo”.

 

 

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