Nova Iorque está cada vez mais portuguesa. Depois da abertura do Mundo Fantástico da Sardinha Portuguesa e de, em novembro de 2022, os famosos ecrãs da Times Square terem sido preenchidos com imagens de Portugal, agora há outra estrela gastronómica a brilhar na cidade que não dorme: a bifana.
Fernando Vaz, 31 anos, é o responsável do Mr. Bifana, projeto que tem marcado presença em eventos pontuais, entre bares e pop-ups, mas em breve terá um espaço físico próprio para apresentar as famosas bifanas cheias de molho.
Natural de Lisboa, Fernando começou a idealizar o projeto após algumas viagens aos Estados Unidos. A decisão final surgiu quando, a trabalhar como motorista de tuk-tuk em Lisboa, contactou com turistas norte-americanos.
“A cozinha tradicional portuguesa é severamente subvalorizada. Como guia turístico percebi que há um interesse cada vez maior dos norte-americanos pelo nosso País e pela nossa cultura. A maioria fica fascinado com qualquer prato que prove em Portugal e depois de visitar Nova Iorque algumas vezes percebi por quê”, afirma à NiT.
Em Nova Iorque há oferta abundante de sushi, tacos, pizza, hambúrgueres e pad thai. Mas, como salienta Fernando, não existe cozido à portuguesa, bacalhau com natas ou arroz de pato. “O que há é adaptado mercado nova-iorquino, o que deturpa os nossos sabores”, acrescenta.
Sem experiência em restauração, Fernando começou a refletir sobre o que poderia levar para os EUA que fosse tipicamente português e bem recebido pelos locais. A resposta surgiu naturalmente: a bifana. “Os americanos adoram comida grab and go na rua e veem as sandes como uma refeição principal. Bem, em Portugal não há sanduíche mais famosa do que a bifana”, explica.
O plano estava quase traçado. Faltava aprender a cozinhar, compreender o mercado nova-iorquino e definir a forma de apresentar o produto.
A paixão pelas viagens sempre acompanhou Fernando. Durante a licenciatura em Gestão, na Universidade Nova de Lisboa, fez um intercâmbio na Nova Zelândia em 2014. “Foi nessa altura que nasceu o bichinho de explorar o mundo”, recorda.
Pouco depois de terminar o curso, trabalhou quatro meses num quiosque em Lisboa para financiar um gap year. Com dois amigos, deu a volta ao mundo durante oito meses, quase sempre à boleia. Passaram por Sri Lanka, Myanmar, Laos, Austrália e Nova Zelândia, até alcançarem o destino final: o Alasca, nos EUA.
De regresso, inscreveu-se num curso de piloto de aviação civil, mas a pandemia interrompeu a carreira e obrigou-o a procurar outra área. “Em 2022 comprei um tuk tuk e tornei-me operador turístico em Lisboa”, conta.
Com o apoio de Pedro Cardoso, do Solar dos Presuntos, passou a guiar turistas pela cidade, sempre com uma paragem obrigatória nas Bifanas do Afonso. Convencia os norte-americanos a experimentar e registava as reações. Foi uma espécie de estudo de mercado sem sair da capital.
Depois de reunir feedback positivo e de mais umas quantas viagens a Nova Iorque, Fernando decidiu avançar. Pediu ajuda a Pedro Cardoso, para aprender técnicas de cozinha e desenvolver a receita. O segredo, garante, está “na atenção que damos ao pão, à carne e a alguns temperos”. “O fundamental é que seja tudo português”, reforça.
Seguiu-se a procura de fornecedores em Nova Iorque. “Percorri a cidade quase até Boston para encontrar o melhor pão para a bifana e consegui. O azeite e a carne também foram outro desafio. Mas depois de conhecer as comunidades portuguesas que vivem cá, consegui”, explica.
As primeiras bifanas foram servidas a amigos e foram bem recebidas. Com a sua ajuda, formou uma pequena equipa que hoje assegura a operação em bares e restaurantes, enquanto Fernando trata dos processos burocráticos para novo e maior investimento. “Eles têm feito pop-ups e vários bares e restaurantes onde dão a provar a bifana e tem sido um sucesso”, afirma.
Cada bifana custa 10,30 euros (12 dólares) fora de Manhattan e 12 euros (14 dólares) no bairro mais famoso da cidade. “A nossa bifana é quase uma refeição e o tempo de preparação ainda é longo. A carne fica a marinar durante umas horas antes de a cortarem bem fininha para absorver bem os sabores do molho. Depois é cozinhada lentamente em azeite português no tacho. Cada preparação serve cerca de 30 a 40 bifanas”, descreve.
As reações não tardaram. Os norte-americanos falam “na explosão de sabores”, enquanto os portugueses dizem que “sabe a casa”. Para Fernando Vaz, este “é o maior elogio”. “Confirma a minha vontade de continuar e deixar tudo para conseguir trazer a bifana para cá e conseguir um espaço físico, que será a nossa loja de bifanas”, conclui.