Matilde estava em Tana Toraja, na ilha de Sulawesi, na Indonésia, quando viveu um dos momentos mais marcantes da viagem pela Ásia. A portuguesa escolheu visitar a região entre agosto e setembro, propositadamente para presenciar a cerimónia Ma’nene, onde vários cadáveres são desenterrados pela própria família e tudo se torna numa grande festa.
“É uma celebração que desafia tudo aquilo em que acreditamos”, começa por contar à NiT Matilde Ribeiro, de 25 anos. “Vemos a morte de uma forma muito negativa, mas eles desenterram os mortos, metem-nos ao ar livre, limpam-nos e vestem-nos.”
Embora possa parecer um pouco mórbido, a verdade é que o cenário é semelhante a uma grande festa, onde todos os presentes se riem, dançam e a fazer chamadas de vídeo com os familiares distantes que não podem estar presentes.
Por norma, a cerimónia realiza-se de três em três anos e tem como principal objetivo fortalecer o vínculo com os antepassados e honrar a memória dos falecidos, de forma a reforçar a ideia de que a relação familiar continua mesmo após a morte.
“Eles ficam felicíssimos de voltar a ver as pessoas que já morreram, mesmo que sejam só ossos ou cadáveres”, explica. “Estavam todos a fazer chamadas com os familiares que não conseguiam estar presentes para mostrar o tio, o avô ou o primo. Vi uma mãe a desenterrar a filha também.”
Além disso, os funerais em Tana Toraja são também uma experiência marcante: os caixões dos mortos são levados aos saltos, com a população a dançar e a fazer guerra de cocó de búfalo. “Tentei escapar para não me sujar, mas o meu telemóvel não teve tanta sorte”, brinca Matilde.

A ideia de se aventurar pela Ásia começou a 21 de julho. Desde miúda, que sempre gostou de conhecer novos destinos e a primeira viagem que fez sozinha, a Londres, foi aos 17 anos. “Desde sempre que as viagens me dão prazer porque vou muito em busca de novas culturas, sensações e contrastes”, explica. “Coisas diferentes que normalmente não vejo no meu dia a dia e gosto de desafiar a opinião normal”.
Quando decidiu partir numa longa viagem, Matilde, que é natural de Lixa (Felgueiras), estava a trabalhar com vendas há um ano e meio. “Percebi que não era aquilo que queria a médio e a longo prazo”, recorda. “Por isso, pensei que estava na altura de fazer uma mudança de carreira.”
Durante este processo, porém, decidiu encaixar pelo meio a aventura que desde miúda sonhava fazer. Foi assim que em Julho partiu com a mochila às costas e sem grandes planos para uma aventura na Ásia.
“Gostava que fosse um desafio diferente, porque em todas as minhas viagens anteriores, tinha uma data de ida e outra de regresso. Estava quase tudo marcado e delineado.” Para além de ser um sonho antigo, o continente asiático proporcionava também a liberdade física e financeira que Matilde procurava.
A ideia inicial era conhecer três países: Tailândia, Indonésia e Cambodja. Mas pelo caminho, tem alterado o percurso. A primeira paragem foi Banguecoque, na Tailândia e, desde então, já passou pela Malásia, Singapura e está atualmente na Indonésia.
“Normalmente, são os destinos que me escolhem e não o contrário”, sublinha. “Todas as viagens que eu fiz até agora foi porque uma pessoa ou uma celebração chamou-me a atenção. Sempre que mudo de região, vou com algum propósito.”
No norte da Tailândia, por exemplo, passou três dias no mosteiro Pa Pae Meditation Retreat, a viver com monges. Ali, evitam-se os telemóveis, as conversas e todos se vestem de branco. Ao longo da experiência, Matilde teve a oportunidade de aprender novas técnicas de meditação e respiração.

Provou carne de macaco e subiu o Monte Rinjani
Na Indonésia, enquanto estava nas Ilhas Mentawai, Matilde aproveitou para viver com uma tribo local. Teve a oportunidade de se vestir a rigor com folhas de bananeira, observar de perto os membros a prepararem-se para caçar e a construir as casas com telhas.
Apesar de ter passado apenas uma noite na região, teve a oportunidade de provar carne de macaco, um dos animais caçados pela tribo para ser utilizado como alimento. “Foi um bocadinho estranho visualmente para mim porque tem uma forma física muito parecida com a nossa”, partilha. “Mas toda a rotina deles é completamente diferente.”
O animal é todo aberto e limpo à frente dos visitantes pelo xamã, o líder da tribo. Já o sabor, como não há temperos, não é intenso e não é comparável a nenhuma outra carne, segundo Matilde.
Além disso, a jovem partilha que os membros da tribo não seguem horas ou dias da semana. “Tínhamos um guia que fazia as traduções e quando perguntei a idade do xamã ele disse que ninguém sabia, porque eles não têm data de nascimento, nem passagem de ano.”
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Até à data, uma das experiências mais desafiantes foi o trilho do Monte Rinjani, que se tornou muito comentado este ano, em junho, após a morte de uma viajante brasileira, que caiu num penhasco.
“Logo o primeiro dia foi engraçado porque o guia que nos acompanhava começou a dizer que a última parte era o Regretting Hill, que era a zona onde a maioria das pessoas desistia”, conta. “O problema não era a altitude, mas sim o piso, que é muito escorregadio.”
Matilde explica que estava habituada a fazer caminhadas e a fazer exercício antes da viagem, mas nunca o tinha feito a carregar peso às costas. No final do primeiro dia, acamparam num dos pontos de apoio no Monte e no segundo, acordaram pelas duas da manhã para irem até ao topo.
“Essa subida de quatro horas e meia foi muito dura. Porque estávamos a subir em areia, eram dois passos para a frente e quatro para trás. Nós víamos o cume, mas nunca mais lá chegávamos.” Quando finalmente completou o desafio, no terceiro dia, sentiu-se realizada e pagou mais caro para dormir num hotel (em vez de um alojamento ou hostel) para relaxar.
Agora, está à espera que o próximo destino a escolha e ainda não tem ideia de quando pretende voltar a Portugal.
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