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Crítica: “A Torre Negra”, um bocejo aqui, outro ali, mais um acolá

Obra literária de Stephen King passa para o cinema e não aquece nem arrefece, o que é pena.

Matthew McConaughey, o feiticeiro mauzão.
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… “La va a tocar para Diego, ahí la tiene Maradona. Lo marcan dos. Pisa la pelota Maradona. Arranca por la derecha el genio del fútbol mundial, y deja el tendal y va a tocar para Burruchaga. ¡Siempre Maradona! ¡Genio! ¡Genio! ¡Genio! Ta-ta-ta-ta-ta-ta… Goooooool. Gooooool. ¡Quiero llorar! ¡Dios santo, viva el fútbol! ¡Golaaaaaaazooooooo! ¡Diegooooooool! ¡Maradona! Es para llorar, perdónenme. Maradona, en recorrida memorable, en la jugada de todos los tiempos. Barrilete cósmico. ¿De qué planeta viniste?, para dejar en el camino a tanto inglés, para que el país sea un puño apretado gritando por Argentina.” Argentina 2, Inglaterra 0. Diegol. Diegol. Diego Armando Maradona. Gracias Dios, por el fútbol, por Maradona, por estas lágrimas, por este Argentina 2, Inglaterra 0.

Se Stephen King imaginasse um conto do fantástico sobre futebol, certamente escreveria um golo assim, arrepiante, f****** brilliant, interpretado por Diego Armando Maradona mais cinco súbditos dignos de Sua Majestade e cantado por Víctor Hugo Morales. Um hino à perfeição e tudo aquilo que daí resulta, desde a pele de galinha até à voz trémula. O problema seria passar da escrita para a acção. Olha agora, queres ver? Queres ver que é fácil encontrar um génio comò Maradona? Essa é boa, nem pensar. E, já agora, onde se arranja uma voz como Morales? Pfff, ni hablar. E os tais cinco ingleses atarantados? Soa a pleonasmo, yes sir, só que apanhá-los a jeito é que já está assim pró démodè.

Isto tudo, claro, teria de ser filmado no estádio mais grandioso construído até hoje, a abarrotar de gente entusiasta de todas as cores e feitios, com o sol do meio-dia a cair a pique sobre o relvado mais verdejante e bem cuidado de sempre. Nããããã, isso é roçar o impossível. Nem um número infinito de takes é suficiente para captar dez por cento dessa essência. Quanto muito, o barrilete cósmico do planeta Xis abriria caminho até à entrada da área antes de pisar a bola e lá se vai a lenga-lenga do país do punho apertado a gritar pela Argentina.

Serve isto como termo de comparação entre “A Torre Negra“, obra literária de Stephen King, e “A Torre Negra“, obra cinematográfica (not) de Nikolaj Arcel. Se o livro é um digno passaporte para uma viagem inesquecível, entre o real e o imaginário, cheio de perigos constantes em que os maus são mais que as mães e os bons são mais como alfinetes mínimos em palheiros xxl, o filme transporta-nos para uma realidade paralela desgarrada, cinzenta, sem diálogos poderosos nem acções vibrantes por aí além. Conta-nos a história de Jake Chambers, cujo ator é o inglês Tom Taylor que nem a wikipedia sabe se é de 2000 ou 2001. No filme, o jovem tem 11 anos e passa as noites a sonhar com personagens de uma outra dimensão, ora um pistoleiro-justiceiro-nice-guy, ora um feiticeiro-diabólico-bad-ass, ambos a querer proteger a Torre Negra à sua maneira. Ninguém lhe dá crédito pelos sonhos nem pelos desenhos desses delírios nocturnos. Nem a mãe, muito menos o padrasto.

Às tantas, o sonho é afinal a mais dura das realidades e o Mid-World existe mesmo. Tal como o pistoleiro cool (Idris Elba = Roland Deschain), o feiticeiro outer dark (Matthew McConaughey = Walter Padick) e a Torre Negra no End-world. Isto com anglicismos tem mais piada. Há monstros sem humanidade, há pessoas monstruosas, há balas místicas, há toques de magia, há bebidas super-promovidas, há cachorros-quentes, há mundos paralelos dentro do mesmo paralelismo, há de tudo, só que o filme não sai da cepa torta. Não aquece nem arrefece, e é pena.

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