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O primeiro hotel literário dos Açores tem mais de 5 mil livros nas estantes

O Azores Book Hotel começou a receber hóspedes em agosto e é um paraíso para os leitores. Os quartos são todos temáticos e até o bar tem obras literárias.
Perfeito para os book lovers.

Dormir num quarto dedicado a Luís de Camões, numa suite inspirada na trágica história de amor de Romeu e Julieta ou tentar encontrar a baleia mais famosa do mundo através de um ponto de observação chamado Gávea Moby Dick. Tudo isto é possível no Azores Book Hotel, a primeira unidade hoteleira literária do arquipélago, onde as páginas ganham vida e cada obra é um refúgio e um lugar para estar.

Com mais de cinco mil livros espalhados por vários recantos num edifício histórico do século XVIII, em Angra do Heroísmo, o projeto nasce da vontade de dois ávidos leitores. Lara Martinho e o marido, Sandro Paim, naturais da Ilha Terceira, sempre gostaram muito de ler, mas nunca imaginaram que esse fosse o ponto de partida para um projeto para o qual decidiram avançar em conjunto.

“Estávamos à procura de algo para fazer juntos nesta área da hotelaria. Primeiro queríamos algo mais pequeno, mas conhecemos uma empresa [Hotel do Livro] que tinha elaborado o conceito do hotel literário e adorámos a ideia”, começa por contar à NiT a diretora-geral da unidade hoteleira, de 45 anos. 

Quando descobriram a empresa fundada pelo escritor açoriano João Neto e o sócio Luís Carneiro, já o projeto estava aprovado e decidiram “abraçar esta aventura” que tinha tudo a ver com eles. Apaixonados pela hospitalidade e leitura, o casal comprou a empresa no final de 2021 com o sócio Luís Nunes e foi aí que começou o verdadeiro desafio: transformar um edifício histórico do século XVIII num refúgio literário.

“A casa estava habitável, mas há muito tempo que estava sem ninguém. Inicialmente era um edifício de habitação, mas depois foi sede da antiga RTP dos Açores durante vários. É conhecido pelos açorianos como a casa da RTP, mas há mais de sete anos que estava abandonado”, explica Lara, que já fazia a gestão de um alojamento local na ilha, mas nada “desta dimensão”.

O imóvel foi reconstruído, assim como a casa anexa, e juntou-se a uma construção totalmente nova, na zona da propriedade onde existia um miradouro. “O que fizemos foi retirar esse miradouro e reconstruí-lo com quartos. É todo ferrado a pedra e de fora continua a parecer o mesmo, mas o miradouro agora encontra-se no topo do edifício, que tem vista para o Monte Brasil”. Com o chão feito em calçada portuguesa, é “o edifício mais emblemático do hotel” por ter sido “reconstrução na perfeição”.

Com uma localização privilegiada numa cidade de património da humanidade, a dupla fez “um conjunto de adaptações” e o Azores Book Hotel abriu em soft opening a 1 de agosto. “É o primeiro hotel literário dos Açores, não havia nada do género. Cada quarto é dedicado a uma obra e tem uma decoração alusiva. As alas estão todas divididas por temáticas, incluindo uma só dedicada aos Açores”, sublinha. 

Todos os 45 quartos são inspirados em obras icónicas nacionais e estrangeiras, como “Os Lusíadas”, de Luís de Camões, e “Romeu e Julieta”, de William Shakespeare. Cada um deles tem uma decoração temática e o objetivo é também dar “mais informações e conhecimento” sobre a história em questão.

No exterior de cada quarto, por exemplo, existe um quadro de grandes dimensões com uma fotografia do autor para que os hóspedes possam associar uma cara ao livro. A própria obra também estará disponível no interior. “São todos diferentes, mas têm estes detalhes em comum. Todos têm a imagem da capa, uma frase do livro, um quadro com a fotografia do autor e uma imagem em grandes dimensões na parede”, diz. A decoração é “repleta de detalhes que contam histórias” e cria todo um ambiente acolhedor e poético.

Atualmente estão disponíveis para reserva apenas 24 unidades, sendo que as restantes abrem em outubro, em simultâneo com o serviço de spa, ginásio e quatro apartamentos. No edifício principal, além dos quartos, encontram-se a receção e uma sala dedicada às cartas de amor de Fernando Pessoa a Ofélia Queirós.

“Todas as cartas de amor são ridículas, não seriam cartas de amor se não fossem ridículas”, escreveu Fernando Pessoa. Neste “espaço acolhedor”, terá a oportunidade única de mergulhar nas emoções profundas e nos sentimentos complexos expressos por um dos maiores poetas do nosso tempo.

Numa das zonas do empreendimento existem ainda vários quadros com dedicatórias escritas nos livros, para dar a conhecer “as obras que serviram de inspiração para o hotel e os próprios autores”. O Azores Book Hotel dispõe ainda de uma sala de pequenos-almoços, uma sala de reuniões e uma esplanada no exterior.

Outro destaque que não poderia faltar num hotel literário é a biblioteca, que está aberta ao público geral e funciona também como uma livraria. Isto significa que os clientes, mesmo que não sejam hóspedes, podem comprar ou requisitar obras. No futuro, o objetivo é desenvolver eventos relacionados com a área, como lançamentos de livros.

É também neste espaço cheio de estantes que se esconde ainda o bar da unidade hoteleira, onde é possível comprar uma garrafa de vinho enquanto lê. Além dos mais de cinco mil livros físicos, os hóspedes podem ainda alugar um Kobo com mais de 100 obras para ler à beira da piscina ou no conforto do quarto.

No antigo anexo estão a ser construídos quatro apartamentos, que deverão abrir também no mês de outubro, assim como a piscina exterior, rodeado por um jardim com árvores centenárias, como magnólias. É precisamente nesta área verde que terão um espaço para eventos, assim como uma tenda transparente para eventuais festas.

O hotel contará também, no início do outono, com um spa com sauna, salas de tratamentos, piscina interior e ginásio. “Um refúgio perfeito para escapar do quotidiano e encontrar um equilíbrio sereno”, sublinha.

Espalhados pela propriedade estão ainda o ponto de observação Gávea Moby Dick, equipado com binóculos para contemplar as vistas da paisagem circundante, a Fonte dos Namorados, um “lugar encantador para partilhar momentos especiais” e a árvore que ficou batizada como a Árvore Anne Frank. 

Os preços da estadia rondam os 130€ e os 150€ por noite, dependendo da época e tipologia. As reservas podem ser feitas online.

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