Da fronteira é possível avistar a pequena povoação a mais de três quilómetros de distância. E se entre França e Espanha existisse ainda uma rigorosa fronteira controlada, chegar até Llivia poderia ser mais complicado do que é atualmente.
A história da vila rodeada de todos os lados por território francês começa a ser contada na guerra de opôs os dois países durante o século XVII. Território do principado da Catalunha, acabou por ficar nas mãos da monarquia espanhola — mas os franceses tinham também pretensões às terras junto aos Pirinéus.
A guerra e as negociações chegaram a um ponto de conclusão que seria selado com o casamento do rei francês, Luís XIV, com uma princesa espanhola. E foi em 1965 que se assinou Tratado dos Pirinéus, que ainda assim deixou por resolver muitos problemas, sobretudo nas zonas onde não havia marcos físicos como as montanhas para delinearem as fronteiras naturais.
No centro do problema mais discutido estava o Vale da Cerdanha, terra fértil, bonita e que agradava a ambos os reinos. O ponto mais contencioso da negociação foi então resolvido com um acordo que 33 das vilas da região ficariam nas mãos de França. Só que Espanha argumentou que Llivia não se tratava de uma vila, mas sim de uma cidade.
Os franceses, irritados, exigiram compensação e receberam o Vale de Carol — mas Espanha manteve o domínio sobre Llivia. Numa era onde os mapas eram ainda rudimentares, ninguém percebeu o problema que estaria para surgir: é que Llivia ficava encravada no território francês, a três quilómetros da fronteira. Para lá chegar, era necessário invadir França.
O acordo final só foi selado em 1866 e garantia passagem livre, de quem vinha de Espanha, até chegar à pequena vila. Mas não seria o último problema para o enclave. É que na década de 70, os franceses construíram duas estradas que cruzavam a passagem livre — e decidiram que quem nelas circulasse teria prioridade sobre os outros automóveis.

Os cidadãos de Llivia não gostaram e começaram a destruir os sinais de stop. Foi preciso esperar mais de uma década para que os problemas rodoviários fossem resolvidos com pontes e passagens subterrâneas.
Llivia tem apenas 1500 habitantes, o número suficiente para conquistar pelo menos um recorde do Guinness, quando em 2017 acenderam uma bandeira catalã com 81 mil velas, num sinal de apoio ao polémico referendo de 1 de outubro.
Mas há mais para descobrir na pitoresca vila junto aos Pirinéus e que, no inverno, se cobre de branco. É, por exemplo, lar da primeira farmácia da Europa, inaugurada em 1415, e que hoje serve de casa a um museu.
Situada num dos mais amplos vales de toda a Europa, distingue-se também pela sua igreja e pela torre de Bernat de So, um edifício militar do século XV.
A sua localização dá origem também a fenómenos caricatos. Do lado francês, os dentistas são muito mais baratos e, por isso, existem dezenas de clínicas a rodear a vila. Por outro lado, em Llivia prosperam os cabeleireiros e os bares, que agradam aos franceses.
