Muitos sonham viver a reforma num destino paradisíaco, repleto de palmeiras, com praias de areia fina e águas azul-turquesa como as Maldivas. António Marques, de 67 anos, não só passa lá a maior parte dos seus dias, como também decidiu abrir um hotel ecológico num atol habitado do arquipélago — mas a paixão pelas Maldivas surgiu muito antes de se ter reformado. Em 1996, para sermos mais exatos.
António sempre trabalhou como engenheiro agrónomo e nunca ficou muito tempo parado num só sítio. Andou a “saltar pelo mundo”, como o próprio diz. Começou em Portugal, depois foi convidado para trabalhar na Suíça, onde ficou a morar durante uns anos e passou pelos Estados Unidos, China e Malásia.
Numa das suas viagens de trabalho a Hong Kong foi convidado a passar umas férias nas Maldivas. Corria o ano de 1996 e não se tiravam milhares de fotografias para publicar nas redes sociais — até porque não existiam.
Assim que pisou o arquipélago, António apaixonou-se. E voltou lá quase todos os verões seguintes. “Fui ficando cada vez mais apaixonado, trazia a minha família, depois os amigos. Tornou-se um hábito passar lá as férias, era fantástico”, conta à NiT. Ainda os netos não tinham um ano e já passavam o verão nas Maldivas.
Ao contrário do que acontece atualmente, em que a maior parte dos turistas preferem ficar hospedados em resorts de luxo, António optava pelos chamados safari-boat (barcos-safari), onde podia visitar uma ilha diferente todos os dias, fazer pesca ou mergulho.
“Quando me reformei decidi construir um barco do género, mas não tinha experiência nenhuma. Mandei-o construir numa empresa no Egito e trouxe-o para as Maldivas, mas na altura era obrigatório ter um sócio local para o conseguir pôr a funcionar”, recorda. Contudo, o sócio que arranjou “não foi honesto” e nunca conseguiu transformar a embarcação num negócio. Por isso, decidiu vendê-la, mas continuava com a ambição de criar algo no arquipélago pelo qual se apaixonou.
Juntou-se a um amigo, também português, e, em conversa, surgiu a ideia de construírem um pequeno hotel. “Andámos à procura de uma ilha pequena e simples. Descobrimos o Vaadu (na região de Thinadhoo), um atol fantástico, muito verde. Fica a 20 minutos do hidroavião, não tem carros e tem poucos habitantes”, diz.
Depois de encontrar a localização perfeita, começou a pensar no projeto hoteleiro. Inicialmente seria para ser uma espécie de guest house, apenas com 12 quartos, mas surgiu-lhe uma oferta inegável: durante a pandemia, um dos vizinhos queria arranjar dinheiro e colocou umas casas à venda. António aproveitou a oportunidade e comprou-as. “De uma guest house de 12 quartos passou a ser um hotel de 26 quartos.”
Construiu uma equipa com habitantes locais, imigrantes do Bangladesh e do Sri Lanka e começaram a construir o Ecoboo Maldives, um hotel ecológico construído sobretudo com bambu. “Acredito na sustentabilidade e, ao longo da minha carreira, desenvolvi muitas iniciativas nesta área. Decidi construir um hotel de bambu e o objetivo é ter impacto zero em termos de pegada ambiental”, reforça.
O alojamento demorou cerca de dois anos e meio a ser construído e abriu oficialmente em agosto do ano passado. Diferente dos resorts de luxo que se costuma encontrar nas Maldivas, o Ecoboo está situado numa ilha com alguns habitantes e lojas locais. Existe mais um hotel e três guest houses no atol, mas nenhum dos empreendimentos é tão sustentável como o do português. “Quero mostrar às pessoas que as Maldivas não precisam de ser tão caras como pensam. Quem fica nos resorts de luxo não tem acesso às experiências todas que eu tive o privilégio de ter. Foi isso que me motivou a criar algo mais acessível”, diz António Marques, que confessa que quer trazer mais portugueses para a pequena ilha.
A unidade hoteleira conta com 26 quartos e suites e algumas delas podem acomodar até quatro hóspedes. Todas têm terraços privados com vista para a praia e para o oceano. No último andar da propriedade fica o rooftop, onde os hóspedes podem encontrar um bar “super tranquilo”.
Junto à praia fica o restaurante Acqua Beach e, brevemente, será inaugurado outro espaço de restauração no interior do hotel. “Também vamos realizar retiros para pessoas que querem fazer ioga, porque o ambiente é convida mesmo relaxamento, com a praia à frente e com toda a vegetação em volta.”
A unidade hoteleira também organiza várias tours para os hóspedes: podem visitar ilhas desertas, observar golfinhos ou fazer snorkeling. Existem atividades diferentes todos os dias e não precisa de pagar mais por isso: o valor está incluído na estadia, que oscilam entre os 150€ a 200€ por pessoa e por noite. As reservas podem ser feitas diretamente no site.
Por estar inserido numa ilha com habitantes que professam a fé islâmica, as bebidas alcoólicas são proibidas, algo que não acontece nos resorts situados em regiões desabitadas. Contudo, essa limitação pode mudar em breve: António quer voltar a trazer o conceito de barco-safari para o atol. Comprou um barco em segunda mão e, daqui a dois meses, já deve estar operacional — na embarcação os passageiros poderão beber à vontade. Vai funcionar como um bar e restaurante flutuante, mas também deverá ter alguns quartos onde será possível pernoitar.
De seguida, carregue na galeria para conhecer o hotel nas Maldivas construído por António Marques.