Na véspera do Natal de 1999, os MacLeods e os Shaws, duas famílias que se candidataram para adotar filhos, receberam a notícia de que os seus pedidos tinham sido aprovados. Cada casal daria as boas-vindas à chegada de uma menina chinesa. Assim que se reuniram com eles, os pais, que não se conheciam, partilharam a boa notícia na rede da pequena agência de adoção sediada no Canadá e não demorou muito para que percebessem que as duas bebés eram incrivelmente parecidas.
Um teste de ADN provou que eram gémeas e logo depois MacLeods e Shaws tornaram-se numa espécie de família, prometendo criar as meninas como irmãs — ainda que vivessem a mais de 400 quilómetros de distância. As gémeas Gillian e Lily continuaram a ver-se com regularidade e a trocar mensagens. Até aqui pode parecer uma cena de um filme, mas não é. E como esta, existem outras histórias que envolvem gémeos e a combinação do bizarro com a realidade.
Irmãs gémeas que deram à luz no mesmo dia, irmãos separados que se reuniram apenas para descobrir que levaram vidas quase idênticas ou um casal que teve dois pares de gémeos numa mesma gestação. É um fenómeno fascinante e tem vindo a atrair muitos investigadores há vários anos.
Na Índia há uma vila que intriga os cientistas, não por um caso de gémeos, mas por vários. Sim, porque nesta zona nasceram já 400 pares. No distrito de Malappuram, a pacata terra pode parecer comum mas por detrás de vegetação abundante, de coqueiros altos e águas calmas, há um mistério.
“Bem-vindo ao país dos gémeos”, lê-se numa placa à entrada de Kodinhi. Duas pessoas iguais, uns miúdos idênticos, dois rostos de velhotes parecidos. Quem por lá passa, vai começar a ver um denominador comum: gémeos monozigóticos (e não são poucos).
A cerca de 150 quilómetros de Kochi, vivem ali duas mil famílias, das quais fazem parte, pelo menos, 400 pares de gémeos. Como país, a Índia tem uma das taxas mais baixas do mundo para pares de gémeos nascidos — a média não é superior a nove por mil nascimentos —, mas o povo de Kodinhi parece não ter lido as instruções e tornou-se a exceção. Por cada 100 gestações, 45 são gémeos. O que é ainda mais interessante é que as mulheres de Kodinhi que se casam noutro lugar também dão à luz gémeos.
Se a inseminação artificial é uma das razões pelas quais este número tem vindo a aumentar em todo o mundo, não é o que acontece aqui. Será da água? Da alimentação? Do ar? Embora haja várias opções plausíveis, ainda não existem evidências científicas que expliquem o acontecimento. Em 2016, uma equipa de investigadores de várias instituições internacionais visitaram a vila. Recolheram saliva e cabelo e, ainda que alguns digam poder ter origem genética, não se chegou a nenhuma conclusão.
Passear por estas ruas deve ser mesmo uma experiência única e verdadeiramente desafiante. Se precisar de distinguir alguém, recomendamos que preste atenção aos penteados, marcas de nascença ou adote outras técnicas. Afinal, não é tarefa fácil chegar a um local desconhecido e conseguir logo diferenciar duas caras iguais. Mais simples será ir até lá. Chegando ao Aeroporto Internacional de Kozhikode — Calicut International airport (CCJ), só precisa de chamar um táxi até Kodinhi, que fica a 24 quilómetros de distância.
Quem sabe se não será uma caminhada a respirar o mesmo ar e a pisar o mesmo chão o truque ideal para conseguir tornar o sonho de ter filhos gémeos realidade? Além disso, enquanto viaja até à terra misteriosa, há também vários lugares magníficos que pode conhecer. O Kadalundi Bird Sanctuary, por exemplo, é um desvio que vale a pena fazer.
Carregue na galeria para ver algumas imagens da vila de Kodinhi e de alguns dos vários gémeos que lá vivem.