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“Got Talent Portugal”: Ainda acham boa ideia imitar o Michael Jackson? A sério?

O humorista e cronista Miguel Lambertini analisa o episódio de estreia da nova temporada do formato da RTP.
É este o júri e a apresentadora da nova temporada.

Uma criancinha a passear na praia encontra um baú de tesouro com um botão dourado lá dentro. Quando carrega nele dá-se uma explosão de confetti dourados que caem do céu por toda a cidade, mesmo por cima da cabeça das pessoas. Pensei para mim: será isto um anúncio às sessões de chuva dourada da sacerdotisa do Tibete que curou o Ângelo Rodrigues? Infelizmente não, era só o genérico de abertura da nova temporada do “Got Talent Portugal”, que a RTP1 transmitiu este domingo, 19 de janeiro. 

A estação pública volta assim a exibir este formato onde concorrentes de todo o País, e não só, sobem ao palco do Centro Cultural de Belém, em Lisboa, para mostrar os seus talentos e tentar obter um lugar numa das semifinais que abra caminho para uma possível vitória na final. Para isso terão de convencer o painel de jurados que é composto pela fadista Cuca Roseta, pela cantora Sofia Escobar, pelo produtor Manuel Moura dos Santos e pelo comediante Pedro Tochas. Como sempre, há concorrentes de todos os estilos e idades, há até quem ache que em 2020 ainda é uma ideia ganhadora imitar o Michael Jackson num programa de talentos. Ou aquele senhor que termina a atuação a anunciar que é o verdadeiro Michael Jackson e a morte foi encenada ou então bem pode voltar lá para o bar em Frielas onde atua às quintas-feiras.   

Sílvia Alberto volta a assumir o papel de apresentadora do programa, num primeiro episódio que foi recheado de emoções fortes, choro, muito choro — só a Cuca Roseta enchia meia barragem do Alqueva — e algumas surpresas. Sendo que parece que escolheram para a estreia todos os concorrentes com os nomes mais estranhos de sempre da história de um concurso. Desde a Nagyla ao Tiboun, passando pelo Dironir ou o HD, sem esquecer o Pataco e o Tirapicos, isto parecia mais um episódio de GOT — “Game of Thrones” em vez de “Got Talent”.

Como sempre, “Got Talent” opta por dar destaque essencialmente aos casos de sucesso, mais do que àqueles que não conseguem agradar ao júri, o que faz com que quase nunca haja momentos de “cromos” a fazer figuras, o que é uma pena. A estreia teve alguns momentos altos, mas espero que o melhor ainda esteja para vir, porque tudo o que vimos este domingo é um bocado mais do mesmo. Ou, como diria Manuel Moura dos Santos, sempre com o seu ar de quem acabou de saber que já não há leite creme queimado ao momento: “Ou tu engoles a espada, ou isto assim não tem interesse nenhum”. 

Em jeito de resumo, não vão vocês ter estado a ver o Ljubomir na TVI, aqui ficam algumas das atuações que mais gostei de ver.

Hermenegildo

Talento: contorcionista autodidata

“Ai que impressão” foi talvez a frase que mais se ouvia durante a atuação deste concorrente, que veio de Angola com a tia para participar no “Got Talent”. Arrisco dizer que este jovem é feito de plasticina, porque houve posições ali que nem a Barbie da minha filha consegue fazer. Este artista deixa a um canto a senhora do filme de “O Exorcista”, que roda a cabeça a 360 graus. Ele de certeza que não pagou bilhete de avião, porque o rapaz dobra-se de tal forma que deve ter vindo dentro do nécessaire da tia. Foi uma atuação impressionante que fez com que Sílvia Alberto entrasse na sala e carregasse no tão desejado botão dourado. Merecido, até porque isto é menino para se enfiar num tubo de confetti e sair disparado para cima do público num próximo número. 

HD — sim, é mesmo este o nome do senhor

Talento: Dança de varão e imagem com alta definição  

Montado numa Harley Davidson, HD entra em palco com ar de machão. Este look-a-like do Mário Machado apresenta-se vestido com roupas de cabedal, que não duram muito no seu corpo, uma vez que o seu número é de striptease e dança de varão. A suas tatuagens e piercing no mamilo deixam as senhoras da plateia muito excitadinhas. HD é marceneiro de profissão e por isso passa a maior parte do dia agarrado ao pau, o que lhe terá dado alguma prática para fazer o seu show no varão.

Joana e Celso

Talento: dança, acrobacias e fazer chorar o público 

Esta dupla de artistas faz parte do projeto Dance 21+, uma iniciativa que promove a inclusão de pessoas com Síndrome de Down, como é o caso de Joana, tendo por base a dança e, em especial, as acrobacias aéreas. Joana e Celso dançaram e fizeram acrobacias no trapézio, e no final o público aplaudiu bastante e Cuca chorou. Joana, algo impaciente por obter uma apreciação de Cuca diz: “Cuca vá lá, fala.” A fadista respondeu emocionada: “Eu hoje não tenho palavras, só tenho isto…” e, pimba, dá uma cacetada no botão dourado, o que dá início à segunda chuva de confetti dourados da noite. 

Tuga Spider

Talento: Dançar e usar licras demasiado justas

O momento da noite foi claramente esta atuação do Homem-Aranha em versão tuga. Ao som de ritmos africanos e de dança, o Tuga Spider foi a pedrada no charco desta estreia, apesar de o seu fato de licra expor demasiado as partes baixas que, para super-herói, digamos que deixavam até um pouco a desejar. Mas o importante é que este Peter Parker português se mexia bem, como comprovou o twerk que fez junto da cara de Manuel Moura dos Santos, o que para mim era o suficiente para ganhar o botão dourado. Infelizmente não foi essa a opinião do júri que, estranhamente, não o passou. 

Iolanda

Talento: dançar e equilibrar uma espada na cabeça

Vestida de odalisca, Iolanda apresentou uma forma alternativa de dança em que equilibrava uma espada enquanto fazia alguns movimentos estilo dança do ventre. Os jurados não acharam a atuação nada de especial e Manuel Moura dos Santos, provavelmente já com alguma larica ainda comentou, “Eh pá, se você tivesse engolido a espada… assim ficou monótono”. Não engoliu, não passou. 

Nuno e Nagyla 

Talento: Danças de salão e troca de roupa supersónica

O Nuno e a Nagyla apresentaram um número moderno de dança com grandes movimentos e total coordenação entre ambos. Além de dança, este foi um momento de magia, porque a certa a altura a senhora que estava vestida de preto faz um movimento brusco e muda de repente para um vestido branco, para grande surpresa de toda a plateia, principalmente do público masculino, porque isto é o sonho de qualquer homem que fica duas horas à porta da Zara, à espera que a sua mulher ou namorada experimente dois vestidos. Infelizmente, o seu companheiro Nuno não tinha esta capacidade mágica e continuou o resto da atuação com um body transparente com lantejoulas. O par recebeu quatro “sim” e passou à próxima eliminatória. 

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