Seis anos depois de criar o projeto The Trash Traveler, Andreas Noe decidiu ir mais longe. O biólogo molecular alemão, que vive desde 2017 em Portugal, acabou de lançar um novo jogo de tabuleiro em parceria com o duo Carolina Semrau e Augusto Lima, responsáveis pelo projeto de sustentabilidade Camera With No Name, e com o apoio de Rita Jesus e Hugo Marinho (que desenvolveram o manual); e a ilustradora Dani Medrano.
“Nos últimos seis anos, fizemos várias iniciativas ao longo da costa de Portugal, em que convidávamos as comunidades a unirem-se de forma criativa e divertida”, começa por contar à NiT Andreas, de 37 anos. “Sempre tivemos a ideia de criar um jogo que mostrasse a realidade de tudo que fizemos nos últimos anos.”
O “The Trash Travelers” foi apresentado oficialmente a 1 de agosto, no café Ponto 2, no Porto. O objetivo é transformar qualquer jogador numa ativista para proteger o oceano. Pode ser jogado sozinho ou com mais três amigos.
“Geralmente, os jogos são sempre um contra o outro, mas pensámos que, para salvar o oceano, precisamos de trabalhar juntos”, explica. “Por isso, ‘The Trash Travelers’ é cooperativo e apesar de cada jogador ter as próprias missões individuais, toda a gente tem de trabalhar em conjunto. Caso contrário, o oceano colapsa e perdemos todos.”
O jogo começa com a escolha das personagens: há cinco disponíveis, todas inspiradas nos criadores. No entanto, apesar de serem diferentes, todas têm o mesmo objetivo: percorrer um caminho com 40 passos até chegar ao topo de uma montanha.
Cada jogador retira uma carta para descobrir os vários objetivos que terão de ser superados. As personagens precisam de recolher os tipos de lixo mais comuns nas praias e em zonas como bosques e florestas — e que podem ser microplásticos, garrafas, cigarros, entre outros, que são representados também por pequenas cartas.
Sempre que completar um objetivo, terá a oportunidade de desbloquear um novo especialista (que vai auxiliar na próxima recolha de lixo) ou salvar um animal marinho. O primeiro jogador que completar todos os objetivos, vence o jogo.
Andreas revela que o novo projeto esteve em desenvolvimento durante dois anos. A parte mais desafiante foi “criar um jogo que fizesse sentido e que refletisse a realidade.” Os jogadores são confrontados com temas como a poluição plástica, a importância da economia circular e a necessidade de proteger os ecossistemas.
“Assim como acontece na realidade, o jogo começa com os jogadores a apanharem lixo, mas isso é apenas para mostrar o caminho que devem seguir”, aponta. “Se limparmos as praias num dia, no próximo estará exatamente igual. Temos de descobrir a origem do problema.”

Em outubro, o biólogo vai partir numa aventura de Lisboa ao Porto de bicicleta para promover o novo jogo em escolas e várias cidades do País, além de organizar atividades ligadas ao oceano pelo caminho. Os criadores têm também entrado em contacto com os munícipes para disponibilizar o jogo em escolas e associações, de forma a incentivar cada vez mais pessoas a cuidar do meio-ambiente.
“Quando estávamos a testar o jogo, no ano passado, estivemos em dez escolas. As crianças e os professores gostaram muito da experiência”.
O “The Trash Travelers” está à venda por 44,99€ e pode ser comprado online.
O início do The Trash Traveler
Andreas Noe começou a apanhar lixo em Portugal em 2019, dois anos depois de ter chegado da Alemanha. A NiT falou pela primeira vez com o biólogo no início de 2020, quando em apenas 117 dias já tinha recolhido quase 400 quilos de lixo, a maioria em território nacional.
“Aprofundei a minha comunhão com a natureza. Comecei a surfar mais, a estacionar a minha ‘casa’ em belas falésias e praias da zona de Lisboa. No entanto, em todos os lugares que estacionava havia lixo”, revelou.
Plásticos, vidros, latas, beatas de cigarro, papel higiénico, eram algumas das coisas que mais encontrava. Durante dois anos foi acumulando frustrações. “Não estava feliz com a situação, mas não fazia nada para a combater. Só pensava: ‘Caramba, tanto desperdício”. Sou vegetariano desde os quatro anos e sempre tive consciência do que comia e do que consumia, e não conseguia entender.”
Em 2019, participou no desafio mundial “Julho Sem Plástico”, um mês que o fez pensar e questionar ainda mais sobre o modelo de vida que seguimos: “O que andamos a fazer com o nosso planeta?”. Estas inquietações levaram-no, progressivamente, a adotar um estilo de vida mais consciente.
Mais tarde, em 2023, organizou em Portugal uma das maiores limpezas de beatas do mundo. Conseguiu juntar 1.400 voluntários que, em conjunto, recolheram 750 mil cigarros acumulados na Praça do Comércio, em Lisboa, em apenas uma semana.
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