Um vídeo partilhado no TikTok pelo viajante português Daniel Pinto, no final de dezembro, tornou-se viral, contabilizando mais de 80 milhões de visualizações. O motivo? O jovem de 27 anos apresenta-se ao lado da “tribo mais assustadora da Papua-Nova Guiné”, como refere no título.
Os comentários dos utilizadores refletem a apreensão que o vídeo gerou: “Isto parece uma má ideia. Alguém ouviu falar dele recentemente?” e “Eu nem me sinto seguro a assistir a isto” foram algumas das reações. O encontro com os “spirit birds” (ou “pássaros espirituais”, em português), como são conhecidos os homens da tribo Nauro, assustou muitos, mas a experiência de Daniel foi, na verdade, muito mais positiva.
“Não ficaram ofendidos por serem filmados. Na verdade, a maioria das tribos na Papua-Nova Guiné adora turistas. Têm muito orgulho na sua cultura e gostam de a mostrar.” Apesar da sua aparência impressionante — cobertos de lama, vestidos com longos tecidos castanhos, usando uma máscara e segurando um bastão —, a tribo revelou-se “extremamente simpática”.
“Não me vais magoar, pois não?”, perguntou, em tom de brincadeira, a um dos elementos da tribo. Todos se encontravam junto à cascata Wii Towai, um local sagrado para eles, onde permanecem para proteger o espaço de intervenções externas e dos turistas.
Escondida nas paisagens selvagens da Papua-Nova Guiné, esta queda de água é um verdadeiro testemunho da natureza e um local central para os rituais e celebrações da tribo Nauro. Por exemplo, pela manhã, entoam melodias místicas para proteger a cascata e banham-se nas suas águas sagradas. Daniel também presenciou um ritual de celebração do nascimento, onde os participantes se cobrem com argila e tinta laranja, tal como se vê no seu vídeo.
Durante três dias, o português viveu na aldeia da tribo Nauro, o que lhe permitiu “ter tempo suficiente para conhecer muitas das comunidades que rodeiam as montanhas e as quedas de água Wii Towai”.
A comunicação também não foi particularmente difícil. “A maioria dos elementos da tribo fala inglês, consequência da colonização australiana e britânica, o que facilitou a exploração de áreas remotas”, revela.
@dnzh.travels 🇵🇬 The spirit birds is the name given to the men of the Wii Towai tribe who protect their sacred waterfall. They sit there covered in mud freakiest masks which makes them in my opinion, the scariest tribe in Papua new guinea! #travel#traveltiktok#backpacking#traveltok#traveling#travelbucketlist#adventure#tribe#png#pngtiktok#pngtiktok🇵🇬#papua#papuatiktok#papuanewguinea#papuanewguinea🇵🇬#viral#fyp#dnzhtravels
Os “pássaros espirituais” foram apenas uma das dez tribos que Daniel conheceu durante a sua aventura de três semanas na Papua-Nova Guiné, que marcou a sua 138.ª visita a um país reconhecido pela ONU. Antes da chegada, a 2 de dezembro, pesquisou as várias tribos do país insular do Pacífico e, ao desembarcar, começou a interagir com os locais que lhe mostraram como se deslocar.
Durante a estadia conviveu com 10 tribos diferentes, todas “amigáveis e acolhedoras”. “Experimentei e vi algumas cerimónias e modos de vida, assisti a um casamento e fui caçar com eles”, recorda. Apesar do casamento ter sido o “momento favorito” de toda a viagem, reconhece que houve também situações difíceis de observar, como o sacrifício de porcos.
Após alguns dias de exploração, Daniel chegou a Pagwi, a porta de entrada para o imponente rio Sepik, onde passou 48 horas com o “povo crocodilo”. “Já tinha ouvido falar deles há anos e sabia que precisava de os visitar. Têm uma cultura única. Quando os rapazes atingem a idade adulta, passam por um ritual em que recebem cicatrizes no corpo para se assemelharem à pele de crocodilo”, relata.
A transição de rapaz para homem neste grupo é um evento doloroso e perigoso. A tribo Chambri, conhecida como povo crocodilo, acredita que os humanos descenderam destes predadores pré-históricos, que consideram sagrados.
Durante o ritual, os mais velhos cortam profundamente as costas, peitos e nádegas dos jovens para que a pele desenvolva escamas. Para se prepararem, os rapazes vivem numa “casa espiritual” durante seis semanas. Conhecidas como Haus Tambaran, são consideradas sagradas, acreditando-se que os espíritos ancestrais habitam nas estruturas das casas. Após este período, realiza-se a cerimónia, onde se utilizam pedaços de bambu para efetuar os cortes.
@dnzh.travels 🇵🇬 after a few days of remote travel, a Finally reached Pagwi, the gateway to the mighty Sepik river where I spent an incredible 48 hours with the Crocodile people! 🐊 #travel #traveltiktok #backpacking #traveltok #traveling #travelbucketlist #travelling #traveltips #png #pngtiktok #pngtiktok🇵🇬 #papua #papuatiktok #papuanewguinea #papuanewguinea🇵🇬 #crocodile #viral #fyp #dnzhtravels
Os jovens, que em breve se tornarão homens, mantêm-se deitados de barriga para baixo e não podem ingerir qualquer tipo de medicamento, exceto folhas de plantas medicinais que podem ser mastigadas. Acredita-se que aqueles que conseguirem manter o corpo direito durante o processo serão capazes de suportar toda a dor na vida.
Assim que a cerimónia termina, os jovens reúnem-se junto a uma fogueira, onde é aplicada argila e óleo de árvore nas feridas para garantir que as cicatrizes se tornem proeminentes. Embora Daniel não tenha assistido a este ritual de passagem, teve oportunidade de compreender melhor a cultura da tribo.
“A rotina era simples, mas fascinante. Num dia normal, acordávamos, tomávamos o pequeno-almoço e fazíamos um passeio de barco pelo rio para visitar outras aldeias e conhecer outros anciãos. Apesar de não ter conseguido assistir à cerimónia de cicatrização, pude testemunhar outros aspetos do seu modo de vida, como as reuniões nas casas dos espíritos”, recorda.
O viajante conta ainda que um dos aspetos que mais interessantes da história da tribo é que foram canibais até à década de 1930, quando a Austrália proibiu o canibalismo. “Depois disso, começaram a caçar e a comer crocodilos, algo que se mantém até hoje”, afirma.
O povo crocodilo habita uma região bastante remota da Papua-Nova Guiné. O aeroporto mais próximo fica a quatro horas de distância, e até esse é bastante isolado, recebendo apenas voos semanais. Quando aterrou, Daniel apanhou um barco na cidade de Pagwi para visitar as aldeias crocodilo, que têm “uma história profundamente ligada ao rio e à natureza”.
Embora qualquer turista possa visitar a região, é fundamental contar com a companhia de um local, seja um guia ou alguém da comunidade. Antes da viagem, o português recomenda entrar em contacto com a “Tribes of Papua New Guinea”, que fornece todas as informações necessárias para uma estadia imersiva no seio destas comunidades.
Carregue na galeria para ver algumas imagens das tribos que Daniel Pinto visitou.