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Vanessa trocou a dança pelo ginásio e tornou-se campeã de fisioculturismo

Depois de superar uma anorexia, a relação com o corpo mudou. Tirou os collants de bailarina, pegou nos halteres e agora brilha em biquíni (e com músculo).

Vanessa Silva aprendeu cedo a escalar montanhas. Primeiro, literalmente, ao lado do pai militar. Depois, na vida. Foi bailarina profissional, viveu no corpo a melodia da dança, mas também o peso das dietas extremas para conseguir encaixar num padrão dentro da área que a apaixonava.

A anorexia chegou a bater à porta, mas teve forças para a fechar a tempo. Mesmo assim, as cicatrizes ficaram. “Quando era bailarina, fui sempre pressionada com dietas e magreza extrema, o que me levou a uma anorexia. Felizmente tive um grande apoio da minha família. Como estava numa fase inicial, consegui travar a doença”, conta à NiT.

Hoje, com 42 anos, tem um corpo construído com esforço, disciplina e superação. É fisiculturista profissional, atividade que serviu como cura. “Comecei sem grandes expectativas em 2021. Em 2023, ganhei o Pro Card em Milão”, conta com orgulho. 

A paixão pelo desporto esteve sempre presente na sua vida. A atleta cresceu entre cordas de rapel, águas frias da natação e da canoagem, trilhos íngremes das escaladas e aulas de dança. Aliás, entre sapatilhas de ballet e collants, descobriu uma grande paixão a estar no palco. Estudou na Escola Superior de Dança em Lisboa, fez parte de companhias e trabalhou com coreógrafos pelo País. A vida parecia decidida, até que o rumo mudou.

Em 2013 nasceu Kauãn, o seu filho. Foi nessa altura que fez uma pausa do desporto. “Comecei do zero, na restauração, para ter um sustento certo ao final do mês. Assim garantia que tinha como cuidar do meu filho, mas estava infeliz”, recorda. E esta infelicidade levou-a a trocar os planos, outra vez. “Acabei por entrar como comercial para o Fitness Hut e depressa percebi que a solução era voltar a estudar e enveredar pela área do desporto”.

Este virar de página, fez com que sentisse novamente o apelo do corpo, pelo treino e pelo desafio. “No percurso tive contacto com o fisiculturismo e deslumbrei me com os resultados e com a disciplina”, admite. E as mudanças realmente aconteceram. Começou a treinar com Pedro Borges e “o que era para ser apenas uma vez, tornou se um vício”.

Vanessa Silva a treinar

Acabou por se tornar personal trainer, aos 38 anos. Aos poucos, o corpo slim e delicado de bailarina deu lugar à construção da atleta. No entanto, nem tudo é simples. A dieta, os treinos puxados, as alterações hormonais e as vozes da anorexia antiga ainda ecoam. “Há momentos em que perdes a noção do teu corpo. O reflexo no espelho mente e a cabeça prega partidas”.

Vanessa aprendeu a conviver com esses pensamentos e, mais do que isso, a usar a sua história para motivar outras mulheres. Especialmente as que têm mais de 40 anos. “Independentemente de tudo, o que realmente me motiva a continuar é motivar outras pessoas também. Acima de tudo, mulheres da minha faixa etária”.

Agora, o número na balança é mais alto, mas nunca esteve tão leve por dentro. “Em 2021 subi a palco com 47 quilos. Agora, em off-season, cheguei aos 70. Mas o número já não me assusta”. A off-season é a fase em que os atletas aumentam significativamente a massa muscular, de propósito. Adotam uma dieta com um nível calórico mais elevado e um estímulo de treino diferente. Assim, conseguem aumentar o volume muscular com o mínimo possível de gordura acumulada. 

No palco, Vanessa não se compara a outras atletas. “Sempre meti na cabeça que vinha da dança com um corpo totalmente diferente. Não tinha quase musculatura nas pernas, por exemplo. Sempre soube que o trabalho ia ser duro, ia competir com mulheres que tinham muita mais experiência. Elas já tinham uma maturidade que eu ainda estava a construir”.

A realidade é que, quando sobe ao palco, Vanessa não pensa nas fisiculturistas com quem compete. Em vez disso, lembra-se das versões antigas de si mesma e é isso que a faz continuar a progredir. “Depois de tudo, existem sempre inseguranças que nunca se curam, mas o culturismo ajudou-me. A luta para construir musculatura é tanta que tenho medo de perder volume”, brinca.

Ao lado do seu treinador Pedro Borges, da marca Nutry4all e do namorado Kevin Tubarão, tem vencido provas e limitações. Como personal trainer, inspira mulheres a desafiar a idade, o espelho e o medo. “O percurso é grande e a vontade também”, afirma.

Apesar de a dança ter ficado para trás, o palco continua. Além disso, Vanessa dá aulas como personal trainer no Absolute Health Clube, em Arroios, e adora o que faz. 

Deixa um conselho: “É importante aceitarmo-nos e perceber que um processo tem etapas e fases. Temos de ultrapassar todos os degraus para chegar ao topo, e não vale a pena fazer tudo a correr. A pressa é inimiga da perfeição. É preciso concretizar e evoluir.”

Carregue na galeria para ver algumas imagens de Vanessa no culturismo.

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