NiTtravel

O mosteiro quase desconhecido que inspirou um dos filmes nomeados aos Óscares

Considerado uma obra-prima modernista, a história do templo e o seu arquiteto têm algumas semelhanças com “O Brutalista”.
Diferente de tudo o que existe.

Durante muitos anos, a existência de um mosteiro em Collegeville, Minnesota, nos EUA, foi um segredo guardado por monges beneditinos e arquitetos, sendo uma construção sem igual. Considerada uma obra-prima do modernismo, a estrutura de betão destaca-se pela sua imponente fachada em forma de colmeia, composta por centenas de hexágonos brilhantes.

O edifício da Abadia de Saint John’s, que permaneceu muito tempo afastado das luzes da ribalta, está agora a ganhar notoriedade, especialmente após ter servido de inspiração para “O Brutalista”, um drama épico que narra a vida de um arquiteto judeu húngaro que emigra para os Estados Unidos após sobreviver ao Holocausto.

A produção de Brady Corbet, que já arrecadou três Globos de Ouro, é uma das principais candidatas ao Óscar de Melhor Filme, cuja cerimónia se realiza na madrugada da próxima segunda-feira, 3 de março. O realizador, de 36 anos, revelou à “Rolling Stone” que o mosteiro desenhado por Marcel Breuer foi uma influência crucial para o filme.

A história desta notável obra modernista remonta a Baldwin Dworschack, um abade conservador que, na metade do século XX, assumiu a administração do mosteiro. Nesse período, tomou a ousada decisão de transformar a St. John Abbey num “verdadeiro monumento arquitetónico”. Para tal, contactou 12 arquitetos de renome na época, convidando-os a apresentar projetos para a renovação do espaço.

Embora muitos tenham respondido ao desafio, foi Marcel Breuer, um judeu húngaro conhecido pela sua invenção das cadeiras tubulares de aço, quem foi escolhido para idealizar a nova igreja. Em 1954, Breuer não só foi encarregado de projetar a nova igreja, como também de expandir o recinto monástico. As bancadas do coro e o trono do abade foram dispostos de forma semicircular, criando um ambiente mais acolhedor em torno do altar principal. A igreja, que tem capacidade para mais de 2.000 pessoas, foi concebida para que toda a comunidade se sentisse próxima e envolvida.

Uma das características mais impressionantes do templo é a sua fachada e a torre do sino, que se ergue majestosa sobre a entrada principal. A fachada norte, com 430 hexágonos coloridos, é reconhecida como a maior parede de vitrais do mundo. O projeto, descrito como “algo nunca visto”, foi finalizado em 1961 e tornou-se a maior realização da carreira de Breuer, não passando despercebida ao realizador de “O Brutalista”.

“O que torna o edifício interessante, além da sua beleza, é o facto de Breuer ser um emigrante judeu que fugiu do Holocausto na Hungria e teve como um dos seus primeiros projetos encomendados uma igreja no centro-oeste dos Estados Unidos”, salienta Corbet.

Apesar de o realizador não ter a intenção de fazer um filme biográfico, as semelhanças entre os protagonistas — o real, Breuer, e o fictício, László Tóth — são inegáveis. Ambos nasceram em famílias judias e iniciaram as suas carreiras no design de móveis, antes de se destacarem como arquitetos. Além disso, ambos foram chamados a projetar grandes edifícios de estilo modernista numa remota colina americana, que se tornariam as suas obras-primas. Corbet já afirmou que Tóth é uma fusão de vários arquitetos icónicos, sendo Breuer uma das principais influências.

O filme, nomeado para várias das categorias principais dos Óscares, incluindo Melhor Filme, Melhor Ator, Melhor Realização e Melhor Argumento, narra a trajetória de László Tóth (Adrien Brody), um arquiteto húngaro judeu que sobreviveu ao Holocausto e chegou aos Estados Unidos em busca de uma nova vida, aguardando a chegada da mulher, Erzsébet, que se encontrava na Europa de Leste com a sobrinha. 

O que László descobre é uma América muito diferente daquela que tinha idealizado, onde a promessa do sonho americano se revela uma ilusão. A reputação que construiu como arquiteto em Budapeste não tem valor na industrializada Pensilvânia. Tanto László quanto Erzsébet enfrentam a pobreza e a indignidade, mas o talento do arquiteto acaba por ser reconhecido pelo industrial Harrison Lee Van Buren, que o contrata para projetar um imponente edifício modernista — o projeto mais ambicioso da sua carreira, que exigirá um delicado equilíbrio entre a sua visão e a influência do seu patrocinador.

O filme deu apresentou ao mundo a Abadia de Saint John’s, que necessita urgentemente de intervenções. Parte da estrutura de betão já se encontra a desmoronar, e o aço começa a oxidar. Alan Reed, um dos monges do mosteiro, expressou que os seus colegas estão “bastante entusiasmados” com a atenção que o edifício está a receber, o que poderá ajudar a angariar fundos para as obras de restauração.

O mosteiro está aberto a visitas diárias entre as 7 e as 22 horas, exceto durante missas e outros eventos, e grupos de até seis pessoas podem solicitar uma visita guiada por um monge, com um custo de 5€ por pessoa. Todas as informações estão disponíveis online.

Como lá chegar

Para conhecer o mosteiro que inspirou o filme “O Brutalista”, o melhor é aterrar no aeroporto de Minneapolis, que fica a cerca de 90 minutos. Se partir de Lisboa, encontra bilhetes de ida e volta desde 665€. Caso apanhe o avião no Porto ou em Faro, há voos a partir de 728€ e 740, respetivamente.

Carregue na galeria para ver mais imagens da St. John Abbey, em Collegeville, no estado do Minnesota.

ÚLTIMOS ARTIGOS DA NiT