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Desafio “Comer Bem Não É Mais Caro”: os primeiros dias

Durante 21 dias, vou tentar comer comida biológica e integral gastando em média 1,20€ por refeição. A coisa está a correr bem, mas como é que se consegue estar com os amigos se todas as relações sociais se passam à volta de uma mesa?
Chowhound

O desafio #comerbemnãoémaiscaro começou esta segunda-feira, 9 de novembro. Este é o terceiro de 21 dias em que vou provar que é possível comer de forma saudável sem gastar muito dinheiro. Tenho 150€ para três semanas, para duas pessoas. Para as compras desta primeira semana gastei perto de 50€ (a lista de compras está aqui). Se quando comecei o desafio achei que seria pouco para tantos dias, nesta fase acho que vão sobrar bastantes produtos para a próxima semana. Não tenho passado fome, pelo contrário. Não tenho é gasto dinheiro desnecessariamente e tenho passado mais horas do que o habitual na cozinha.

A maior dificuldade é manter a vida social, quando grande parte das pessoas com as quais me relaciono não seguem este estilo de vida.

Relativamente à confeção das refeições, aproveito sempre o fim-de-semana para pôr as mãos na massa, já que durante a semana é mais complicado por causa do trabalho. Este domingo fiz sopa miso, arroz integral, lentilhas e sopa de arroz. O arroz integral e as leguminosas conservam-se bem no frigorífico por 3/4 dias — especialmente no inverno. A sopa também. Os legumes devem ser consumidos no próprio dia, o mais tardar no dia seguinte. Na macrobiótica não é habitual congelar alimentos. Tenho comido sempre sopa ao pequeno-almoço e a acompanhar o almoço e o jantar também. Uma tigela de sopa miso por dia e duas de sopa de arroz. Entretanto, ao final do dia, vou fazendo os pratos para o almoço e jantar, com os outros ingredientes da lista de compras. Como não tenho muito tempo livre ao almoço, o meu jantar é sempre também o almoço do dia seguinte.

Têm-me pedido que publique as receitas todas. A ideia deste desafio não é partilhar tudo, mas ir partilhando algumas dicas e sugestões e, sempre que possível, receitas. As receitas da sopa miso, do arroz integral e da sopa de arroz estão aqui. A maioria dos pratos que faço é de confeção muito simples, mas para preservar todos os nutrientes, é necessário algum conhecimento de cozinha macrobiótica. Há muitas particularidades, quer no modo de confeção, quer nos utensílios que se utiliza, quer no corte dos alimentos e combinação dos mesmos. É muito diferente da cozinha convencional por cá.

Todas as atividades sociais estão dependentes de comida. Almoços, jantares, lanches, beber um copo,… tudo o que envolve estar com amigos, família e até por vezes em trabalho, envolve comer

Algumas recomendações: cozinhar sempre as leguminosas com uma tira de alga kombu, cozinhar a maioria dos alimentos de tampa fechada (para diminuir a perda de nutrientes), usar panela de pressão (para cozinhar cereais e leguminosas), usar tachos e utensílios de cozinha em ferro fundido ou inox (é preferível evitar o alumínio, um metal extremamente tóxico, e o teflon, que contém substâncias tóxicas que são libertadas nos alimentos).

Quem quiser fazer este desafio não precisa de comprar os mesmos ingredientes que eu — como já me questionaram. O ideal é que tente fazer uma alimentação integral e com ingredientes biológicos, conforme os conhecimentos que tem e a sua condição física e necessidades, adaptando tudo.

Vou dando dicas e receitas também no Facebook e Instagram e estou disponível para esclarecer dúvidas, mas quem nunca fez uma alimentação macrobiótica deve informar-se e consultar um especialista, antes de começar.

Sobre as dificuldades, sempre pensei que o mais difícil fosse a logística e a parte de contar o dinheiro (não sou muito poupada, embora gostasse de o ser). Mas não. Constatei que há uma dificuldade maior, que tenho tido a oportunidade de observar: todas as atividades sociais estão dependentes de comida — almoços, jantares, lanches, beber um copo… tudo o que envolve estar com amigos, família e até por vezes em trabalho, envolve comer, beber, estar à mesa. Não é fácil. Ainda por cima porque para muitos isto não faz sentido, é uma dieta, passa-se fome. Eu tenho a certeza que comer biológico e integral, na proporção adequada à nossa constituição, sem químicos e aditivos só pode ser mais saudável e vou continuar até dia 29 de novembro a provar que #comerbemnãoémaiscaro. Não é, mesmo.

É um bocadinho mais difícil, mas pode não ser mais caro.

Diana Baptista é autora da comunidade I Love Bio.

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