O date desta semana foi invulgar. Jantámos em trio (acalmai as mentes perversas, oh sáchavôr). Para matar saudades duma grande amiga, na verdade espécie de mãe adoptiva deste escriba, convidámos a Luísa Castel-Branco para se juntar ao repasto. E qual a mesa perfeita para um encontro onde se espera pôr a conversa em dia, sem relógio nem barreiras? Comfort food. O que não esperava era que esta acabasse a transformar-se em food porn.
Restaurante: Dote
Local: Lisboa, Avenida da República
Preço médio (2 pessoas): 20
Rating: 68 (de 0 a 69)
Ela: O Dote tem um mood de route 66, misturada com a elegância dos anos 20. Sofás confortáveis, comida fantástica e a Mónica. A empregada de mesa que nos acompanhou, guiou e apresentou a alma do restaurante. A diferença entre um bom jantar e um local a voltar está em pessoas assim — dedicadas.
Ele: A entrada em modo enchidos suculentos e queijos agradecidos pela companhia lançou o diálogo familiar, as sardinhas da vazia seriam bem-vindas numa casa conservadora dum digníssimo bonus pater, o bacalhau à Brás subiu, insinuante, o nível de picante, as francesinhas já começaram a pedir bolinha vermelha no canto… e as ribs, meu Deus, as pork ribs à americana, já foram mais pornográficas que a hora de fecho no Elefante Branco.

Ela: O Luís fica 90% do tempo concentrado nos pratos, outros 10% no jogo que passa mesmo em cima da minha cabeça. Senhoras, um pequeno aviso: Não cometam o erro de os deixarem ficar de frente para a televisão. São como miúdos de 5 anos quando os Caricas se vestem de pinguins (não sei porque tenho esta informação). Eu e a Luísa poderíamos planear saquear o banco de Portugal, que o Luís ficaria na mesma, com marcas de ribs algures na camisola.

Ele: Junte-se a isto o ambiente acolhedor, a iluminação aprazível, um atendimento a toda a prova, o vinho perfeito e esgotam-se os adjectivos do dicionário. Saímos do DOTE felizes como bebés a caminho do baptizado e vamos a rebolar até ao Marquês.
Ela: Conseguimos conversar, petiscar, enfardar e tantos outros “ar´s” que não cabem nesta crítica. Este é um Dote que não fica inultimente preso no canto da televisão, não presenteia o marido no dia do casório, mas sim um local dotado de talento para receber.
Ménage a Trois
Carne maturada. Qualquer refeição que implique um cuidado prévio de dias a fio, como um paraíso com capataz, é um ensaio filosófico contra as rapidinhas. Pratiquem o tântrico, amigos. É coisa para levar à perda do emprego e extinção da vida social, mas que se lixe.
Orgasmo múltiplo
Brownie com espuma de caramelo salgado, gengibre cristalizado e crumble de chocolate. Repetir 3 vezes como um mantra e logo se abrirá um portal para um mundo multicolor de unicórnios sorridentes e ninfas maquilhadas com nutella.
Turn off
A sensação clara, ao sair do DOTE, que na manhã seguinte será urgente ir ao banco pedir crédito ao consumo para poder investir num Personal Trainer sádico.
O Luís e a Sara vivem juntos numa casa e num espaço virtual chamado Welcome ABorges.