Assim que entrou na Lisnave, antigo estaleiro naval de Cacilhas, em Almada, Vasco Alves ficou impressionado com o tamanho da instalação. Dividido em vários edifícios — cada um deles destinado a um setor —, o espaço deixou de funcionar entre os anos de 1990 e 2000.
“Já tínhamos ouvido falar sobre a Lisnave, mas nunca fomos porque era mais longe”, começa por contar à NiT o jovem de 23 anos, natural de Cascais. “Até que metemos um vídeo sobre uma fábrica abandonada e houve mais de 100 comentários a falar sobre o estaleiro. Decidimos investigar um bocadinho, ver o que era e do que se tratava.”
Segundo a Câmara Municipal de Almada, a Lisnave foi construída a 11 de setembro de 1961 com o objetivo de “trazer para o País a tecnologia mais avançada para reforçar a experiência na construção e reparação naval, acumulada durante séculos, e assim poder competir no mercado internacional.”
Mais tarde, o espaço começou a operar um moderno estaleiro, que chegou a ser conhecido como um dos maiores do mundo nos anos 70). Tinha capacidade para receber enormes navios, que alimentavam o tráfego no Atlântico e no Mediterrâneo.
“É um ambiente brutal, tenso e cheio de memórias”, conta-nos Vasco. “Lá dentro, conseguimos ver tudo, as secretarias das pessoas, os papéis e os documentos. São vários edifícios e armazéns enormes, todos abandonados e em degradação.”
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O videomaker encontrou “várias salas cheias de papéis”, incluindo faturas “com mais de 20 anos” das embarcações que ali eram alojadas. “Vimos também algumas peças, ferramentas e maquinarias dos barcos”, acrescenta.
Além disso, num dos edifícios encontrou um “cemitério” de veículos antigos, sobretudo viaturas dos bombeiros, entre carrinhas e camiões. “Penso que até hoje, foi o sítio mais giro e com mais história que fui”, confessa. “Não há outro lugar em Portugal tão grande e com um ambiente tão tenso.”
O espaço encerrou por questões operacionais financeiras, relacionadas com atrasos nos pagamentos e a necessidade de reduzir o quadro de funcionários. Nesta altura, a empresa transferiu as atividades para os Estaleiros da Mitrena, em Setúbal.
Por outro lado, apesar de estar ao abandono, a parte exterior da Lisnave de Cacilhas continua a receber alguns eventos anuais. É o caso do Almada Extreme Sprint, uma competição de carros organizada pelo Clube de Motorismo de Setúbal em parceria com a autarquia. Os estaleiros contam também com vigilância 24 horas.
Leia também o artigo da NiT para recordar a história do Ondaparque, o parque aquático abandonado na Trafaria que Vasco também visitou.
Carregue na galeria para ver algumas fotografias da Lisnave de Cacilhas.