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Bruno conheceu a Austrália à boleia de desconhecidos. Fez 30 mil quilómetros e correu perigo

O português, natural de Faro, já visitou cerca de 100 países. "Quanto mais viajo, mais valor dou a Portugal", confessa.

Visitou inúmeros parques naturais, esteve com os nativos e, por vezes, temeu pela própria vida. Bruno Barbosa, natural de Faro, fez uma viagem pela Austrália e, à boleia, percorreu mais de 15 mil quilómetros do país. “Já conheci muitos destinos e tinha chegado a vez da Austrália. Gosto de desafios, quis embarcar nesta aventura e, felizmente, consegui terminá-la”, conta à NiT.

“Desde miúdo e dos tempos da escola que sempre fui diferente dos outros, com ideias fora da caixa. Viajava muito com o meu pai e este bichinho das viagens está-me no sangue, nasceu praticamente comigo”, disse à NiT em 2023. Quando o pai morreu, tinha ele 21 anos, começou “a bater terreno sozinho” e com a mochila que tanto adora. “É a melhor coisa que tenho na vida e não a troco por nada deste mundo”.

Aos poucos, foi adicionando países à sua lista. Começou pela Europa e, quando deu por isso, já estava praticamente dentro deste mundo das viagens — e nunca mais quis sair. Chegou a fazer uma viagem de quatro meses pela América do Sul, também à boleia, onde foi roubado pela primeira (e única) vez na Argentina.

Agora com 36 anos, já conheceu mais de 100 destinos e, embora tenha estado em contacto com realidades diferentes, há algo que nunca mudou: continua a ser “anti táxis”, “anti hotéis de luxo” e prefere andar à boleia, de carro em carro, sem destino ou grandes planos. 

A odisseia pela Austrália começou em setembro do ano passado após ter apanhado um voo de Kuala Lumpur para Perth. Quando chegou, foi pedindo boleia até chegar a Darwin, uma cidade no norte. “Adapto-me sempre ao roteiro de quem me dá boleia e não escrevo nenhuma placa com o nome do destino”, explica.

Este percurso durou cerca de dois meses e levou-o à exaustão. Decidiu, então, que o melhor seria fazer uma pausa. Sem pensar duas vezes, embarcou num voo até Timor-Leste “para comer uma bifanazinha”. Depois disso, foi para o sudoeste asiático.

“Nunca tenho planos e, quando tenho, mudam rapidamente”, brinca. Quando estava na Coreia do Sul, decidiu que queria acabar de conhecer a Austrália, desafio que conseguiu concluir entre maio e junho. A 2 de julho, chegou a Portugal “completamente de rastos”.

A viagem foi sendo feita pela Highway 1, a autoestrada mais longa do mundo com 14.523 quilómetros de extensão. “Como ia visitando parques naturais, que levavam a desvios enormes, acabei por fazer mais de 15 mil”, explica.

Ao longo desta aventura passou por destinos como Queensland, “que é mais tropical”, Sydney, Melbourne, Adelaide, Brighton, Darwin, entre outros. Pelo caminho, foi conhecendo muitos portugueses que o ajudaram muito, quer fosse com dinheiro, trabalho ou casa. “Fiz muitas amizades novas.”

Manteve, claro, as regras que sempre tem: não pede boleia depois das 17 horas, por questões de segurança, e faz refeições económicas, principalmente massa com atum. Por norma, pernoitava em parques de campismo com água quente e WiFi, embora também tenha acampado sozinho “no meio dos bichos”.

 
 
 
 
 
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Por vezes, as noites eram a parte mais difícil. Recorda-se de ter pedido boleia numa “cidade muito pequena” e, quando chegou à Austrália do Sul, por volta das 22 horas, viu um grupo de construtores que trabalhava na estada. Perguntou-lhes se ali havia algum sítio para acampar, mas disseram-lhe que não existia nada do género. No entanto, um deles afirmou conhecer um sítio nas redondezas.

“É já ali”, disse-lhe antes de ter conduzido durante 30 quilómetros. “Deixou-me numa área de descanso no meio do nada com uma barraca que mais parecia uma paragem de autocarro e voltou para o trabalho. Era um sítio muito sinistro e já estava a ficar paranoico e a ouvir coisas nas ervas.”

Mesmo assim, decidiu montar ali a tenda, mas rapidamente percebeu que não ia conseguir dormir — especialmente após se ter lembrado de lhe contarem que muitas pessoas desaparecem na Austrália. “Não ligava muito a isso, mas naquele sítio em específico comecei a fazer muitos filmes na minha cabeça.”

Em vez de dormir, ficou no telemóvel durante uma hora, a responder aos amigos e familiares, e levou um susto quando ouviu um camião a parar ao seu lado. Quando pôs a cabeça de fora da tenda, viu dois homens e, já sem medo, apresentou-se e disse o que andava a fazer pelo país. “Eles disseram-me que iam para Adelaide e pedi-lhes boleia. Inicialmente recusaram porque tinham o camião cheio, mas pedi mais uma vezes e lá disseram que sim. Desmontei a tenda em três segundos de tão feliz que estava”, brinca 

Na primeira parte da viagem teve outro episódio marcante, quando estava na Austrália Ocidental. Deixado “no meio do nada”, caminhou até encontrar uma espécie de área de serviço onde aborígenes (os cidadãos nativos do país) reabasteciam o combustível. “Quando lhes disse que era de Portugal, ficaram muito contentes. Percebi que toda a gente tem muito carinho pelo nosso País”, comenta. Ficarão tão felizes por terem-no conhecido, que até lhe ofereceram estadia num camping com piscina incluída. No dia seguinte, pelas seis da manhã, levantou-se, fez-se “à pista” e encontrou-nos novamente no mesmo lugar. 

“Cumprimentaram-me felicíssimos e disseram que me conseguiam dar boleia durante 40 quilómetros”. Mais uma vez, estava num lugar sem nada à sua volta e, passadas algumas horas, ficou sem água. Para sobreviver, foi até um rio onde supostamente havia crocodilos, ferveu a água que apanhou para matar as bactérias e lá se conseguiu refrescar. “Estas são as melhores histórias com que fico desta viagem porque sempre adorei desafios”, confessa.

Agora que está em Portugal, mal pode esperar para chegar ao Algarve e mergulhar na Ria Formosa. “Não há presente melhor do que este. Quanto mais viajo, mais valor dou ao nosso País.”

Ainda nada é oficial, mas também já tem alguns planos para as próximas aventuras. “Gostava de dar a volta à Rússia em patins ou percorrer África à boleia.” No entanto, os próximos meses vão ser aproveitados para descansar. “Quero estabilizar um pouco porque há muitos anos que não passo um verão cá”.

Carregue na galeria para ver algumas fotografias da viagem de Bruno Barbosa pela Austrália.

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