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“The Slow Rush”: o longo bocejo dos Tame Impala

Os melhores momentos de "The Slow Rush" são memórias de pontos altos de álbuns anteriores. Quem o diz é o crítico de música e cronista da NiT, Nuno Bento.
Há um novo disco para ouvir.

Kevin Parker disse recentemente que terminar um álbum era o seu maior martírio. Ao ouvir “The Slow Rush”, percebe-se porquê. Deve ser aborrecido ter que mascarar a falta de ideias com camadas e camadas de pós-produção. Longe vão os tempos em que os Tame Impala apresentavam uma sonoridade entusiasmante e acima de tudo, ideias.

Em “The Slow Rush”, tudo parece ter saído da mesma fórmula: pôr um beat, enfeitar a faixa com uma barragem de efeitos sonoros e distorções canalizadas pelos seus sintetizadores. Melodias? É preciso uma lupa para encontrar uma fundação que agarre as canções.

Quando Kevin Parker mudou o rumo dos Tame Impala em “Currents” (2015) para uma sonoridade mais orientada para a dança, percebeu-se que isso se deu a uma explosão criativa e ao esgotamento da fonte de onde vieram “Innerspeaker” e “Lonerism” (ainda a obra-prima de Kevin Parker). Kevin queria os beats e apareceu munido de pérolas Pop como “The Less I Know The Better”, “Cause I’m A Man”, ou até a amálgama de ideias que resultou no épico “Let It Happen”. Isto? Isto não é nada. A não ser um grande bocejo de falta de ideias. Se eu quiser ouvir beats aborrecidos que não vão a lado nenhum, ponho na Orbital.

As coisas melhoram um bocadinho lá para o fim. Salvam-se “Tomorrow’s Dust”, “Lost In Yesterday” e “Is It True”, como temas que poderiam constituir um “Currents Parte 2”. Mas só isso. E a crua verdade é esta: os melhores momentos de “The Slow Rush” são memórias de highlights de álbuns anteriores. Não há nada de novo para ouvir aqui. O álbum lida com os desafios do tempo; mas 5 anos não chegaram para Kevin Parker criar algo de novo, ou sequer interessante.

A capa é o melhor do álbum. Lamento.

Formulaico e aborrecido. Suponho que os fãs hardcore dos Tame Impala possam tirar alguma satisfação disto, só pelo prazer de voltar a ouvir música de Kevin Parker. Não vão é ouvir grande coisa. Consta que Kevin Parker perdeu os seus instrumentos no incêndio de Malibu em 2018. Ao ouvir “The Slow Rush”, parece que queimou as ideias também.

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