Um coração, uma lua ou um sol. Praticamente todas as casas erguidas na cidade italiana de Alberobello têm tetos decorados com símbolos solares, religiosos — como a hóstia que recorda o emblema da Ordem dos Jesuítas — e até astrológicos. Segundo a história, tais símbolos serviam como proteção contra o mau-olhado ou para venerar divindades que, supostamente, protegiam as colheitas da comunidade agrícola no século XVI.
Aninhadas nas paisagens pitorescas de Puglia, estas casas peculiares, que parecem ter saído de um conto de fadas, foram fundamentais para colocar esta pequena localidade no roteiro turístico. Estas construções de pedra calcária, chamadas trulli, diferenciam-se especialmente pelo seus telhados de forma cónica.
Além de criarem uma paisagem única e fascinante, têm uma história intrigante. Estas casas foram construídas para que o conde Giangirolamo II Acquaviva conseguisse ludibriar o governo. Conhecido por ser uma figura peculiar, o conde era reputado como um homem mau e vingativo, mas também desempenhou um papel importante na melhoria das condições de vida dos seus agricultores. Apesar de ser um fervoroso defensor da coroa espanhola, que dominava o país no século XVI, não hesitou em usar uma estratégia que resultou num legado arquitetónico impressionante.
A história começou quando o pai do conde enviou cerca de 40 famílias de camponeses para uma área rica em carvalhos, com o intuito de a recuperar e torná-la cultivável. Em 1635, Acquaviva construiu uma pousada com refeitório, um oratório central e um conjunto de pequenas casas, utilizando apenas calcário e pedra cárstica, sem qualquer tipo de argamassa.
A corte do Reino de Nápoles, ao tomar conhecimento da urbanização, convocou o conde para justificar a isenção do pagamento de impostos sobre as habitações nas suas propriedades. O governo acreditava estar a lidar com uma violação da lei que proibia a construção de centros urbanos sem autorização real e o pagamento correspondente.
Fingindo-se de inocente, o conde alegou que não existiam moradias e desafiou o tribunal a inspecionar as suas terras. Contudo, antes que os representantes da corte pudessem iniciar a investigação, mandou destruir todas as casas e transferiu os residentes para a floresta até à conclusão da inspeção. O plano foi bem-sucedido: a corte acreditou que não havia urbanização e retirou-se.
Após a inspeção, as famílias puderam regressar, mas sob uma condição: a partir desse momento, só poderiam construir habitações que pudessem ser desmontadas rapidamente — assim surgiram os trulli, as famosas estruturas construídas sem argamassa, consistindo em tijolos empilhados.
@butnomattertheroadislife This enchanting village is … … Alberobello, in Italy’s Puglia region. It is famous for its trulli, small white houses resembling teepees 🇮🇹 It’s also one of the most beautiful places in Italy. 📍Alberobello, Puglia, Italy #Alberobello #puglia #pouilles #village #italy #italytravel #visititaly #beautifuldestinations #shotoniphone #architecture
Embora o plano inicial tenha sido um sucesso, o conde acabou por ser preso em 1643, mas os habitantes continuaram a dominar a arte de construir estas habitações, que seguem técnicas ancestrais de empilhamento de pedras secas. Escolhidas cuidadosamente, estas pedras formam paredes espessas que garantem isolamento térmico, mantendo o interior fresco no verão e quente no inverno.
Os telhados em forma de cone são construídos com lajes calcárias em balanço, onde geralmente são colocadas pedras decorativas ou um símbolo religioso, conhecido como pinnacolo. Com o passar do tempo, essa prática resultou na formação de uma paisagem urbana singular, com mais de mil trulli. Embora muitos tenham sido transformados em lojas, restaurantes e acomodações turísticas, alguns continuam a ser habitados por famílias locais que preservam as tradições antigas.
Devido à sua importância histórica, a cidade foi reconhecida como Património Mundial da UNESCO em 1996, atraindo visitantes de todo o mundo. Segundo a UNESCO, estas casas são “exemplos notáveis de construção sem argamassa, uma técnica de construção pré-histórica ainda em uso na região da Puglia.”
O principal atrativo para os visitantes é passear por Alberobello, onde existem dois grandes conjuntos de trulli, um de cada lado da estrada principal. Na zona sul, destaca-se a Igreja de Santa António de Água, situada numa área onde muitos trulli foram convertidos em lojas e outros serviços turísticos. Esta localidade, chamada Rione Monti, é uma das mais famosas de toda a Puglia, devido aos cerca de mil cones que abriga.
Por outro lado, o Rione Aia Piccola é um bairro mais pequeno e residencial, onde é proibido abrir negócios comerciais. É o local ideal para conversar com os habitantes locais e descobrir mais sobre a história da região.
Como lá chegar
Alugar um carro em Puglia é uma das melhores opções, principalmente para quem pretende visitar os povoados do Vale d’Itria, como o de Alberobello. O aeroporto mais próximo é o de Bari, que fica a cerca de 55 quilómetros.
Se partir de Lisboa, encontra bilhetes de ida e volta desde 87€. Caso apanhe o avião no Porto ou em Faro, há voos a partir de 89€ e 175€, respetivamente.
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