O México faz parte das bucket lists de muitos viajantes: entre ruínas históricas, praias paradisíacas e sabores intensos, é um destino que oferece um pouco de tudo. O difícil é decidir por onde começar esta viagem de sonho.
Caso seja um daqueles aventureiros que não conseguem dizer não a uma boa caminhada, pode sempre percorrer o primeiro trilho de longa distância do país, inaugurado oficialmente em setembro deste ano: o Camino del Mayab. Localizado a oeste das conhecidas praias de Cancún, o percurso nasceu da transformação de uma rede de antigos trilhos de caminhada e linhas ferroviárias abandonadas.
Após três anos de desenvolvimento, o trilho de caminhada e ciclismo estende-se ao longo de 110 quilómetros e não é um percurso qualquer. Além de passar por cenários idílicos, conta-nos a história dos Maias, os povos indígenas do México. Foi precisamente em colaboração com os habitantes da região que o projeto foi desenvolvido. O objetivo? Dar a conhecer as 14 comunidades que vivem ao longo da rota, num trajeto que conta uma história de exploração colonial e erosão cultural.
“O objetivo principal do Camino del Mayab é proteger a cultura, a história e o património das comunidades Maias ‒ elementos que correm o risco de desaparecer”, disse à “National Geographic” o diretor da EcoGuerreros, Alberto Gabriel Gutiérrez Cervera, uma organização de conservação ambiental que ajudou a construir o percurso.
Mais do que um trilho para turistas, é “um projeto para pessoas de todas as comunidades” e pode ser percorrido tanto de bicicleta (três dias) como a pé (uma caminhada de cinco dias). O Camino del Mayab leva os visitantes ao coração da civilização Maia em Yucatán, de Dzoyaxché — uma pequena comunidade construída em torno de uma quinta do século XIX — até aos templos escavados de Mayapan, uma das últimas grandes capitais deste povo.
Ao longo do percurso, é possível encontrar comunidades (que continuam em desvantagem na sua terra natal) instaladas em propriedades agrícolas que, no século XIX, serviam para cultivar henequém, uma planta fibrosa do género Agave que pode ser transformada em corda. O seu cultivo deixou de ser necessário após a Segunda Guerra Mundial e muitas das quintas transformaram-se em ruínas abandonadas.
Outras foram transformadas em museus ou acomodações, como a Hacienda Yaxcopoil, que pertence à mesma família há 200 anos. Atualmente é um ponto de paragem onde os visitantes têm uma aula de história logo no início do percurso. A primeira noite do trilho é passada em cabanas tradicionais com telhados de colmo em San Antonio Mulix. Na manhã seguinte, a viagem segue pelas antigas rotas de transporte de henequém até Abalá. Os aventureiros irão passar por apicultores na floresta e por alguns dos três mil cenotes que estão espalhados por Yucatan. Estes buracos cheios de água doce compõem cenários paradisíacos e são uma das maiores atrações do percurso.
A caverna subaquática Cenota Angelita é uma das mais famosas da região devido à sua formação inusitada. Devido ao seu ecossistema único, no rio a água salgada não se mistura com a doce — a primeira está por baixo, e tem uma turvação diferente, a segunda fica mais acima. Os Maias consideram estas represas sagradas. O Cenote Kankirixche, por exemplo, contém restos humanos e relíquias de rituais.
Ao chegarem a Abalá os caminhantes podem visitar a Casa dos Artesãos, onde podem adquirir produtos tradicionais como o traje Huipil, estátuas de jaguares e mel produzido na região. É nesta cidade irão passar a segunda noite para que, no dia seguinte, possam continuar a percorrer o primeiro trilho de longa distância do México.
A rota passa por zonas repletas de vegetação e vida selvagem até chegar a Mayapán, o ponto final do Camino del Mayab. Os aventureiros que ainda tenham forças podem subir até ao topo do Templo de Kukulkan, ao monumento central da antiga capital Maia. No topo, irá poder apreciar as vista panorâmica sobre toda a rota e a floresta envolvente.
Como lá chegar
Para percorrer o primeiro trilho de longa distância, primeiro terá que apanhar um avião até Mérida, no México. Com partida de Lisboa, encontra bilhetes de ida e volta desde 704€. Ao chegar ao aeroporto, a única opção é mesmo apanhar um táxi, Uber ou reservar um transfer junto da organização para que o levem até ao ponto de partida do trilho, vista que não existem transportes públicos que assegurem a viagem até lá.
Carregue na galeria para ver alguns dos cenários idílicos do Camino del Mayab.