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Na Virgin Atlantic já ninguém é obrigado a usar maquilhagem — mas TAP mantém a regra
Companhias estão a mudar imposições de apresentação, reagindo a críticas de que as funcionárias são transformadas em "objetos".
Uma operadora que sempre apostou na imagem.
Alguns especialistas dizem que se trata de uma revolução no mundo da aviação e até de um marco simbólico na luta pela igualdade de direitos. Por outro lado, muitos acreditam que não passa de uma manobra de marketing ou até de uma cortina de fumo. Seja como for, a Virgin Atlantic anunciou ter acabado com o seu requisito de longa data que estipulava que a tripulação de cabine do sexo feminino tinha de usar maquilhagem durante os voos.
Segundo a “BBC News“, também passa a ser oferecida às assistentes de bordo — cujo uniforme habitual consiste numa saia vermelha apertada — a opção de usar calças. Até agora, apenas podiam escolher calças mediante solicitação específica.
De acordo com um porta-voz da operadora britânica citado por este meio, as mudanças darão aos funcionários da Virgin “mais opções de como se querem expressar”, além de oferecerem “um novo nível de conforto”.
O canal britânico lembra que, nesta companhia específica, a imagem tem sido muito importante ao longo dos anos. Os primeiros uniformes apareceram com o nascimento da empresa, em 1984, e foram projetados por Arabella Pollen, uma designer de 23 anos. Foi ela a responsável pelo “Virgin Red”, o conceito do uniforme totalmente vermelho que ficaria a imagem de marca. A reformulação mais recente nas fardas foi feita por Vivienne Westwood, em 2014.
A questão com esta mudança de comportamento, que se assume ter sido desencadeada por queixas de sexismo e objetificação das assistentes de bordo — feitas pelas funcionárias ou até pelos viajantes —, é que vem com uma nuance. A equipa pode trabalhar sem maquilhagem, mas é “bem-vinda” para seguir a palete de tons de batom e base, definida nas diretrizes da companhia.
Isto leva vários comentadores britânicos a referir que a medida pode ser uma manobra de marketing e que nada irá, no fundo, mudar: ou seja, as assistentes de bordo já não precisam de usar maquilhagem mas claramente parecem ser aconselhadas a fazê-lo e, eventualmente, até serão escolhidas consoante a sua disposição para tal.
Até porque, dias depois desta mudança, terá sido anunciada internamente uma redução nos salários base das assistentes, que agora acusam esta medida de não ter passado de uma cortina de fumo e ameaçam mesmo fazer greve na Páscoa.
Na indústria da aviação, há anos que são conhecidas regras, em alguns casos restritas, para as funcionárias dos voos. Regulações de altura, cabelo e aspeto, recusas de tatuagens e piercings e manuais de higiene e de uniformes tendem a ser a norma.
As companhias aéreas mais recentes, como a EasyJet e a Ryanair, têm normalmente regras mais suaves e, em 2015, esta última acabou com o seu calendário de assistentes de bordo, mediante acusações de sexismo. Já a British Airways, por exemplo, continua a exigir que a tripulação de cabine use maquilhagem e só permitiu que vestissem calças em 2016.
Também a Emirates, tal como a NiT relatou numa reportagem recente, tem regras: o mais importante é manter um aspeto o mais clean e cuidado possível. O destaque no rosto vai para o característico batom vermelho.
De resto, a maquilhagem deve ser o mais neutra possível, sem brilhos, purpurinas, eyeliners carregados ou pestanas postiças. Esta companhia até disponibiliza um vídeo onde explica como as colaboradoras se devem maquilhar.
E em Portugal?
Em Portugal, contámos-lhe na mesma reportagem, há relatos de várias assistentes sobre regras e, tal como acontece em praticamente todas as companhias no mundo, existem restrições ao nível do visual. A TAP pede a todos os funcionários que tenham um visual o mais limpo e cuidado possível. Tatuagens e piercings visíveis são, por isso, proibidos.
A companhia, segundo a assistente de bordo que falou nessa altura com a NiT, pede também que a maquilhagem seja o mais neutra possível, mas permite que as funcionárias utilizem batom vermelho durante os voos, que contrasta com as cores do lenço. As unhas, que devem estar arranjadas, podem ter uma cor natural ou vermelho. Purpurinas, brilhos, pedras brilhantes e unhas de gel demasiado compridas e artificiais não entram.
Contactada agora pela NiT, depois das notícias das mudanças na Virgin, a companhia confirma que nada muda nas suas regras. As “tripulantes da TAP primam pelo máximo cuidado com a sua imagem. Por isso, durante o exercício das suas funções, pede-se que tenham um visual o mais cuidado possível”, diz Marisa Ferreira, do departamento de coordenação corporativa da operadora portuguesa.
E especifica: “As assistentes de bordo devem utilizar o cabelo apanhado e puxado para trás ou solto, se tiver um comprimento abaixo da linha dos ombros. Já os comissários de bordo devem ter o cabelo cuidado e aparado.”
O uso de maquilhagem “é obrigatório e deve ser discreto”. As unhas “devem ser pintadas com uma cor clássica e também discreta”.
A farda atual da companhia, em vigor desde 2008, permite o uso tanto de calças, como saia e vestido no fardamento feminino.
São as obrigações legais?
Quando a NiT escreveu um artigo sobre a obrigatoriedade do uso de batom vermelho nas lojas da Zara, denunciado pelas suas funcionárias, a advogada Rita Garcia Pereira explicou que nenhuma empresa “pode exigir que uma pessoa vá maquilhada”.
“Não é legal”, adiantou esta advogada especialista em direito do trabalho. A diferença parece ser ténue mas existe, garante: “A única coisa que se pode pedir é que as funcionárias estejam apresentáveis” mas não especificamente “com maquilhagem”.