Telefones antigos, Havaianas penduradas na parede, uma prateleira cheia de garrafas de cachaça e fotografias de família. Quem entra na Matuta pode achar que está numa antiga casa de avó ou numa tasca de bairro. Mas não. Atrás do balcão está Eduarda Meireles, a preparar pão de queijo ou um bolo de cenoura com recheio de brigadeiro.
A loja abriu a 12 de julho na Penha de França, mas a história da Matuta começou a escrever-se há cinco anos, em plena pandemia. Natural de Patrocínio, no interior do Brasil, Eduarda mudou-se para Portugal em 2018 para fazer um mestrado em Marketing. Deixou para trás a família e um pequeno café.
Durante o curso percebeu que queria trocar a teoria pelos tachos. Inscreveu-se na Escola de Turismo e Hotelaria de Lisboa para estudar pastelaria. Quando a pandemia acabou, já estava instalada em Lisboa. Desempregada, começou a fazer bolos e pães de queijo para vender a amigos. Depressa começaram a surgir encomendas de desconhecidos.
O nome, tal como os pratos e o conceito da loja, presta homenagem à origem da fundadora. “Matuta é como chamávamos a quem vive no interior do Brasil, aqueles que vêm da roça e que ainda seguem as tradições. Normalmente são mais tímidos e calados”, explica Eduarda. A decoração também segue essa ideia: há uma balança antiga, um telefone com disco, uma televisão com crochê, imagens de casamentos dos avós e uma fotografia da mãe. “Fazem sempre comentários a dizer que viajaram no tempo”, conta.
A loja tem espaço para nove pessoas no interior e mais quatro num banco cá fora. A maioria dos clientes é brasileira, mas a curiosidade também já atraiu muitos portugueses.
O destaque vai para o pão de queijo (2€), feito com queijo da ilha dos Açores e um toque de queijo branco para se aproximar do sabor do queijo canastra, usado na versão mineira. Além da versão clássica, há opções recheadas: com linguiça (5€), pernil de porco acebolado com farofa de torresmo (5€), frango panado com quiabo em conserva (5€), mix de cogumelos com queijo amanteigado e ovo de codorniz (5€), goiabada com queijo frescal (4,50€), ou doce de leite com queijo frescal (4,50€). “O maior elogio que recebi foi quando um cliente me disse que sabiam mesmo àqueles que comia na estrada em Minas Gerais”, recorda.
Nos bolos, há várias opções: cenoura com brigadeiro (14€), requeijão com goiabada (12€), limão com sementes de papoila (8€) e o tradicional bolo gelado de coco (10€). “A minha infância passou pela cozinha, pelos bolos e doces de tacho. Tenho uma ligação e uma memória afetiva muito forte com a confeitaria”, diz.
“Costumo dizer que fui para a escola de hotelaria aprender a técnica para fazer um bom bolo de fubá”, brinca. E esse bolo, feito com farinha de milho fina, está sempre exposto nas boleiras de vidro, pronto a acompanhar um café da manhã ou da tarde.
As bebidas também têm destaque. “Temos uma prateleira carregada de cachaça e licores que trouxe do Brasil”, diz Eduarda. Para quem prefere algo mais leve, há também caipirinhas, rebuçados e outros doces típicos brasileiros.