Pronto, podemos parar de tentar encher os nossos serões de domingo a ver documentários na Netflix sobre os segredos da Princesa Diana, o mistério dos buracos negros ou os segredos dos mistérios dos buracos negros da Princesa Diana: chegou a nova temporada de “Casados à Primeira Vista”, na SIC. Já não estava tão entusiasmado para assistir ao regresso de um programa de televisão desde o dia em que anunciaram que iam fazer um remake de “MacGyver”. Depois vi o primeiro episódio, vomitei e passou-me. Mas ontem voltei a colocar os meus óculos de ver ao cringe (vergonha alheia, para quem não sabe) e fiquei pronto para mais uma temporada de análise televisiva àquele que foi um dos trunfos da SIC na guerra de audiências, sempre com a ponderação e imparcialidade que este conteúdo merece. Estou a brincar: vai ser mesmo para debochar, como acho que todos sabemos.
Em “Casados à Primeira Vista II”, Diana Chaves volta a desempenhar o papel de casamenteira/apresentadora/detentora de vestidos para fazer inveja às noivas e logo nos primeiros minutos lança o mote: “Este é só o ponto de partida para a maior história de amor das suas vidas”. Diana, ó Diana, isso era uma fantasia que ainda funcionava na primeira temporada, mas agora já ninguém cai nessa. Nós sabemos que vai correr mal, por isso é que estamos colados ao ecrã. Se fosse para ver histórias de amor com um final feliz sintonizávamos no Disney Channel, ou no Hot para quem gosta de enredos intelectualmente mais desafiantes.
Quem também regressa para mais uma temporada de termos técnicos em inglês e gravatas de bradar aos céus são os especialistas nessa ciência tão exata de juntar casais, o Dr. Alexandre Machado, Dr. Eduardo Torgal, Dra. Cris Carvalho e o Dr. Fernando Mesquita.
“A taxa de divórcio em Portugal é de 78 por cento, um número enorme”, explica o Dr. Alexandre Machado, ainda antes de conhecermos os primeiros casais. Fiquei curioso para saber se esta taxa já inclui os que eles tentaram juntar na primeira temporada ou se ainda não contabiliza este simpático contributo.
Quem infelizmente não regressa são os concorrentes da primeira temporada. É verdade, devo dizer que por esta primeira amostra fiquei cheio de saudades de todos, porque me parece que desta vez a SIC quis colocar pessoas aparentemente normais, sem grandes idiossincrasias, e, se é para isso, não contam comigo. Nem um cabelo ridículo, nem uns olhos de quem vai eletrocutar o marido no jacuzzi durante a lua-de-mel, nem uma obsessão por noivas com seios volumosos, nada… tudo gente aparentemente pouco interessante. Por isso, ou aparece o Hugo de rompante num copo de água, com uma motosserra na mão a gritar pela Ana no próximo episódio, ou eu passo a ver o “The Voice Portugal”, na RTP.
Neste primeiro episódio ficámos a conhecer quatro casais e assistimos ao início de cada uma das cerimónias de casamento. Aqui fica a minha apreciação sobre cada um deles.
Marta (37 anos, jornalista, Lisboa)
Marta, de 37 anos, é jornalista e trabalha por conta própria na área de comunicação. Sempre quis ser mãe, mas se não encontrar um parceiro em breve, equaciona ser mãe solteira e fazer uma inseminação artificial. Teve uma relação recente que não correu bem. Normalmente gosta de homens “consensualmente bonitos, mas que não gostam de uma só mulher.” É o problema desse tipo de homens, isso e o facto de muitos deles serem chatos também.
Luís (40 anos, fisiologista, Austrália)
Marta casou-se com Luís, de 40 anos. O concorrente é fisiologista, vem da Austrália e quer agora assentar, encontrar a mulher certa e ser pai. O Luís é basicamente o Dave desta temporada. Tem um ligeiro sotaque, utiliza expressões inglesas e o padrinho é estrangeiro. Não percebo o porquê desta obsessão de ter um perfil deste género no programa, mas deve ser para os estrangeiros que vivem em Portugal se sentirem conectados.
Tem uma mãe galinha que veio de propósito da Austrália para assistir ao casamento e diz expressões como “os teus irmãos não puderam vir mas vão fazer um vídeo só para dizerem good luck e tu ficares happy.” Mas afinal os irmãos estavam a fazer uma surpresa — coisa que toda a gente percebeu a léguas — e vieram da Austrália a tempo de ver o irmão casar-se. Ainda assim, a maior das surpresas ainda estava para vir: quando Marta chega ao altar apercebe-se de que já conhece o noivo. “Isto é surreal demais! Qual é a probabilidade de entre milhares de candidaturas eu vir calhar no altar com uma pessoa que conheço e com quem já saí uma vez?”, revelou a jornalista, com ar de quem não achou muita piada a esse primeiro encontro. Mais uma vez o painel de especialistas a fazer o que sabe melhor, juntar pessoas que se odeiam. Ah, especialistas… you’ve done it again!
Inês (38 anos, arquiteta, Aveiro)
Tem 38 anos e é arquiteta de profissão. “Gostava de ter alguém para quem o valor de família é importante”, disse. Vive com a irmã e o sobrinho na mesma casa e sente que são como um casal, embora tenha vontade de ter um filho seu.
Hugo (42 anos, agricultor, Granja)
Hugo é o “match perfeito” da Inês. Tem 42 anos, é licenciado em Direito mas a agricultura é a sua principal atividade profissional. É alentejano e estava solteiro há um ano. “Está na hora de acalmar e de dar importância a aspetos que até aqui não dava, nomeadamente a constituição de família”, vincou. Vive na casa dos pais, gosta de touradas e a parceira também tem de gostar, coitada. “Bem-vindo ao meu mundo, que é a vida da loucura” diz o alentejano. Olhando para o Hugo, que é agricultor e vive com os pais, a primeira coisa que me vem à cabeça é mesmo que a vida dele deve ser mesmo uma loucura. Há dias em que este menino chega a deitar-se às nove horas da noite, calma aí.
Ana Raquel (42 anos, administrativa, Aveiro)
Inês quis partilhar esta aventura com a sua irmã, Ana Raquel. A administrativa de 42 anos já foi casada e dessa relação nasceu um filho, que tem oito anos. Muito se especulou sobre o que seriam as imagens que mostravam duas noivas a chegar a um mesmo espaço. Seria o primeiro casamento gay de “Casados à Primeira Vista”? Claro que não, calma, só estamos em 2019.
As irmãs partilharam por isso a mesma cerimónia, mas cada uma teve direito ao respetivo marido. Ana Raquel não gostou do primeiro impacto que teve do noivo: “À primeira vista, não tem nada a ver comigo. Não me agrada nada”, disse. Ui, onde é que nós já vimos isto? Antes do início da cerimónia, Ana ofereceu um kit de sobrevivência ao futuro marido, o que, a avaliar pelas primeiras impressões, vai dar imenso jeito caso o senhor desista na primeira semana e queira entrar em “Alone”. “Não gosto muito de lamechices, vê la o que é que escreveste para aí, muda já”, diz antes de começarem a ler os votos, já no altar. Os amigos da noiva comentam que Ana é uma pessoa um bocado difícil. Bem, pelo que percebi a Ana não é difícil, difícil é comer ramen com uma camisa branca e sair do restaurante sem nódoas. A Ana é basicamente impossível de agradar.
Paulo (51 anos, comercial, Lisboa)
O comercial de Lisboa aparece a correr em tronco nu na praia, ao som da banda sonora de “Marés Vivas”. Alguém achou que isto era uma boa ideia, mas não foi. Dado ao desporto, diz que é como um frigorífico: “fechado e gelado”. Ou seja, a descrição de sonho que uma mulher que entra num programa para encontrar o amor anseia ouvir. Paulo tem uma filha e pratica karaté, o que lhe dá alguma vantagem na difícil tarefa que vai ser tentar penetrar no coração de gelo da Ana Raquel.
Liliana (37 anos, secretária, Sacavém)
Tem 37 anos, é secretária de profissão e reside em Sacavém com os seus dois filhos. Procura um homem com bom caráter, humilde e trabalhador e confia na ciência para encontrar o seu futuro marido. Ao que parece Liliana esconde também um segredo. Claro, tem que haver sempre um para aumentar o suspense e o drama. Ao que parece a jovem está ainda ligada à máfia de leste… Mentira, é só uma anterior relação que aparentemente não ficou bem resolvida, mas eles criam logo um dramalhão para a revistas poderem fazer capas sensacionalistas.
Pedro (41 anos, professor de Educação Física, Seixal)
Pedro tem 41 anos e é professor de educação física, profissão que já o levou a percorrer o País e o mundo. Considera-se um bon vivant que quer assentar, encontrar a mulher certa e ser pai. Casaram-se numa praia e o Pedro, que ia vestido como o Dick Van Dyke, em “Mary Poppins”, sentiu que foi amor à primeira vista. Em conversa com Diana Chaves, antes de a noiva chegar, disse que sonhou que esta se chamaria Joana, Diana, ou qualquer coisa com “ana”. O Pedro tem jeito para isto, se calhar podiam eram poupar nos especialistas e nas maquinetas com fios e ventosas e punham o Pedro a escolher os casais.
Depois de lerem os votos, e ainda antes que a figurante que faz de conservadora civil tenha “dado autorização”, os lambões atiraram-se logo à boca um do outro, num momento com um pouco de língua a mais, principalmente porque não estamos na época da enguia.
Não fiquei assim muito convencido com esta primeira amostra, por isso estou a apostar as fichas todas num outro concorrente que só iremos conhecer para a semana mas que me parece que tem muito potencial. O Lucas é barbeiro no Seixal e confessa: “a única coisa que me falta na vida para ser completo é ter uma mulher. Nunca consegui ninguém para estar comigo”, diz Lucas, olhando para a câmara com as suas sobrancelhas arranjadas e um toque de eyeliner. Não te preocupes, vai ser desta Lucas. Prepara o teu estojo de maquilhagem que vai ser desta.