Well well well, so we meet again. Quem diria? Emily Blunt canta, Meryl Streep dá um ar de sua graça, Colin Firth faz de mau, os miúdos entretêm-nos, Emily Blunt encanta e, de repente, aparece a Jessica Fletcher como guardiã dos balões mágicos. Caabbbuuuummmmm. É um momento desconcertante.
Quer dizer, ao fim de pouco mais de duas horas de filme, com músicas variadas e um drama relacionado com o empréstimo da casa estampado num papagaio, não estou preparado para rever Angela Lansbury em Londres, bem longe de Cabot Cove. Há coisas do arco da velha e o “Crime, Disse Ela” é claramente uma delas.
Adiante. Passado este susto feliz e agradável, os anteriores 125 minutos “O Regresso de Mary Poppins” aquecem-nos o coração. E nem tem a ver com a época do Natal. É porque esta Mary Poppins é do século XX, bem como os problemas e o mundo infantil. Em vez de ser um filme da nossa era, cheios de gadgets modernos e músicas actuais, é tão-só uma homenagem à famosa Mary Poppins de 1964, vencedora de cinco Óscares entre melhor actriz para Julie Andrews, efeitos visuais e banda sonora original para “Chim Chim Cher-ee”.
Agora é Emily Blunt quem dá cartas, ao lado de Lin-Manuel Miranda como Jake. Os dois aparecem na vida da família Banks, personificados pelos irmãos Michael (Ben Whishaw) e Jane (Emily Mortimer), sem dinheiro para pagar os três meses em atraso do empréstimo da casa, durante a Grande Depressão nos anos 30.
Se a Mary Poppins de 1964 aparece em resposta a um anúncio, a de 2018 simplesmente desce do céu para ajudar a família meio desorganizada à procura do tal papel do empréstimo bancário, perdido algures nas memórias do avô das três crianças, filhas de Michael (Nathaenael Saleh como John, Pixie Davies como Anabel e Joel Dawson como Gerogie).
A magia constante de Mary Poppins contagia-nos. E, sobretudo, ajuda as crianças a sair do mundo de adultos em que estão afundados desde a morte da mãe para reencontrar o espírito infantil, ainda próprio das suas idades. O único problema é a convivência com o banqueiro Wilkins (Colin Firth), ganancioso até dizer chega e devidamente catalogado como o lobo na deliciosa cena da tigela partida.
Para acabar em beleza, a participação de Dick Van Dyke, o Bert em 1964 e o pai de Wilkins em 2018. O seu inglês está do best. A dança, idem idem. A barba, aspas aspas. É craque de corpo inteiro. Dá valor ao filme e salva a família Banks no último instante. Curiosidade monstra: tanto Van Dyke como Angela Lansbury têm 93 anos de idade. É dose. E maravilhoso.