Natural do Porto, Alexandra Martins sempre teve uma adoração pelo Douro e alimentou o sonho de viver em comunhão com a região. O pai, David de Almeida Martins, foi um dos responsáveis por realizar esse desejo.
A família comprou uma quinta privada em Marco de Canaveses há mais de 25 anos, inicialmente pensada para ser apenas um refúgio de fim de semana. “O meu pai começou a construí-la como casa de férias, mas no processo de construção ficou com Alzheimer e o espaço nunca chegou a ter o intuito original”, conta à NiT a filha Alexandra, de 47 anos.
Chegou a colocá-la à venda, “mas o Douro ainda não estava na moda” e não surgiram interessados. “Foi em anos de crise, ninguém comprava uma segunda casa. Mais tardemos decidimos terminar a casa, mas as despesas eram muitos grandes, então tivemos de arranjar uma forma de manter a propriedade e manter o sonho do meu pai”, adianta.
Em 2014 o espaço abriu como Dajas Douro Valley, um turismo rural com apenas uma casa. O projeto surgiu fruto da paixão de Alexandra pela hotelaria e pelo gosto de receber e do empreendedorismo do marido Artur, que viu no local as suas potencialidades turísticas.
“Como gostamos tanto do Douro, decidimos acabar a casa e colocá-la no Airbnb, primeiro como uma brincadeira, mas depois o projeto foi crescendo”, sublinha. Na altura estava disponível apenas a Casa do Rio, “a casa original do projeto, pensada como retiro de campo no Douro”, mas nos anos seguintes foram adicionando outras atividades. Ao mesmo tempo, começaram a adquirir pequenas casas que estavam à volta da propriedade com o intuito de renová-las e transformá-las também em alojamento.
Uma delas foi a antiga escola primária da localidade de Dajas, que surgiu em 1898 como o primeiro estabelecimento de ensino de Penhalonga. Tudo porque a antiga proprietária, Gertrudes Gomes Villela, deixou o imóvel em testamento para que fosse convertido numa escola onde as crianças da aldeia poderiam aprender.
“Comprámos a escola num leilão da Junta da Freguesia, que na altura era apenas um monte de pedras”, conta. Embora o nome oficial fosse escola D. Gertrudes Villela, sempre foi conhecida pelos locais como escola de Dajas. Hoje é a Casa da Escola, uma das muitas novas unidades da Dajas Douro Villas.
Logo depois do portão encontra-se o pátio que funcionava como o recreio e que foi mantido pelo casal, que sempre fez questão de preservar as memórias antigas do lugar e contá-las a todos os que visitam o turismo rural.
O sonho de reabilitar os imóveis em ruínas contíguas ao terreno, como a antiga escola, a casa da professora (o local que acolheu, durante décadas, a professora da escola) e as casas em tempos habitadas pelos trabalhadores da quinta levou ao crescimento do projeto, que fechou portas em novembro do ano passado para dar início às obras. “Foi o nosso grande salto, o maior desafio de todos”, diz,
Em maio, reabriram com “um conceito totalmente diferente”, como se fosse “uma pequena aldeia”. De uma casa, passaram a oito, apesar de só cinco delas estarem disponíveis para alugar. As restantes deverão abrir em 2025.
“Agora funcionamos com a logística de um boutique hotel, os clientes têm acompanhamento a toda a hora, temos serviço de pequeno-almoço e várias áreas comuns”, destaca. Todas em pedra, cada uma das unidades têm lareiras suspensas e vistas incríveis para o Douro.
Atualmente é possível ficar hospedado na Casa do Rio (oito hóspedes), com quatro suites, na Casa Escola (seis hóspedes), com 142 metros quadrados e piscina privativa, na Casa Miradouro (quatro hóspedes), onde o grande protagonista é o janelão voltado para o rio, na Casa Professora e na Casa Penedo, estas duas com capacidade para dois hóspedes.
Em construção estão a Casa do Lagar, que ganhou o nome devido à existência de um antigo lagar usado para pisar as uvas no rés-do-chão, a Casa da Mina, batizada em homenagem às antigas minas de água, e a Casa do Laranjal, designada assim devido à presença incontornável dos citrinos desde os primórdios da quinta.
Já no exterior, os hóspedes podem aproveitar a piscina comum a todas as casas. “A grande mais valia é o mesmo o silêncio, a tranquilidade e toda a paisagem”, refere.
Com o intuito de fazer renascer as vivências passadas na quinta, reabilitaram as minas de água existentes na propriedade, bem como os diferentes tanques usados no regadio. Cultivaram de novo a terra, agora com uma plantação de dois hectares de diferentes tipos de limão, a par de variadas árvores de fruta. Os animais também regressaram à quinta e o lugar de Dajas “ganhou de novo a vida de outrora”.
Para facilitar a estadia e ajudar os hóspedes que não querem perder tempo a cozinha, abriram também a Mercearia & Wine Shop, com produtos regionais e refeições pré-feitas. “Além de partilhar o melhor da região, é uma forma de recuperar o imaginária coletivo das mercearias antigas, onde éramos sempre recebidos com um sorrido e, muitas vezes, uma figurinha de chocolate”, sublinha.
Conscientes da urgência em proteger o planeta para futuras gerações, procuram incentivar a aquisição de quantidades necessárias para a estadia através da venda a granel ou em pequenas embalagens, combatendo assim o desperdício.
O Dajas Douro Valley disponibiliza também um conjunto de atividades, como provas de vinho e limoncello, ou atividades aquáticas, como passeios de barco. Os workshops de olaria, pintura de azulejos e observação de aves, assim como a possibilidade de ter um chef de cozinha em casa são outros exemplos.
Os preços da estadia começam nos 200€ por noite, dependendo da casa. As reservas podem ser feitas online.
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