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Fernando Alvim sobre os Anjos: “Acho que eles estão muito magoados”

O humorista testemunhou a favor de Joana Marques. Uma das advogadas da dupla contrapõe: "Ser comparado a uma Maria Leal não é o momento alto de uma banda".

Apesar de não ser frequentemente associado ao caso Anjos Vs. Joana Marques, Fernando Alvim também tem uma ligação ao caso que está atualmente em tribunal — onde os irmãos acusam a humorista de difamação, depois de esta ter publicado, no seu Instagram, um vídeo dos irmãos Rosado a cantar o hino nacional num evento do MotoGP, no Algarve, em 2022. Os Anjos pedem uma indemnização de 1,2 milhões de euros, alegando ter tido 11 concertos cancelados, devido á polémica, e perdido mais de 100 mil euros em patrocínios.

Esta segunda-feira, 30 de junho, chegou a vez de o radialista testemunhar no Juízo Central Cível de Lisboa. A conexão de Alvim ao caso surge devido à gala de prémios “Monstros do Ano”, onde são destacados os momentos mais bizarros, insólitos e comentados da sociedade portuguesa. A atuação de Nelson e Sérgio Rosado no MotoGP de 2022, onde interpretaram o hino nacional, recebeu, claro, uma indicação.

No entanto, o humorista refere que, na cerimónia que decorreu a 19 de fevereiro de 2023, o vídeo que foi apresentado não tinha “qualquer edição por parte de Joana Marques”. “Pomos só um bocadinho, 30 segundos, sem qualquer edição”, disse, segundo o “Observador”.

Após ter recebido uma mensagem de Nelson Rosado a criticar a nomeação, Fernando Alvim retirou, prontamente, o vídeo das redes. “O Nelson disse que não fazia sentido, que os prejudicava e, na verdade, eu já tinha feito a cerimónia principal. Já pouco usava o vídeo e achei que não havia problema nenhum em retirá-lo dos outros vídeos”, comentou na sessão, conduzida pela juíza Francisca Preto.

Alvim acrescenta: “Aquele nem sequer era o vídeo vencedor. Portanto, foi sem nenhum problema que o retirei. Percebendo o transtorno, achei que a cerimónia já tinha passado, o vídeo já tinha sido exibido. Pensei: ‘para quê?’.”

Elsa Seara, advogada que está a representar Joana Marques, perguntou a Fernando Alvim o porquê de ter retirado a publicação das redes sociais: “Foi um pedido de um amigo ou uma interpelação?”. O humorista respondeu: “Acho que se fosse uma interpelação teria agido de outro modo. Contou o Nelson ter ligado e termos ficado tanto tempo à conversa”, respondeu.

O comediante reforçou ainda que “não via mal nenhum na exibição desse vídeo” e achou que era apenas “um momento insólito”. Luciana Rosa de Oliveira e Natália Luís, as advogadas dos Anjos, decidiram explorar melhor esta afirmação e o porquê de ter usado a atuação do hino nacional. 

“O fundamento foi haver comicidade. Para os Anjos possivelmente não haveria, mas, para nós, houve. Há dificuldades técnicas, houve um desajuste, e o resultado é aquele. Não manipulei absolutamente nada”, realçou Alvim.

Perguntam-lhe, depois, se o facto de o vídeo também ter sido partilhado por Joana Marques pode ter influenciado a decisão de o incluir no “Monstros do Ano”. “Ele já ia muito bem lançado. Eu já conhecia o vídeo antes de a Joana ter pegado nele”, diz. 

Em 17 anos de gala, aquela foi a primeira vez que os Anjos foram nomeados. Para Alvim, a indicação não era exatamente uma coisa má, mas a advogada da dupla discordou. “Ser comparado a uma Maria Leal não é o momento alto de uma banda”, disse.

Durante o depoimento, o apresentador afirmou, sobre os Anjos: “Acho que eles estão muito magoados”. A advogada da dupla, contrapõe: “Lesados. Lesados”, disse, acrescentando: “Lesados, financeiramente, na sua reputação, na sua imagem. Acha que eram pessoas para vir intentar uma ação se não tivessem sido lesados financeiramente?”, perguntou.

Alvim respondeu: “Acho que foi um ato isolado numa carreira longa. Acho que este processo, no fundo, vem chamar a atenção para um momento que hoje em dia já ninguém se iria recordar“, comentou o radialista. “Está aqui sob juramento. Sei que também é amigo da senhora Joana Marques, mas peço-lhe que seja honesto”, rematou a advogada.

Tal como Ricardo Araújo Pereira, também Alvim defendeu o tipo de comédia de Joana Marques. “É humorista e aquilo que está ali a fazer é um exercício de humor”, disse em referência ao vídeo. “Honestamente, quando vi, eu achei graça, achei divertido, não imaginei que aquele post originasse todo este processo. Acho que todos nós podemos defender essa liberdade de expressão.”

Como tudo começou

A polémica que opôs a humorista e a dupla começou há cerca de três anos. Na altura, Joana Marques partilhou, no seu Instagram, um vídeo dos Anjos a cantar o hino nacional “A Portuguesa”, a que foi acrescentada, através de montagem, uma reação negativa do painel que compunha o júri do programa “Ídolos”, do qual fazia parte.

No final do vídeo é possível ouvir Tatanka (vocalista dos Black Mamba, outro dos jurados) afirmar: “Assassinar uma música destas, tive de mandar parar”. A legenda do post inclui apenas uma questão retórica: “Será que foi para isto que se fez o 25 de abril?”, visto que a atuação aconteceu a 25 de Abril de 2022.

O momento aconteceu durante uma prova do Moto GP, no Autódromo Internacional do Algarve, em Portimão. Foram alvo de críticas e de acusações de terem “arruinado” a canção. Em resposta aos insultos, os Anjos afirmaram ter enfrentado “problemas técnicos”, referindo uma interferência sonora que provocou uma ilusão fonética nas palavras, adiantou o “Notícias ao Minuto”.

Através da sua empresa, Angel Minds – Gestão e Promoção de Espetáculos Lda, os músicos exigem uma indemnização de aproximadamente 1,2 milhões de euros. O caso chegou ao tribunal a 17 de junho.

“É um processo que se encontra em tribunal, a sede apropriada para tratar destas situações. Lamentamos ter chegado a este ponto. É grave! Acredito que nos conhecem bem e sabem que não somos pessoas de vingança nem de discórdia. Contudo, foi algo que nos magoou muito, mexeu bastante connosco, assim como com a nossa equipa e as nossas famílias”, disse Nelson Rosado, um dos elementos, à “TV Mais”.

A dupla afirma que o vídeo teve um “impacto altamente lesivo” para a carreira e contratos de concertos e parcerias comerciais. “É importante que as pessoas percebam, de uma vez por todas, que, com muita ou pouca visibilidade, no digital não podem escrever, dizer ou fazer tudo o que querem, nem magoar os outros. Isso é contra os nossos princípios, contra tudo aquilo que defendemos”, afirmaram.

Antes de avançarem com o processo, os Anjos tentaram obter um pedido de desculpas da humorista, mas sem sucesso, o que os levou a tomar essa decisão. “Fomos educados a respeitar o próximo. Somos pessoas de concórdia e não de discórdia. Não vivemos de escândalos nem queríamos que esta situação tivesse chegado a este ponto. Tentámos de tudo, tudo! Mas do outro lado encontrámos uma posição irredutível. Não tivemos outra alternativa“, concluíram.

O caso chegou finalmente a tribunal, em Lisboa, a 17 de junho e, nas primeiras sessões, apenas foi ouvido o lado dos Anjos. Um dos momentos mais virais do julgamento surgiu quando Sérgio Rosado disse ter ficado com acne devido ao bullying que sofreu online. Leia o artigo da NiT para conhecer melhor esta história.

 

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