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Kendrick Lamar e SZA provaram que são mestres das suas artes no Estádio do Restelo

A energia no recinto chegou a picos estratosféricos, mas também houve pausas para momentos de introspeção. Agora, só queremos repetir.

Lisboa recebeu neste domingo, 27 de julho, de um dos concertos mais aguardados do ano. Kendrick Lamar e SZA juntaram-se no Estádio do Restelo, para oferecer ao público dois espetáculos num só. O concerto, que durou cerca de três horas, foi dividido em nove atos, onde brilharam a solo e em dueto, numa noite que reuniu fãs de todas as idades e provou, mais uma vez, porque são dois dos maiores nomes da música global da atualidade. O ano ainda vai a meio, mas não há dúvidas: este concerto entra diretamente para a lista de melhores de 2025.

O aquecimento do público começou pelas 19 horas com um DJ set de Mustard, que trouxe a energia certa para um estádio praticamente lotado. O público, expectante, preparava-se para receber aquele que é um dos maiores nomes do hip-hop contemporâneo, atualmente a viajar pelo mundo com a “Grand National Tour”. A seu lado, SZA, cantora e compositora norte-americana de soul e R&B, com quem tem colaborado nos últimos anos — como aconteceu também na atuação do intervalo do Super Bowl, em fevereiro. 

Kendrick Lamar foi o primeiro a entrar em cena dentro de um carro, ao som de “Wacced Out Murals” e debaixo de uma forte onda de aplausos. A faixa evoluiu para “Squabble Up”, um dos seus temas mais recentes, presente em “GNX”, disco editado em 2024. Acompanhado por dançarinos e um coro improvisado vindo da plateia, a performance contou com efeitos pirotécnicos que intensificaram a experiência.

Sem dar tempo para recuperar o fôlego, seguiram-se temas como “King Kunta” e “ELEMENT.”. “Boa tarde, Portugal. Esta é a Grand National Tour. Obrigado por terem vindo hoje”, disse o artista, vencedor de 22 Grammys, antes de apresentar “TV Off”.

O primeiro momento em dueto surgiu com “30 for 30”, quando SZA se juntou a Kendrick no palco, entrando também ela no mesmo carro, agora coberto de flores, numa clara alusão à sua estética. A energia magnética da cantora foi imediata: a sua presença, marcada por movimentos delicados e uma voz sedutora, conquistou o público de imediato.

Lamar abandonou o palco e assim começou o segundo ato, agora inteiramente protagonizado por SZA. A artista arrancou com “Love Galore”, acompanhada por uma equipa de dançarinos e participando ela própria na coreografia. Com os holofotes inteiramente virados para a cantora, houve apenas um problema: a sua voz era abafada pelos instrumentais e, por vezes, perdia-se na imensidão do estádio (e do público).

Em “The Weekend”, percebemos quão diferente é a sua presença em palco, de Kendrick. Ele, traz uma atitude mais assertiva, durona diríamos até, típica do rap e hip hop, enquanto SZA embala o público numa sensualidade característica do R&B — representada também pelos seus movimentos em palco.

Lamar regressou ao palco com “Euphoria”, que arrancou num tom calmo, mas rapidamente reacendeu a energia do espetáculo. O cenário, sem grandes extravagâncias tecnológicas e adereços, provou que a presença do artista é suficiente para ter o público na mão.

O estádio foi ao rubro com os primeiros acordes de “Humble.”, um dos maiores êxitos de Lamar, seguido de “Family Ties”, que elevou a energia a níveis estratosféricos. No final, o rapper parou tudo para escutar os gritos e aplausos do público português, que entoava o seu nome em uníssono. “Há muito amor aqui”, disse, visivelmente emocionado.

Entre os vários picos de energia, também foram sentidos momentos de introspeção, principalmente durante a atuação de “Man at the Garden”, em que o instrumental mais sóbrio deu espaço para a sua voz brilhar sem grandes distrações no fundo.

Com o sol a pôr-se no Estádio do Restelo, SZA regressou com “Scorsese Baby Daddy”, e mais tarde com “Kill Bill”, num dos pontos altos da sua atuação. Também em “Kiss Me More” e “Snooze” o público acompanhou cada verso com entusiasmo e emoção. 

Um dos momentos mais memoráveis dos sets da cantora surgiu com “Low”, que pintou todo o estádio de vermelho graças às luzes e efeitos visuais. Já em “Kitchen”, trocou o carro por uma formiga gigante, e terminou a atuação com uma espargata que deixou o público surpreendido.

“All the Stars” fez o estádio iluminar-se com lanternas de telemóvel. “Vamos todos gritar por amor”, pediu Kendrick. “A energia que vocês têm está a levar isto a outro nível”, acrescentou SZA que, ao contrário do colega, trocou de outfits em cada set.

Apesar das proibições da organização, os moshes no público foram inevitáveis, surgindo entre a multidão em alguns momentos da noite. Ainda assim, não estragaram a experiência que foi ver estes dois artistas ao vivo, a fazerem o que sabem fazer melhor e a deixar que o público também fizesse parte desta obra de arte em forma de concerto. 

Antes do encore — que contou com dois duetos do mais recente disco do rapper, “luther” e “gloria”— , a maratona terminou com “Not Like Us”, uma diss track dirigida a Drake que se tornou na canção mais viral de Kendrick, em parte graças às provocações em cada verso. O púbico reagiu com entusiasmo ao tema de 2024, fazendo-se ouvir enquanto acompanhava Lamar no declamar das bars.

Na reta final, os dois artistas mostraram o quanto se divertiam em palco. “Vocês são um dez em dez”, disseram, enquanto corriam como miúdos felizes, assinavam objetos dos fãs e se despediam com a promessa de regressar — enquanto o público cantava “esta merda é que é boa”. “Amamo-vos”, disseram antes de voltarem a entrar no carro — agora juntos — para se despedirem definitivamente do palco lisboeta.

Carregue na galeria para ver algumas imagens do concerto. 

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